Mitocôndrias, Estresse Oxidativo e o Impacto no Neurodesenvolvimento

Evidências crescentes destacam o papel crucial das mitocôndrias em condições ligadas ao neurodesenvolvimento. Além de sua função tradicional como usinas energéticas celulares, elas regulam processos metabólicos, redox e epigenéticos. Isso inclui o suporte à maquinaria epigenética, que afeta o acesso ao DNA e a organização da cromatina. No neurodesenvolvimento, as mitocôndrias influenciam diretamente o destino de células-tronco neurais e, por consequência, a neurogênese em cérebros em formação e adultos.

Mitocôndrias e a Gestacão

Durante a gestação, a disfunção mitocondrial está associada a condições como pré-eclâmpsia. Problemas na oxigenação podem levar a uma remodelação inadequada das artérias espirais, comprometendo a invasão do trofoblasto e alterando a interação entre trofoblastos e células imunológicas maternas. Isso pode impactar negativamente a comunicação materno-fetal, resultando em distúrbios gestacionais.

O Ciclo Vicioso: Disfunção Mitocondrial e Estresse Oxidativo

A relação entre disfunção mitocondrial e estresse oxidativo é bidirecional. O excesso de espécies reativas de oxigênio (EROs) danifica as mitocôndrias, que, em resposta, produzem ainda mais EROs. Este ciclo é conhecido como "liberação de ERO induzida por ROS" e está presente em diversas patologias crônicas. Fatores ambientais, como metais pesados, inflamação crônica e disfunções metabólicas, exacerbam esse processo, contribuindo para condições como o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Mitocôndrias e o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Estudos revelam várias anormalidades mitocondriais em indivíduos com TEA. Biomarcadores como lactato, piruvato e creatina quinase estão frequentemente elevados, indicando comprometimentos na cadeia de transporte de elétrons (ETC). Esses problemas podem explicar sintomas gastrointestinais comuns, como constipação, frequentemente relacionados à disfunção de enterócitos.

Curiosamente, síndromes como Down e Rett também compartilham esses padrões mitocondriais alterados. Isso reforça a conexão entre mitocôndrias, microbiota intestinal e o neurodesenvolvimento.

Disbiose Intestinal, Ácidos Graxos e Estresse Oxidativo

Indivíduos com TEA frequentemente apresentam desequilíbrios nos ácidos graxos. Os níveis de ácidos graxos saturados são elevados, enquanto os de poliinsaturados, como o ω3 (especialmente o DHA), são reduzidos. Isso compromete a fluidez das membranas celulares e a função de proteínas como a Na+/K+-ATPase, resultando em pior oxigenação tecidual e aumento do estresse oxidativo.

O Papel do Propionato na Microbiota

O propionato (PPA), um metabólito bacteriano produzido por Clostridia spp. e Bacteroidetes, tem papel significativo. Estudos indicam que o PPA promove inflamação e disfunção mitocondrial, impactando o desenvolvimento neural embrionário e promovendo neuroinflamação. A exposição materna ao PPA pode ter implicações duradouras para o feto.

Conexões Intestino-Mitocôndria no TEA

Existem pelo menos três conexões principais entre o trato gastrointestinal e as mitocôndrias em indivíduos com TEA:

  1. Disfunção mitocondrial causando sintomas gastrointestinais.

  2. Exposição ambiental a pesticidas, metais pesados e medicamentos.

  3. Efeitos de lipopolissacarídeos (LPS) e outros metabólitos bacterianos na função mitocondrial.

Perspectivas Terapêuticas

A identificação de biomarcadores como DHA-ω3 e o manejo do estresse oxidativo oferecem novas oportunidades terapêuticas. Suplementação com ácidos graxos poliinsaturados, antioxidantes e compostos moduladores da função mitocondrial despontam como alternativas promissoras.

A disfunção mitocondrial emerge como uma peça-chave na compreensão do TEA, conectando fatores genéticos, ambientais e metabólicos a manifestações neurocomportamentais e gastrointestinais. Avançar nesse entendimento é essencial para o desenvolvimento de diagnósticos precoces e tratamentos personalizados.

Nutrientes para melhorar a função de mitocôndrias dos neurônios

1. Complexo B - As vitaminas do complexo B, como B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3 (niacina), B6, B9 (ácido fólico) e B12, desempenham papéis cruciais na produção de energia mitocondrial.

2. NADH (Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo) - forma reduzida de NAD⁺, um coenzima central na produção de ATP (energia celular).

3. Coenzima Q10 (Ubiquinol) - Atua como um transportador de elétrons na cadeia respiratória mitocondrial. Tem propriedades antioxidantes.

4. Ácido Alfa-Lipoico - poderoso antioxidante lipossolúvel e hidrossolúvel, que pode neutralizar espécies reativas de oxigênio (ROS). Regenera as vitaminas C e E.

5. Creatina - auxilia no armazenamento e transporte de energia em células de alta demanda, como os neurônios.
Ajuda a regenerar ATP a partir de ADP, fornecendo energia rápida para a função celular.

6. Antioxidantes (em geral) - Combatem os radicais livres que danificam as mitocôndrias.
Exemplos incluem vitaminas C, E, glutationa e compostos naturais como resveratrol das uvas roxas, flavonoides do cacau, catequinas do chá verde.

7. Carnitina - transporta ácidos graxos de cadeia longa para dentro das mitocôndrias, onde são usados como combustível para gerar energia.
A acetil-L-carnitina, uma forma ativa, também tem propriedades neuroprotetoras e melhora a função cerebral.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/