O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é uma doença genética que afeta a capacidade de uma pessoa de autorregular o humor. A genética alterada gera maior suscetibilidade a fatores ambientais predisponentes, precipitantes e perpetuadores, como estresse e eventos traumáticos. O TAB está entre os 20 principais transtornos com a maior carga global de doenças, e os pacientes com o diagnóstico podem ter uma expectativa de vida reduzida entre 8 e 12 anos. Sem tratamento adequado, o comprometimento funcional é progressivo em um subconjunto de pacientes, caracterizado principalmente por um maior número de recaídas, maior comprometimento neurocognitivo e maior gravidade geral dos sintomas depressivos.
O cérebro típico, não bipolar, tem um mecanismo de "autoverificação" que simplesmente não opera da mesma forma no cérebro bipolar. Este cérebro neurodivergente frequentemente salta de uma emoção para outra, de um pensamento a outro, de um comportamento exemplar para algo que ninguém entende. E sem contemplar que resultado esta mudança de comportamento terá, que reação irá gerar. Isso pode levar a problemas pessoais e sociais significativos.
Por esta razão, as pessoas com TAB têm que aprender a tomar decisões com base no eu estável e não no cérebro bipolar. O primeiro passo é aceitar o diagnóstico e seguir o tratamento sugerido pelo psiquiatra. Muitas pessoas entendem bem os episódios depressivos, mas custam a aceitar ou entender a hipomania, o hiperfoco.
Infelizmente, os mecanismos neurobiológicos do TAB ainda estão longe de serem completamente entendidos. Uma formulação fisiopatológica da doença sugere que as mudanças genéticas geram disfunções em cascatas bioquímicas intracelulares, estresse oxidativo, alteração do metabolismo glicolítico cerebral e disfunção mitocondrial. Estas alterações contribuem para a neuroinflamação e prejudicam os processos ligados à plasticidade neuronal, levando a danos celulares e até perda de tecido cerebral (Young, & Juruena, 2021).
Com mais alterações metabólicas ocorrem mais alterações de humor. O impacto das repetidas alterações em resultados clínicos ao longo do tempo é conhecido como progressão clínica. A base biológica para a progressão clínica no TAB é chamada de neuroprogressão. Vários fatores, como aumento de inflamação e estresse oxidativo, sinalização de cálcio prejudicada, disfunção do retículo endoplasmático e mitocondrial, alteração da neuroplasticidade e resiliência celular prejudicada contribuem para a neuroprogressão no TAB, com maior risco de declínio cognitivo e demência na velhice.
As múltiplas alterações de humor estão associados a alterações cerebrais, com reduções em áreas do hipocampo, de regiões cerebrais que cobrem o sistema fronto-límbico (substância cinzenta), cerebelo e corpo caloso (substância branca). Deficiências cognitivas no TAB foram associadas a inflamação de baixo grau e alterações estruturais cerebrais.
Estudos mostraram que pacientes em estágio avançado de TAB apresentaram níveis séricos diminuídos de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e níveis aumentados de marcadores inflamatórios, como fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) e interleucina (IL)-6. O BDNF é uma proteína crucial para a neuroplasticidade, neurogênese, neuroproteção e regulação do humor.
Formas de estimular o aumento de BDNF
Atividade física regular, especialmente aeróbica (andar, correr, nadar, pedalar…).
Dieta cetogênica de características antinflamatórias, com gorduras boas (salmão, chia, nozes), fontes de antioxidantes (cacau, açafrão, ervas, chás), suplementada de ômega-3, B12, vitamina D e outros compostos relevantes e individualizado para cada caso (marque aqui sua consulta de nutrição online).
Estratégias de higiene do sono, pois o BDNF aumenta particularmente durante o sono REM (o estágio dos sonhos), responsável pela consolidação de memórias e processamento emocional.
Gerenciamento do estresse: terapia é tão importante quanto a medicação para o TAB. O estresse crônico reduz os níveis de BDNF e a psicoterapia pode ajudar muito a lidar com as situações da vida. Outras estratégias incluem yoga (especialmente ásanas, meditação e técnicas respiratórias profundas).
O TAB é uma doença, não é quem a pessoa é. O que mais ouço dos meus pacientes é: “Quero ser normal”. Cada cérebro é diferente. O que eles desejam quando dizem que querem ser normais é tão simples quanto terminar a faculdade que arrasta-se há 8 anos, deixar de ouvir vozes dizendo para fazer coisas estranhas, não ver coisas absurdas que ninguém mais está vendo, deixar de se criticar o dia inteiro, conseguir relaxar e aproveitar o momento, não duvidar constantemente dos próprios talentos.
Estes pacientes são incríveis. São sobreviventes de uma doença muito séria que quer roubar a vida. Trabalham a sério para manterem-se bem e vivos. Lidar com uma doença grave pode ser uma carreira em si, mas é difícil se comparar com todas as pessoas das redes sociais fazendo tantas coisas ao mesmo tempo. Por isso, uma boa estratégia é se desconectar (ou pelo menos parar de seguir todo mundo que faz a pessoa se sentir mal com a própria vida).
Mesmo quando tudo parece ir mal, ajude-se a si mesmo. Faça um diário, tente compreender o que está pensando e sentindo. Entenda seus padrões. Tente manter as caminhadas, yoga e a dieta cetogênica. Falo mais sobre ela neste vídeo:
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