A obesidade é uma doença complexa, associada a diversas alterações metabólicas, genéticas, hormonais e neuronais. Seu tratamento exige uma abordagem multidisciplinar, com foco em mudanças no estilo de vida e, em casos específicos, uso de medicamentos.
Estilo de Vida: O Pilar do Tratamento
As melhorias no estilo de vida são a base para tratar a obesidade. Isso inclui:
Atividade física regular: Reduz a gordura corporal e melhora a saúde metabólica.
Alimentação saudável: Deve ser balanceada e pobre em alimentos ultraprocessados.
Qualidade do sono: Sono inadequado está associado a maior risco de compulsão alimentar.
Gestão do estresse: O estresse crônico é um gatilho para o ganho de peso.
Terapia comportamental: Ajuda no controle emocional e na criação de hábitos sustentáveis.
O envolvimento familiar é essencial, especialmente no caso de crianças. Crianças não fazem compras nem decidem o que comer sozinhas. É necessário que toda a família adote uma alimentação equilibrada e pratique atividades físicas. Cuidadores têm a responsabilidade de oferecer refeições saudáveis e criar um ambiente seguro e menos estressante para os pequenos.
Fatores Genéticos e Hormonais
Em alguns casos, o ganho de peso é influenciado por fatores genéticos, hormonais e neuronais. Nesses casos, o tratamento pode ser mais complexo e requer acompanhamento contínuo por toda a vida.
O Papel dos Medicamentos no Tratamento da Obesidade
Nos casos em que mudanças no estilo de vida não são suficientes, medicamentos podem ser utilizados como adjuvantes. Contudo, seu uso deve ser cuidadoso, respeitando as indicações e contraindicações.
Sibutramina
Idade permitida: A partir dos 16 anos no Brasil.
Como funciona: Atua no sistema nervoso central, regulando norepinefrina, serotonina e dopamina.
Efeitos colaterais: Pode causar dor de cabeça, constipação, aumento da pressão arterial, alterações de humor e até agressividade.
Limitações: Não é recomendada para hipertensos, pacientes em uso de inibidores da recaptação de serotonina, ou pessoas com transtorno bipolar, devido ao risco de mania e síndrome serotoninérgica.
Curiosidade: A sibutramina é proibida na Europa, Canadá e EUA, mas o Brasil consome 50% da produção mundial.
Orlistat
Idade permitida: A partir de 12 anos nos EUA; na Europa, apenas acima de 18 anos.
Como funciona: Inibe a lipase pancreática, reduzindo a absorção de gorduras.
Efeitos colaterais: Não tem efeitos sistêmicos graves, mas pode causar diarreia, perda fecal e redução na absorção de vitaminas lipossolúveis.
Contraindicações: Não deve ser usado por quem tem doença de Crohn, doença celíaca, cálculos renais de oxalato, colestase ou pedras na vesícula.
Liraglutida
Idade permitida: A partir de 12 anos para pacientes com IMC acima de 30 kg/m².
Eficácia: Mostra sucesso em 33% das crianças tratadas.
Semaglutida
Ainda não há aprovação para uso pediátrico no tratamento da obesidade.
Lisdexanfetamina
Indicação: Tratamento da compulsão alimentar e TDAH.
Como funciona: Atua nos níveis de noradrenalina e dopamina.
Dosagem inicial: 10 mg, podendo ser associada a inibidores da recaptação de serotonina para minimizar efeitos colaterais (Sristava, O´Hara, Browne, 2019).
A obesidade infantil é uma condição preocupante em todo o mundo, associada a uma série de complicações metabólicas, como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas psicológicos. Embora mudanças no estilo de vida sejam o principal tratamento, abordagens como a dieta cetogênica têm sido exploradas, mas é necessário avaliar seus riscos e benefícios antes de aplicá-la em crianças.
O Que é a Dieta Cetogênica?
A dieta cetogênica consiste em:
Carboidratos: Consumo muito reduzido, geralmente entre 20 e 50 gramas por dia.
Gorduras: Fonte primária de energia, representando 70% a 80% das calorias diárias.
Proteínas: Moderadas, cerca de 10% a 20% da ingestão calórica.
Ao reduzir drasticamente os carboidratos, o corpo entra em um estado metabólico chamado cetose, no qual utiliza gordura como principal fonte de energia.
Efeitos da Dieta Cetogênica na Obesidade Infantil
A dieta cetogênica tem mostrado resultados promissores no controle do peso e em algumas condições metabólicas, mas há aspectos importantes a considerar:
Benefícios Potenciais:
Perda de peso: A redução de carboidratos pode levar à perda rápida de peso, algo útil em casos de obesidade grave.
Melhora da resistência à insulina: Pode ajudar crianças com pré-diabetes ou diabetes tipo 2.
Redução de gordura visceral: Auxilia na redução de complicações metabólicas associadas à obesidade.
Riscos e Desafios:
Deficiências nutricionais: A dieta pode levar à falta de vitaminas e minerais essenciais, especialmente cálcio, ferro e vitaminas do complexo B.
Crescimento e desenvolvimento: Crianças em fase de crescimento precisam de um equilíbrio adequado de nutrientes, o que pode ser comprometido em dietas restritivas.
Impacto psicológico: A restrição severa pode ser difícil de sustentar e levar a uma relação negativa com a comida.
Efeitos colaterais iniciais: Náusea, fadiga, constipação e "gripe cetogênica" são comuns nas primeiras semanas.
Indicações e Contraindicações
A dieta cetogênica não é indicada para todas as crianças e deve ser utilizada apenas em situações específicas, sob supervisão médica.
Indicações potenciais:
Crianças com obesidade grave que não respondem a outras intervenções.
Casos de resistência severa à insulina.
Tratamento de epilepsia refratária (condição para a qual a dieta foi originalmente desenvolvida).
Contraindicações absolutas:
Crianças com doenças metabólicas ou genéticas, como deficiência de piruvato carboxilase ou distúrbios da beta-oxidação de ácidos graxos.
Presença de cálculos renais ou histórico de doença renal.
Risco elevado de transtornos alimentares.
Precauções no Uso da Dieta Cetogênica em Crianças
Se a dieta cetogênica for considerada, é essencial:
Acompanhamento médico e nutricional: Monitorar o crescimento, desenvolvimento e possíveis deficiências nutricionais.
Ajustes personalizados: Garantir que as necessidades individuais da criança sejam atendidas.
Introdução gradual: Evitar mudanças drásticas para minimizar efeitos colaterais.
Monitoramento constante: Acompanhar exames laboratoriais para avaliar marcadores metabólicos e possíveis complicações, como acidose metabólica.
Alternativas Mais Equilibradas
Antes de considerar a dieta cetogênica, é importante explorar abordagens menos restritivas, como:
Dieta balanceada com redução moderada de carboidratos e aumento de proteínas magras e gorduras saudáveis.
Educação nutricional para a família, envolvendo todos no processo de mudança alimentar.
Terapia comportamental para melhorar a relação com a comida.
Considerações sobre Adoçantes
No Brasil, não há consenso sobre o uso de adoçantes em crianças. Nos EUA, todos os adoçantes disponíveis no mercado estão liberados para crianças. No contexto da dieta cetogênica recomenda-se a estévia e o eritritol.
1. Eritritol
Origem: Álcool de açúcar encontrado em pequenas quantidades em frutas como peras e uvas.
Benefícios:
Não eleva os níveis de glicose nem insulina.
Possui cerca de 70% da doçura do açúcar, com quase zero calorias.
Baixo risco de efeitos colaterais digestivos comparado a outros álcoois de açúcar, como o xilitol.
Uso: Ideal para adoçar bebidas, sobremesas e receitas assadas, pois suporta altas temperaturas.
2. Stevia
Origem: Extraído das folhas da planta Stevia rebaudiana.
Benefícios:
Não afeta os níveis de glicose no sangue.
Altamente doce (200 a 300 vezes mais doce que o açúcar) e sem calorias.
Opção natural e amplamente disponível.
Uso: Ótimo para bebidas, sobremesas e algumas receitas salgadas, mas pode ter um leve sabor residual amargo dependendo da marca. A color andina possui um adoçante sem sabor residual amargo.
Com essas informações, fica evidente que o tratamento da obesidade vai muito além da simples perda de peso. É um processo contínuo e individualizado que envolve mudanças de hábito, suporte familiar e, em alguns casos, intervenções médicas.
Se você ou sua família enfrentam desafios relacionados à obesidade, busque orientação de profissionais de saúde qualificados para elaborar um plano de cuidado eficaz e seguro.