O paracetamol, também conhecido como acetaminofen ou acetaminofeno, é um dos fármacos mais indicados para tratamento de febre e/ou dor. Começou a ser usado em 1955, após os estudos de Julius Axelrod, com diferentes nomes comerciais, como Tylenol (EUA), Panadol (Reino Unido), Doliprane (França), Ben-u-ron (Portugal).
Apesar de serem de venda livre na maioria dos países, devemos ter cuidados. Muitos medicamentos para tosse, gripe, contém paracetamol e se a pessoa estiver usando vários fármacos simultaneamente pode ultrapassar a dose segura. Doses altas podem conduzir a falência aguda do fígado (quadro grave, com náuseas e vómitos, mal-estar, confusão mental, dores abdominais, tremores, icterícia). Também existem estudos sobre a segurança do paracetamol na gestação e primeira infância que mostram aumento do risco de transtornos do neurodesenvolvimento.
Por exemplo, o Estudo Nacional de Coorte de Nascimentos da Dinamarca acompanhou 64.322 crianças e mães para investigar a associação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e transtornos do espectro autista (TEA). Constatou-se que o uso pré-natal de paracetamol estava associado a um risco aumentado de TEA acompanhado de sintomas hipercinéticos, mas não a outros casos de TEA [1].
Os sintomas hipercinéticos no Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem se manifestar como movimentos corporais excessivos e repetitivos, inquietação, dificuldade em manter a atenção e comportamentos impulsivos. É importante ressaltar que nem todas as pessoas com TEA apresentam esses sintomas, e eles podem variar em intensidade e manifestação.
Uma meta-análise envolvendo 73.881 pares mãe-filho de seis coortes europeias indicou que crianças expostas pré-natalmente ao paracetamol tinham 19% mais probabilidade de apresentar sintomas limítrofes ou clínicos de TEA em comparação com crianças não expostas. A associação foi ligeiramente mais forte entre os meninos [2].
Uma revisão sistemática de 16 estudos, incluindo estudos de coorte e meta-análises, sugeriu uma associação entre o uso materno de paracetamol durante a gravidez e desfechos neurodesenvolvimentais adversos, incluindo TEA e TDAH. O uso prolongado e o aumento da dose foram associados a associações mais fortes [3]. Contudo, dois estudos de 2024 refutam esta associação e defendem que o risco é puramente genético [4][5].
Ainda precisamos de mais estudos, mas todo o cuidado é pouco, principalmente em famílias já com casos diagnosticados de TEA e também após o nascimento. Alguns geneticistas ainda criticam os estudos por não considerarem variações genéticas importantes para o risco de uso de fármacos, como o acetaminofen.
Uma pesquisa online com pais de 1.515 crianças constatou que a exposição pós-natal (após ao nascimento) ao paracetamol antes dos dois anos de idade estava associada ao TEA entre crianças do sexo masculino [6]. Outro estudo baseado em pesquisa constatou que o uso pós-natal de paracetamol estava associado a um risco aumentado de TEA [7].
É sempre importante discutir com o obstetra o uso de medicamentos na gestação. Cerca de 10% das mulheres graves têm febre no primeiro trimestre. A falta de controle aumenta o risco de defeitos congênitos, como fenda palatina e problemas cardíacos.
Por outro lado, não recomenda-se o uso de AINEs (anti-inflamatórios não esteroides), como aspirina e ibuprofeno, durante o terceiro trimestre da gravidez, pois esses medicamentos podem causar o fechamento prematuro de um vaso sanguíneo no feto. Assim, a escolha de antipiréticos e analgésicos deve ser feita com muita cautela para garantir a segurança para mãe e bebê.
O paracetamol ainda costuma ser o mais indicado pois tem um perfil mais seguro do que dipirona, ibuprofeno, aspirina, naproxeno e cetoprofeno. É muito importante que a mulher prepare-se para gravidez, garantindo as melhores condições de saúde possíveis para uma gestação saudável.
CONSULTA DE NUTRIÇÃO PARA PREPARO PARA A GESTAÇÃO
Referências
1) Z Liew et al. Maternal use of acetaminophen during pregnancy and risk of autism spectrum disorders in childhood: A Danish national birth cohort study. Autism research : official journal of the International Society for Autism Research (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26688372/
2) S Alemany et al. Prenatal and postnatal exposure to acetaminophen in relation to autism spectrum and attention-deficit and hyperactivity symptoms in childhood: Meta-analysis in six European population-based cohorts. European journal of epidemiology (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34046850/
3) FY Khan et al. A Systematic Review of the Link Between Autism Spectrum Disorder and Acetaminophen: A Mystery to Resolve. Cureus (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35989852/
4) P Damkier et al. Acetaminophen in Pregnancy and Attention-Deficit and Hyperactivity Disorder and Autism Spectrum Disorder. Obstetrics and gynecology (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39637384/
5) VH Alhqvist et al. Acetaminophen Use During Pregnancy and Children’s Risk of Autism, ADHD, and Intellectual Disability. JAMA (2024). doi:10.1001/jama.2024.3172
6) SS Bittker et al. Postnatal Acetaminophen and Potential Risk of Autism Spectrum Disorder among Males. Behavioral sciences (Basel, Switzerland) (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31906400/
7) SS Bittker et al. Acetaminophen, antibiotics, ear infection, breastfeeding, vitamin D drops, and autism: an epidemiological study. Neuropsychiatric disease and treatment (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29910617/