Os 3 ritmos biológicos

Os ritmos biológicos, conhecidos como ritmos circadianos, infradianos e ultradianos, referem-se a padrões cíclicos de variação física, mental e comportamental que ocorrem em organismos vivos. Esses ritmos estão intrinsecamente ligados a diversos processos fisiológicos e podem influenciar significativamente a saúde e o bem-estar das pessoas. Vou explicar um pouco sobre cada um desses ritmos e como eles afetam a saúde:

1. Ritmos Circadianos (24 horas)

Os ritmos circadianos têm um ciclo de cerca de 24 horas e são os mais conhecidos. Eles são controlados por um "relógio biológico" localizado no núcleo supraquiasmático do cérebro, que responde principalmente à luz e à escuridão. Esses ritmos afetam muitos processos corporais, como:

  • Ciclo sono-vigília: O ritmo circadiano regula quando sentimos sono e quando estamos alertas. A exposição à luz (especialmente luz azul) tem um papel importante nesse processo.

  • Temperatura corporal: A temperatura corporal tende a ser mais baixa durante a noite e mais alta ao longo do dia.

  • Liberação de hormônios: Como o cortisol (hormônio do estresse) e a melatonina (hormônio do sono), ambos variam ao longo do dia.

Impacto na saúde: Quando o ritmo circadiano é desregulado, como em casos de trabalho noturno, jet lag ou distúrbios do sono, pode haver um aumento no risco de doenças como distúrbios do sono, depressão, problemas metabólicos (como obesidade e diabetes tipo 2) e doenças cardiovasculares.

2. Ritmos Infradianos (Ciclos maiores que 24 horas)

Os ritmos infradianos têm ciclos que duram mais de 24 horas. Exemplos incluem:

  • Ciclo menstrual: O ciclo menstrual da mulher, com duração média de 28 dias, é um exemplo clássico de ritmo infradiano.

  • Oscilações sazonais: Mudanças de humor ou padrões de atividade que podem ocorrer em diferentes épocas do ano (como a transtorno afetivo sazonal - TAF).

Impacto na saúde: O desajuste de ritmos infradianos, como o ciclo menstrual irregular ou a falta de exposição adequada à luz solar no inverno, pode afetar a saúde emocional, reprodutiva e mental, levando a problemas como síndrome pré-menstrual (SPM), depressão sazonal, e dificuldades de fertilidade.

3. Ritmos Ultradianos (Menos de 24 horas)

Os ritmos ultradianos têm ciclos mais curtos que 24 horas. Um exemplo bem conhecido é o ciclo sono-vigília ultradiano, que dura cerca de 90 minutos e é observado tanto no sono quanto na vigília. Outros exemplos incluem ciclos de atividade e descanso durante o dia.

  • Ciclo de atenção e desempenho: Nossos níveis de energia e concentração oscilam em intervalos de aproximadamente 90 minutos, sendo seguidos por breves períodos de baixa energia.

  • Variação no metabolismo: Os processos digestivos, por exemplo, têm ciclos ultradianos que influenciam a forma como o corpo processa alimentos em períodos curtos.

Impacto na saúde: A falta de descanso adequado durante esses ciclos ultradianos pode resultar em fadiga mental, diminuição do foco e maior stress. Estudos sugerem que dividir o tempo de trabalho ou estudo em intervalos regulares (como a técnica Pomodoro) pode ajudar a melhorar a produtividade e reduzir a fadiga.

Influência na Saúde e Bem-Estar:

  • Sono e Desempenho Cognitivo: O desajuste de ritmos circadianos (por exemplo, trabalhando à noite ou viajando através de fusos horários) pode causar fadiga, diminuição da concentração e até perda de memória.

  • Sistema Imunológico: Ritmos biológicos desregulados podem afetar negativamente o sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a doenças.

  • Saúde Mental: Desregulações circadianas estão ligadas a transtornos como depressão e ansiedade, e a exposição à luz natural tem um impacto positivo no humor e na produção de serotonina.

  • Metabolismo e Peso Corporal: Ritmos biológicos também influenciam o metabolismo. O desajuste circadiano pode alterar a capacidade do corpo de processar alimentos e regular o açúcar no sangue, contribuindo para o ganho de peso e a obesidade.

O cronotipo determina os ritmos biológicos

O cronotipo é o termo utilizado para descrever a tendência natural de um organismo em ser mais ativo em determinados horários do dia, ou seja, ele reflete a preferência por horários específicos para acordar, dormir e realizar atividades ao longo do dia. Por exemplo, morcegos, gatos e corujas tem cronotipo noturno, enquanto humanos, macacos, cães possuem preferência diurna.

Como o Cronotipo Afeta os Ritmos Biológicos?

  1. Ritmo Circadiano e o Relógio Biológico: O cronotipo está diretamente ligado ao relógio biológico do corpo, que regula os ritmos circadianos. Através desse relógio, que é controlado pelo núcleo supraquiasmático do cérebro, o corpo ajusta as funções biológicas ao ciclo de 24 horas de luz e escuridão.

    • Indivíduos matutinos (lark ou "pessoa da manhã"): Essas pessoas têm uma tendência natural a acordar cedo e a se sentir mais alertas e produtivas durante as primeiras horas da manhã. Seus ritmos biológicos se alinham de maneira que suas picos de energia e concentração acontecem no início do dia. Isso significa que a produção de cortisol (hormônio relacionado ao despertar e energia) tende a ser mais elevada durante a manhã, e a produção de melatonina (hormônio do sono) diminui mais cedo. Por isto, pelas 17h esta pessoa já está pensando em parar de trabalhar.

    • Indivíduos vespertinos (owl ou "pessoa da noite"): Esses indivíduos tendem a ser mais ativos à noite, com picos de energia e atenção ocorrendo mais tarde no dia ou à noite. Se pudesse essa pessoa acordaria sempre após às 10h da manhã e não se importariam em trabalhar até 21h. Seu relógio biológico é ajustado para ter uma liberação mais tardia de melatonina e uma produção de cortisol que ocorre mais tarde, fazendo com que se sintam mais dispostos à medida que a noite avança.

    • Indivíduos intermediários: Algumas pessoas não se encaixam completamente nos grupos matutinos ou vespertinos e têm uma preferência por horários mais equilibrados, acordando e se sentindo produtivos em horários que variam entre manhã e tarde. Estas pessoas tem pico de energia entre 12h e 18h.

  2. Genética e Cronotipo: O cronotipo tem uma base genética significativa, o que significa que a tendência de ser matutino ou vespertino pode ser herdada de seus pais. Certos genes estão envolvidos no controle do relógio biológico, influenciando quando o corpo sente sono ou quando ele está mais energizado. Estudos genéticos sugerem que as diferenças no cronotipo podem ser explicadas por variações em genes que afetam a produção de melatonina, entre outros.

  3. Influência do Ambiente e da Exposição à Luz: O ambiente também tem um papel importante na formação e no ajuste do cronotipo. A exposição à luz é um dos fatores mais poderosos que podem afetar o cronotipo. A luz natural, especialmente a luz azul (como a luz do sol), tem a capacidade de alterar a produção de melatonina e o funcionamento do relógio biológico. A falta de luz solar pela manhã ou a exposição a luzes artificiais à noite pode deslocar o cronotipo para um perfil mais vespertino.

  4. Adaptação ao Ritmo Social: Embora o cronotipo seja influenciado principalmente por fatores biológicos, as demandas sociais e culturais também podem moldar como uma pessoa vivencia seus ritmos biológicos. A sociedade, por exemplo, costuma exigir que as pessoas acordem e realizem atividades em horários fixos (geralmente entre 7h e 9h da manhã), o que pode forçar pessoas com cronotipo vespertino a ajustarem seus ritmos internos ao ritmo social, podendo causar desconforto ou dificuldades para se concentrar e dormir.

  5. Impacto na Saúde e Bem-Estar: O cronotipo tem implicações importantes para a saúde. Por exemplo:

    • Desajustes no cronotipo e saúde mental: Pessoas com cronotipo vespertino (noite) podem ter mais dificuldades em se adaptar ao horário social, o que pode resultar em distúrbios do sono, fadiga e até aumentar o risco de desenvolver problemas como depressão e ansiedade.

    • Rendimentos cognitivos e físicos: Se o cronotipo de uma pessoa não está alinhado com o horário do trabalho ou estudos, ela pode não ser capaz de atingir seu pico máximo de desempenho. Um "lark" pode ser mais produtivo pela manhã, enquanto uma "owl" pode ter um desempenho melhor à noite.

    • Saúde metabólica: Desajustes entre o cronotipo e os horários sociais também podem afetar a regulação do metabolismo e aumentar o risco de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2, pois os ritmos biológicos influenciam a produção de insulina e o apetite.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/