Por que mulheres na menopausa sentem mais dor?

O estrogênio exerce um papel crucial na regulação do sistema serotoninérgico, influenciando a síntese, degradação e a expressão de receptores de serotonina. Estudos apontam que suas alterações podem impactar significativamente a modulação da dor e outras condições relacionadas à serotonina, como enxaquecas e a síndrome do intestino irritável na perimenopausa e menopausa, períodos de queda de estrogênio.

Estrogênio e Degradação da Serotonina

As monoamina oxidases (MAO) A e B são as principais enzimas envolvidas na degradação da serotonina. Um experimento indicou que a expressão gênica da MAO-A, a principal enzima no rafe dorsal e em alguns núcleos hipotalâmicos, foi reduzida em grupos tratados com estrogênio em comparação com controles. A expressão da MAO-B também diminuiu nos núcleos hipotalâmicos dos grupos de tratamento, sugerindo um aumento no tônus serotoninérgico em presença de estrogênio. Por isto, quando há possibilidade, a reposição hormonal é super benéfica para que as mulheres possam envelhecer bem.

Modulação dos Receptores de Serotonina pelo Estrogênio

Os receptores 5-HT1A regulam a liberação e síntese de serotonina. Estudos mostraram que o mRNA desses receptores diminui no rafe dorsal de macacos tratados com hormônios ovarianos. Além disso, exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET) em mulheres na pós-menopausa revelaram um aumento de 21% na ligação da altanserina (ligante seletivo do receptor 5-HT2A) quando tratadas com estrogênio transdérmico e progesterona micronizada.

Em primatas não humanos e humanos, estruturas como o núcleo do rafe, córtex cingulado, ínsula, córtex pré-frontal e amígdala apresentam alta densidade de receptores 5-HT1A, influenciando a modulação da dor. O receptor 5-HT1A imita os efeitos antinociceptivos da serotonina de maneira não seletiva, enquanto o receptor 5-HT1B age de forma seletiva na modulação da dor. Outros receptores, como 5-HT2, 5-HT3 e 5-HT7, também participam desse processo, mas suas funções exatas ainda necessitam de mais investigações.

Dor na perimenopausa e menopausa

A dor pode aumentar na perimenopausa e menopausa devido a uma série de fatores fisiológicos que ocorrem com as mudanças hormonais do corpo feminino. A principal razão é a queda nos níveis de estrogênio, que afeta diversos sistemas do corpo. Aqui estão alguns motivos pelos quais a dor pode intensificar nesse período:

  1. Mudanças hormonais: A diminuição dos níveis de estrogênio e progesterona pode causar uma série de sintomas, incluindo aumento da sensibilidade à dor. O estrogênio tem um efeito modulador sobre os neurotransmissores e pode atuar diretamente na percepção da dor, por isso, quando seus níveis caem, muitas mulheres relatam dor mais intensa.

  2. Osteoporose: Durante a menopausa, a perda óssea pode acelerar devido à queda nos níveis de estrogênio, aumentando o risco de osteoporose. Isso pode resultar em dores nas articulações e ossos, especialmente nas costas e quadris.

  3. Alterações musculoesqueléticas: A queda de estrogênio também pode afetar os músculos e ligamentos, tornando-os mais propensos a lesões e dores. Além disso, a mudança no metabolismo e na distribuição de gordura pode levar a desconfortos musculares e articulares.

  4. Alterações no sono: A menopausa e a perimenopausa podem causar distúrbios no sono devido a sintomas como suores noturnos e insônia. A falta de sono adequado pode aumentar a percepção de dor, tornando o corpo mais sensível ao desconforto.

  5. Alterações emocionais e psicológicas: O estresse, a ansiedade e a depressão são comuns durante esse período de mudanças hormonais. Esses fatores emocionais podem aumentar a sensibilidade à dor, já que o sistema nervoso central se torna mais reativo.

  6. Síndrome de dor crônica: Mulheres na menopausa podem ser mais propensas a desenvolver condições como fibromialgia, uma síndrome caracterizada por dor muscular generalizada e sensibilidade em pontos específicos do corpo.

Estrogênio e Modulação da Dor

Estudos indicam que os níveis elevados de estrogênio aumentam o tônus serotoninérgico, mas a duração da exposição ao hormônio pode influenciar esse efeito. A terapia hormonal prolongada pode reduzir o tônus serotoninérgico, dependendo do contexto biológico e do tempo de administração.

Os efeitos do estrogênio na modulação da dor podem ocorrer por meio de receptores genômicos e não genômicos. Evidências mostram que receptores não genômicos, como GPR30 (receptor acoplado à proteína G), estão envolvidos nesse processo e podem provocar alterações na percepção da dor em apenas 10 minutos.

Interação Entre Receptores de Estrogênio e Serotonina

A interação entre os receptores de estrogênio e serotonina desempenha um papel importante na modulação da dor. O receptor 5-HT2A parece ser fundamental nesse processo. Estudos sugerem que antagonistas desse receptor podem reduzir o efeito analgésico do estrogênio.

Quando os níveis de estrogênio estão altos:

  • O receptor ERβ aumenta a ativação do 5-HT2A;

  • O receptor ERα aumenta a ativação do 5-HT1A via fator nuclear kappa B (NFkB);

  • A ativação do 5-HT2A estimula a liberação intracelular de cálcio (Ca) e ativa a proteína quinase C (PKC), promovendo feedback negativo sobre os 5-HT1A;

  • Isso leva a uma menor quantidade de autorreceptores 5-HT1A, resultando em maior concentração de serotonina e efeitos na vasodilatação.

Essas alterações na serotonina podem estar associadas a condições como enxaqueca e outros tipos de dores de cabeça.

Relação Entre Serotonina e Doenças Associadas

A serotonina desempenha um papel fundamental na fisiopatologia de diversas condições, incluindo:

  • Síndrome do Intestino Irritável (SII);

  • Enxaquecas;

  • Dores de cabeça não enxaquecosas.

A modulação da serotonina é um dos principais alvos terapêuticos para essas condições, sendo um foco de pesquisas recentes. Além da reposição hormonal, a nutrição adequada é fundamental para o aumento da serotonina.

Alimentos que aumentam a serotonina

A serotonina é produzida a partir de um aminoácido chamado triptofano, que deve ser ingerido através da alimentação. Alguns alimentos podem ajudar a aumentar os níveis de serotonina porque contêm triptofano ou nutrientes que favorecem a sua produção. Alguns exemplos:

  • Alimentos ricos em triptofano:

    • Peru, frango e peixe

    • Ovos

    • Queijo

    • Nozes, sementes (como abóbora e girassol)

    • Bananas

    • Soja e derivados

    • Aveia

    • Chocolate amargo (com moderação)

  • Alimentos ricos em vitamina B6 (que ajuda na conversão do triptofano em serotonina):

    • Abacate

    • Batata-doce

    • Espinafre

    • Frango

    • Atum

  • Alimentos ricos em magnésio (que também auxilia na síntese de serotonina):

    • Amêndoas, castanhas e nozes

    • Folhas verdes escuras (como espinafre e couve)

    • Leguminosas (feijão, lentilha)

Suplementação para aumentar a serotonina

  • Triptofano: O triptofano é o precursor direto da serotonina, então a suplementação com triptofano pode ser útil. Em alguns casos, isso pode ser prescrito por um profissional de saúde, especialmente se a alimentação não for suficiente para alcançar os níveis ideais.

  • 5-HTP (5-Hidroxitriptofano): O 5-HTP é um aminoácido que é convertido diretamente em serotonina no corpo. É um suplemento popular para melhorar o humor e a qualidade do sono. Porém, deve ser usado com cautela e, preferencialmente, sob supervisão médica, pois pode interagir com medicamentos, como os antidepressivos.

  • Vitamina B6: A vitamina B6 é importante na conversão do triptofano em serotonina, então a suplementação de B6 pode ser útil para algumas pessoas, especialmente se houver deficiência dessa vitamina.

  • Vitamina D: A deficiência de vitamina D está associada a distúrbios do humor e níveis baixos de serotonina. A suplementação de vitamina D pode ser benéfica, especialmente em regiões com pouca luz solar.

  • Magnésio: O magnésio tem um papel na regulação dos neurotransmissores e pode ajudar a melhorar o humor. A suplementação pode ser útil em casos de deficiência.

A atividade física, a prática de yoga e meditação, descanso e a exposição solar também contribuem para o aumento da serotonina. Cuide-se como um todo! Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/