Assim como a pele recobre nosso corpo, temos estruturas internas protetoras que incluem a parede intestinal interna, a parede vaginal interna, a barreira hematoencefálica. Tudo parece muito distante, mas na verdade, a qualidade de cada estrutura influencia-se mutualmente.
A mucosa interna do sistema digestiva pode ser pensada como nossa "pele interna". Começa na boca e estende-se pelo sistema digestivo até o ânus. Temos também a pele interna de passagens como a vagina e as narinas, que compartilham características similares. Por exemplo, o tecido interno da boca é quase idêntico ao da vagina. Assim, quando uma dessas barreiras fica permeável, sintomas físicos e emocionais podem surgir.
Problemas como intestino ou cérebro permeável podem ser sutis, mas quando a permeabilidade afeta a vagina ou o trato urinário, o impacto físico e emocional é imediato. Esses sistemas estão profundamente conectados, formando o eixo intestino-cérebro-vagina. Problemas crônicos em um órgão podem influenciar os outros devido ao equilíbrio do microbioma, que desempenha um papel fundamental.
A Permeabilidade Vaginal e a Imunidade
A parede vaginal é altamente porosa e quatro vezes mais absorvente que a pele externa Permite a passagem de pequenas moléculas de toxinas, medicamentos e vírus para a corrente sanguínea. Apesar disso, a resposta imunológica vaginal é menos robusta do que a intestinal, variando com fatores como ciclos menstruais e mudanças hormonais ao longo da vida.
O Microbioma Vaginal: Guardião do Equilíbrio
Com mais de 100 cepas de bactérias e fungos, o microbioma vaginal é essencial para manter o pH ácido (entre 3,8 e 4,5), impedindo o crescimento de organismos nocivos. O Lactobacillus, a cepa dominante, produz ácido láctico e bacteriocinas, atuando como uma defesa natural contra germes. Disrupções como o uso de antibióticos podem desequilibrar esse ambiente, favorecendo o crescimento de leveduras como a cândida.
Conexão Intestino-Vagina: Comunicação Microbiana
Os microbiomas do intestino e da vagina interagem constantemente, trocando sinais químicos (quorum sensing) e influenciando mutuamente suas populações bacterianas. Essa comunicação pode ser positiva ou negativa, dependendo do estado de saúde do microbioma intestinal. A migração de bactérias do intestino para a vagina por meio do muco também influencia essa relação.
Fatores de Risco e Estratégias de Cuidado
Estresse, diabetes descontrolado, gravidez, uso de DIUs, pílulas anticoncepcionais e antibióticos podem perturbar o microbioma vaginal. Práticas comuns, como o uso de sabonetes perfumados e duchas, frequentemente agravam os problemas ao invés de resolvê-los. Para manter uma vagina saudável, é essencial preservar o equilíbrio de lactobacilos e evitar intervenções desnecessárias.
Dicas Práticas
Evite Duchas e Sabonetes Perfumados: Eles alteram o pH vaginal e matam bactérias boas.
Use Probióticos Específicos: Após tratamentos com antibióticos, probióticos para saúde íntima ajudam a restaurar o equilíbrio. Mesmo probióticos orais podem influenciar positivamente a microbiota vaginal.
O Lactobacillus reuteri é conhecido por ajudar a restaurar o equilíbrio da microbiota vaginal e reduzir a incidência de infecções vaginais, como candidíase. Ele também pode ajudar na redução da inflamação e melhorar a resposta imunológica.
O Lactobacillus rhamnosus GR1 pode ajudar a restaurar a acidez vaginal e inibir o crescimento de organismos patogênicos.
O Lactobacillus acidophilus é um dos probióticos mais estudados e usados para equilibrar a microbiota vaginal. Ele ajuda a manter a acidez vaginal, criando um ambiente hostil para organismos nocivos.
Embora seja mais conhecido por seu papel na saúde intestinal, o Bifidobacterium bifidum também pode ser benéfico para a microbiota vaginal, ajudando na prevenção de infecções e promovendo o equilíbrio da flora vaginal.
O Saccharomyces boulardii pode ajudar a regular o crescimento de leveduras patogênicas. Este probiótico é uma levedura que pode ser útil em casos de desequilíbrio na microbiota vaginal causado por infecções fúngicas, como a candidíase.
Monitore Fatores de Estilo de Vida: Gerencie o estresse e cuide da alimentação para preservar o equilíbrio do microbioma. Tonificar o nervo vago ajuda na redução do estresse e na melhoria da qualidade da parede intestinal e vaginal.
A respiração parassimpática é uma técnica simples para aliviar o estresse.
Inspire pelo nariz, enchendo a barriga, enquanto conta até 4.
Prenda a respiração por 7 segundos.
Expire lentamente pela boca contando até 8.
Repita o ciclo até sentir-se mais calmo.
Vibração vocal: Ative as cordas vocais para estimular o VN, promovendo calma e reduzindo a frequência cardíaca. Técnicas
Cantar o mantra "OM".
Cantarolar, gargarejar ou cantar suas músicas favoritas.
Acupuntura. A aplicação de agulhas em pontos específicos da cabeça e pescoço pode tonificar o VN, trazendo benefícios para o relaxamento e equilíbrio emocional.
Yoga. Posturas que abrem o peito ajudam a melhorar o tônus vagal e aumentam a confiança.
Massagem. Massagens reflexológicas nos pés ou no pescoço ajudam a estimular o VN e reduzir a pressão arterial.
Riso. Rir, especialmente com pessoas queridas, ativa o VN, libera hormônios de bem-estar e contribui para um microbioma saudável.
Alimentação saudável. Alimentos ricos em nutrientes que fortalecem o VN incluem:
Ômega-3: Peixes, nozes, sementes e óleos saudáveis.
Zinco: Vegetais, ostras, nozes e sementes.
Probióticos: Iogurte e alimentos fermentados.
Sexo. A estimulação vaginal durante o sexo ou com brinquedos pode fortalecer o VN e promover bem-estar. Além disso, orgasmos ativam o sistema nervoso, trazendo múltiplos benefícios.
O Cheiro Natural da Vagina
O cheiro natural da vagina não é um problema, mas sim um indicador de saúde. Ele pode variar de acordo com o ciclo menstrual, estresse e até mesmo após atividades físicas. Já um cheiro forte ou desagradável pode sinalizar infecções ou desequilíbrios que devem ser tratados por um ginecologista, e não mascarados com perfumes ou duchas, que podem agravar o problema.
O corrimento vaginal é muitas vezes erroneamente associado à falta de higiene, mas é uma parte essencial do funcionamento saudável da vagina. Ele age como um "autolimpante", eliminando células mortas e mantendo o ambiente vaginal equilibrado. Evite produtos químicos e valorize roupas confortáveis e que permitam a respiração da pele. Trocar roupas úmidas rapidamente pode prevenir infecções.
Infecções do Trato Urinário (ITU)
As ITUs são comuns em mulheres devido à proximidade anatômica entre a uretra e o ânus. Embora o cuidado com a higiene e a ingestão de líquidos ajudem, essas infecções podem ocorrer mesmo em quem adota hábitos saudáveis.
Sinais de alerta: Ardor ao urinar, sensação de urgência constante e urina turva ou com sangue são motivos para buscar tratamento médico imediato. Apenas antibióticos adequados resolvem uma ITU.
Para evitar infecções vaginais e do trato urinário fortaleça o sistema imunológico. Certos hábitos de vida e escolhas alimentares podem enfraquecer o sistema imunológico. Reduzir o consumo de álcool, açúcar, gorduras trans e alimentos processados ajuda a manter a imunidade. Além disso, é importante manter um equilíbrio nos exercícios físicos. Atividades de baixo impacto, como caminhadas e yoga, ajudam a fortalecer o sistema imunológico e a equilibrar o intestino.
Alimentos ricos em vitaminas, minerais e proteínas magras fortalecem a produção de glóbulos brancos e anticorpos. Algumas opções nutritivas incluem arroz integral, frutas cítricas, vegetais verdes, peixes selvagens e óleos saudáveis, como o de linhaça e azeite de oliva.
GALT: o sistema imune do intestino
O tecido linfoide associado ao intestino (GALT) desempenha funções vitais no corpo, como a absorção de nutrientes e proteção contra toxinas e germes. Uma camada de muco no intestino ajuda na digestão e mantém a saúde intestinal. Dietas ricas em gorduras e açúcares simples podem prejudicar a função do GALT, tornando-o mais vulnerável a doenças e inflamações. Para fortalecer o GALT, é recomendado o consumo de alimentos ricos em fibras, como vegetais e grãos integrais.
VALT: o sistema imune da vagina e vulva
O tecido linfoide associado à vulva e vagina (VALT) tem um papel igualmente importante na proteção do corpo, especialmente contra infecções fúngicas e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Durante a ovulação, o muco cervical facilita a fertilização, enquanto também oferece proteção contra patógenos. O VALT é altamente vulnerável à degradação por fatores como estresse e desequilíbrio alimentar, sendo essencial manter uma dieta equilibrada para sua boa saúde.
Quando há desregulação do GALT e VALT pela má nutrição ou alteração da microbiota, a parte hormonal e a neurotransmissão acabam sendo afetadas. O microbioma intestinal desempenha um papel crucial na regulação hormonal. As bactérias intestinais influenciam a produção e o movimento dos hormônios, afetando diretamente o humor, o comportamento e a saúde geral. Estudos mostram que probióticos podem ajudar a reduzir o estresse e melhorar o bem-estar mental, devido à sua interação com neurotransmissores como o GABA.
Em resumo, o equilíbrio entre o sistema linfático, a imunidade, o microbioma e o sistema endócrino é essencial para a saúde geral. Cuidar desses sistemas por meio de escolhas alimentares saudáveis, exercícios moderados e redução do estresse pode melhorar a resposta imunológica e promover uma vida mais saudável e equilibrada.