Uso de antidepressivos, alteração da microbiota vaginal e aumento do risco de HVP e câncer em mulheres na menopausa

Recentemente, a relação entre o uso de Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRSs), medicamentos amplamente prescritos para tratar transtornos como depressão e ansiedade, e o câncer cervical tem gerado discussões importantes na área da saúde. Apesar de esses medicamentos serem conhecidos por seus efeitos sobre o sistema nervoso central, alguns estudos sugerem que eles também podem impactar outros sistemas do corpo, incluindo o sistema imunológico e os níveis hormonais, o que pode, em teoria, influenciar o desenvolvimento de câncer cervical, particularmente em mulheres em fase peri e pós-menopausa.

A transição para a menopausa é uma fase crítica para a saúde das mulheres, onde ocorrem mudanças hormonais significativas (cortisol, estrogênio, progesterona, hormônios da tireoide e outros) que podem alterar o equilíbrio do organismo. O envelhecimento também contribui para disbiose, síndrome metabólica, aumento do estado inflamatório, estresse oxidativo, fatores que podem promover o aparecimento da depressão maior.

Durante esse período, a imunidade da mulher também pode ser afetada, o que, associado a fatores como o uso de ISRSs, pode aumentar a vulnerabilidade a infecções. Um dos motivos é que a medicação contribui alterações na microbiota intestinal e vaginal (disbiose), tornando o ambiente mais propício a infecções pelo vírus HPV (Papilomavírus Humano), o principal fator de risco para o câncer cervical. O HPV é conhecido por infectar o colo do útero, e em casos persistentes e não tratados, pode levar ao desenvolvimento de células cancerígenas.

Além de vírus oncogênicos, outros microorganismos pode aproveitar-se de um ambiente desregulado como C. trachomatis, P. aeruginosa, E. coli, entre outros. Numerosos são os fatores co-causadores do câncer, incluindo o envelhecimento do intestino e da vagina, baixos níveis hormonais, tabagismo, hábitos alimentares e estilos de vida sedentários, que contribuem para uma gama de fenômenos imunológicos.

Embora a pesquisa sobre o papel específico dos ISRSs no desenvolvimento do câncer cervical ainda esteja em estágios iniciais, há preocupações de que o uso desses medicamentos possa alterar a resposta imunológica do corpo e prejudicar a capacidade de combater infecções. Além disso, os ISRSs podem ter efeitos secundários que alteram o equilíbrio hormonal, afetando os níveis de estrogênio e progesterona, hormônios fundamentais para a saúde do colo do útero.

Dada a complexidade dos fatores envolvidos, é fundamental que as mulheres em tratamento com esses medicamentos, especialmente aquelas que estão atravessando a menopausa, sejam monitoradas de perto por seus médicos. O acompanhamento ginecológico regular, que inclui exames de papanicolau e testes para HPV, continua sendo uma medida essencial para a detecção precoce de alterações no colo do útero.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/