Você já se viu comparando sua vida com a de outra pessoa? Mídias sociais, amigos, familiares ou até mesmo estranhos — frequentemente medimos nosso sucesso, felicidade ou valor em relação aos outros. Ninguém está imune a isso, especialmente se vivermos pregados à internet. As redes sociais amplificam comportamentos prejudiciais, como a comparação constante. Estudos mostram que observar as vidas aparentemente perfeitas de outras pessoas online pode provocar sentimentos de inadequação e insatisfação pessoal.
Essa dinâmica cria um paradoxo: estamos mais conectados do que nunca, mas nos sentimos cada vez mais isolados e inseguros. Mas por que certas comparações desencadeiam respostas emocionais? Psicologicamente, tudo se resume ao ego e suas cinco principais identificações:
Posses — Definir-se pelo que você possui ou ganha
Conquistas — Medir seu valor por meio de suas realizações.
Papéis — Identificar-se com papéis sociais como ser pai, parceiro ou profissional
Aparência física — Atribuir autoestima à sua aparência.
Crenças — Apegar-se firmemente às suas ideias e ideologias.
Quando essas identificações são vistas como ameaçadas, o ego reage, desencadeando sentimentos de insegurança, ciúme ou ansiedade. Esses gatilhos são sinais — oportunidades para refletir sobre quais partes da sua identidade você atribuiu seu valor.
O ego e o cérebro: a rede do modo padrão
O ego está profundamente conectado a uma parte do cérebro conhecida como a rede do modo padrão (RMP). Esta é responsável pelos pensamentos autorreferenciais — as histórias que contamos a nós mesmos sobre quem somos. Ela fica ativa quando não estamos focados em uma tarefa, geralmente levando à ruminação e comparação.
Quando nos comparamos com os outros, a rede do modo padrão se acende, reforçando identificações motivadas pelo ego. Isso pode resultar em sensação de estar preso em padrões de pensamento negativos.
Ao diminuir a atividade da rede do modo padrão, a meditação e a prática de yoga ajuda a interromper as narrativas rígidas do ego, promovendo um pensamento mais flexível e resiliência emocional. Em vez de reagir aos gatilhos, você começa a observá-los. Você sai de suas histórias habituais e cria espaço para o crescimento.
O que é a Rede do Modo Padrão?
A RMP é um conjunto de regiões cerebrais que inclui:
Córtex pré-frontal medial: Envolvido em pensamentos autorreferenciais, como a ideia de "quem eu sou".
Córtex cingulado posterior: Associado à recordação do passado e projeção do futuro.
Hipocampo: Envolvido em memórias autobiográficas.
Essa rede está ativa quando estamos descansando mentalmente, sem uma tarefa específica, e tende a gerar:
Ruminação: Pensamentos repetitivos e, muitas vezes, negativos.
Comparações sociais: Avaliação de nós mesmos em relação aos outros.
Narrativas autorreferenciais: Histórias que criamos sobre nossa identidade e experiências.
Redefinindo a autoestima
Libertar-se das armadilhas de identidade e gatilhos emocionais requer redefinir como percebemos nossa autoestima. A verdadeira autoestima não está vinculada a fatores externos como posses, conquistas ou papéis sociais. Ela vem de dentro.
Como a Meditação Interage com a RMP?
A prática meditativa tem mostrado efeitos significativos na redução da atividade da RMP, especialmente em estados como:
Atenção Plena (Mindfulness):
Quando você se concentra no momento presente (respiração, corpo ou sensações), a RMP tende a desativar, diminuindo os pensamentos autorreferenciais.
Meditação de Concentração:
Focar em um objeto, mantra ou som específico reduz o tempo gasto em pensamentos de "eu" e ativa áreas cerebrais associadas à atenção.
Meditação de Compaixão ou Amor Bondoso (Metta):
Redireciona a atenção para os outros, deslocando o foco do "eu", o que também pode reduzir a ruminação.
Estados Não Dualistas:
Em práticas mais avançadas, como meditação transcendental ou dzogchen, o praticante experimenta uma sensação de "dissolução do ego", interrompendo a narrativa constante da RMP.
Feche os olhos e acompanhe sua respiração. Quando um pensamento vier, rotule-o: sensação, emoção, fantasia, ansiedade, julgamento, lembrança, planejamento. Ou simplesmente: “pensando”, “sentindo”, “lembrando”, “preocupando-me”, “fantasiando”. E volte à meditação. Se vier uma emoção forte: tristeza, raiva, frustração, culpa, tente voltar à respiração enquanto:
Pratica a autocompaixão — trate-se com gentileza. Reconheça a emoção, a verdade de que todos lutam e seu valor não é determinado pela validação externa. Volte à respiração.
Desafie as narrativas do ego — quando notar pensamentos ou comparações autocríticas, pergunte-se: isso é verdade? Quem eu seria sem essa história? Isso cria espaço para crenças mais fortalecedoras. E volte à respiração.
Foco nos valores — em vez de perseguir validação externa, alinhe suas ações com seus valores essenciais. O que realmente importa para você? Viver em alinhamento com seus valores constrói autoestima autêntica. Foque em valores elevados, como amor, honestidade, resiliência, paz interior, generosidade. E volte à respiração.
Abrace o crescimento — os gatilhos são oportunidades de crescimento. Em vez de evitar o desconforto, sinta-o, veja-o como uma chance de aprender mais sobre si mesmo e evoluir. A meditação nem sempre é fácil, algumas pessoas choram, mas é uma oportunidade de crescimento e de vivência no presente. Volte sempre à respiração.
Benefícios de Reduzir a Atividade da RMP na Meditação
Menor ruminação:
Reduz a tendência de ficar preso em pensamentos repetitivos, muitas vezes relacionados a arrependimentos passados ou preocupações futuras.
Aumento do bem-estar:
Diminui a identificação com pensamentos negativos, favorecendo uma percepção mais equilibrada de si mesmo.
Maior presença:
A prática regular reforça a habilidade de estar no "aqui e agora", promovendo clareza e calma.
Dissolução do ego:
A redução da atividade da RMP facilita momentos de experiência de "não-eu", onde a pessoa se percebe como parte de algo maior.
Embora a meditação ajude a "dissolver" a identificação com o ego, isso não significa eliminar sua função. O ego, em um nível saudável, é necessário para navegar no mundo. A meditação permite observar o ego sem ser dominado por ele, promovendo um senso de "eu" mais flexível e compassivo.
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