A microbiota intestinal tem um papel crescente e muito interessante nas alterações que ocorrem durante a menopausa, incluindo as ondas de calor (fogachos), que são um dos sintomas mais comuns e incômodos.
Relação entre microbiota intestinal e ondas de calor na menopausa
1. O que é microbiota intestinal?
A microbiota intestinal é o conjunto de trilhões de micro-organismos que vivem no intestino, incluindo bactérias, vírus, fungos e outros. Eles influenciam o sistema imunológico, metabolismo, produção de neurotransmissores e até a regulação hormonal.
2. Microbiota e metabolismo dos hormônios sexuais
A microbiota tem um papel importante no metabolismo dos esteroides sexuais, especialmente o estrogênio. Algumas bactérias possuem enzimas (como a β-glucuronidase) que ajudam a reciclar estrogênios no organismo, mantendo níveis hormonais mais estáveis. Com a menopausa e a queda natural do estrogênio, mudanças na microbiota podem agravar a baixa dos níveis desse hormônio.
Por outro lado, excesso de β-glucuronidase pode aumentar a reabsorção de toxinas e substâncias potencialmente nocivas, levando a:
Inflamação intestinal
Potencial maior risco de câncer, especialmente colorretal (porque algumas toxinas e carcinógenos são reativados)
Pode causar um desequilíbrio, favorecendo estados inflamatórios e problemas metabólicos.
Assim, o equilíbrio de variedade de bactérias intestinais é muito importante.
3. Inflamação e termorregulação
A disbiose (desequilíbrio da microbiota) pode aumentar a inflamação sistêmica. A inflamação crônica de baixo grau afeta o sistema nervoso central e as vias que regulam a temperatura corporal, podendo exacerbar as ondas de calor. Certos metabólitos produzidos pela microbiota influenciam a comunicação entre o intestino e o cérebro (axe intestino-cérebro), impactando o controle da temperatura.
4. Microbiota e produção de neurotransmissores
A microbiota produz neurotransmissores como serotonina e GABA, que afetam o humor e a regulação do calor corporal. Alterações nesses neurotransmissores podem piorar a sensação de calor e a irritabilidade comum nos fogachos.
5. Intervenções para melhorar a microbiota e aliviar ondas de calor
Probióticos e prebióticos: Podem ajudar a equilibrar a microbiota, reduzindo a inflamação e melhorando a metabolização hormonal.
Exercícios físicos: Melhoram a diversidade da microbiota e reduzem sintomas.
Evitar uso excessivo de antibióticos: Antibióticos pioram o equilíbrio microbiano.
Alimentação rica em fibras: Estimula o crescimento de bactérias benéficas.
Estudo de 2023 explorou a relação entre uma intervenção dietética e a melhora dos sintomas das ondas de calor (hot flashes) em mulheres pós-menopáusicas, investigando especialmente o papel potencial da microbiota intestinal nesse processo. As ondas de calor são um dos sintomas vasomotores mais comuns e desconfortáveis da pós-menopausa, frequentemente impactando negativamente a qualidade de vida dessas mulheres.
O estudo foi conduzido como uma análise exploratória, onde mulheres pós-menopáusicas com sintomas de ondas de calor foram submetidas a uma intervenção dietética por um período determinado. A dieta enfatizava alimentos com propriedades anti-inflamatórias e prebióticas, conhecidos por promoverem um microbioma intestinal saudável, como fibras, vegetais, frutas, e alimentos fermentados.
Os dados foram coletados antes e após a intervenção, incluindo:
Frequência e severidade dos sintomas de ondas de calor (através de diários e questionários específicos).
Amostras fecais para análise da microbiota intestinal, utilizando técnicas de sequenciamento genético para identificar alterações na diversidade e abundância bacteriana.
Parâmetros metabólicos e inflamatórios sistêmicos.
Características da dieta
Rica em fibras prebióticas: Incluiu alimentos como vegetais, frutas, legumes, grãos integrais e sementes, que fornecem fibras fermentáveis que alimentam as bactérias benéficas do intestino.
Alimentos fermentados: Como iogurte, kefir, chucrute, e kombucha, que contêm probióticos naturais, ajudando a aumentar a diversidade bacteriana.
Baixa em alimentos processados: Evitou ou reduziu alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares refinados, gorduras saturadas e aditivos, que podem prejudicar o equilíbrio do microbioma.
Enfoque em gorduras saudáveis: Incorporou fontes de gorduras insaturadas, como azeite de oliva, abacate e oleaginosas (castanhas e nozes), que possuem efeito anti-inflamatório.
Redução do consumo de carne vermelha e alimentos inflamatórios: A dieta restringiu carnes vermelhas e alimentos com potencial pró-inflamatório para favorecer um ambiente intestinal mais saudável.
Incluiu polifenóis: Presentes em frutas vermelhas, chá verde, cacau e outras plantas, que são compostos bioativos que beneficiam a microbiota e a saúde geral.
Padrão alimentar
Embora o estudo não tenha especificado um nome de dieta comercial (como mediterrânea ou DASH), a abordagem era similar a uma dieta baseada em plantas, anti-inflamatória e funcional para o microbioma, com ênfase na qualidade dos alimentos e diversidade alimentar.
Objetivo
O foco principal era criar um ambiente intestinal propício para o crescimento de bactérias benéficas produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), que têm efeitos anti-inflamatórios e podem ajudar a regular o sistema nervoso e hormonal, influenciando assim a frequência e intensidade das ondas de calor.
Resultados principais
Redução significativa nas ondas de calor: A maioria das participantes apresentou diminuição tanto na frequência quanto na severidade dos episódios.
Alterações na microbiota intestinal: Houve um aumento na diversidade microbiana e no percentual de bactérias associadas a um perfil anti-inflamatório, como bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), especialmente do gênero Faecalibacterium.
Correlação entre microbiota e sintomas: As mudanças na composição da microbiota foram correlacionadas com a melhora dos sintomas, sugerindo que a modulação do microbioma poderia influenciar positivamente os mecanismos fisiológicos envolvidos nas ondas de calor.
Indicativos de menor inflamação sistêmica: Marcadores inflamatórios tiveram tendência à redução, o que também pode contribuir para o alívio dos sintomas.
Discussão
Os autores discutem que as ondas de calor podem ser influenciadas por processos inflamatórios e metabólicos ligados ao envelhecimento e alterações hormonais. A microbiota intestinal desempenha papel fundamental na regulação do sistema imunológico e na produção de metabólitos que afetam a homeostase hormonal e vascular.
Assim, uma dieta que promova a saúde do microbioma pode representar uma abordagem não farmacológica promissora para aliviar os sintomas da menopausa, com vantagens por evitar efeitos colaterais de medicamentos hormonais.
Limitações
O estudo é exploratório, com amostra relativamente pequena.
Falta de grupo controle robusto para comparar diretamente os efeitos da dieta.
A necessidade de estudos longitudinais e randomizados para confirmar causalidade.
Conclusão
Esta análise sugere que intervenções dietéticas voltadas para a modulação da microbiota intestinal podem reduzir os sintomas de ondas de calor em mulheres pós-menopáusicas. O microbioma intestinal emerge como um possível mediador e alvo terapêutico, abrindo caminho para estratégias integrativas no manejo dos sintomas da menopausa.
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