O diagnóstico de esclerose múltipla (EM) pode levar vários anos devido à complexidade da doença, aos sintomas variados e à falta de exames específicos e imediatos para sua confirmação. O tempo médio para o diagnóstico da EM geralmente varia entre 3 e 5 anos, mas em alguns casos pode ser mais longo (10 anos ou mais). Esse atraso tem várias implicações, tanto para o paciente quanto para o tratamento e manejo da doença.
Fatores que contribuem para o atraso no diagnóstico
Sintomas iniciais variáveis e sutis: Nos primeiros estágios da esclerose múltipla, os sintomas podem ser leves, passageiros e semelhantes a outros problemas neurológicos. A pessoa pode experienciar fadiga, dificuldade de visão, dormência ou formigamento em partes do corpo, mas esses sintomas podem ser temporários e muitas vezes são confundidos com outras condições, como a síndrome do túnel do carpo, neuropatia ou até estresse.
Episódios de surto e remissão: A EM é caracterizada por surtos (exacerbações dos sintomas) seguidos de períodos de remissão (quando os sintomas melhoram ou desaparecem). Essa natureza intermitente pode dificultar a identificação da doença, pois os sintomas podem melhorar temporariamente, o que leva a um diagnóstico errôneo ou atraso na investigação.
Falta de exames específicos: Não há um único exame diagnóstico para a esclerose múltipla. O diagnóstico é feito com base em uma combinação de exames clínicos, históricos médicos e exames de imagem, como a ressonância magnética (RM) e a análise do líquor (líquido cerebroespinhal). Em muitos casos, a doença pode não ser evidente nas primeiras imagens de ressonância magnética, levando a mais testes e investigação para confirmar a EM.
Diferenciação com outras condições: A EM pode ser confundida com outras doenças neurológicas que apresentam sintomas semelhantes, como doenças vasculares (AVC), doenças autoimunes, infecções ou outras condições neurológicas. Isso pode prolongar o diagnóstico, pois os médicos podem investigar várias possibilidades antes de considerar a esclerose múltipla.
Implicações do atraso no diagnóstico
Tratamento tardio: O tratamento precoce é fundamental para retardar a progressão da doença e controlar os surtos. O uso de medicamentos modificadores da doença (DMTs) pode reduzir a frequência e a gravidade dos surtos, além de prevenir danos permanentes ao sistema nervoso. Quando o diagnóstico é feito tardiamente, a pessoa pode ter mais danos cerebrais e medulares, o que pode resultar em sintomas mais graves e maior dificuldade de tratamento.
Dano progressivo: Como a esclerose múltipla pode causar danos cumulativos ao longo do tempo, o atraso no diagnóstico pode levar a um aumento do risco de deficiência permanente. A doença pode afetar o movimento, a coordenação, a fala e outras funções essenciais. Diagnosticar a EM precocemente permite iniciar tratamentos que podem retardar ou prevenir esse dano progressivo.
Impacto psicológico e emocional: A incerteza e a falta de diagnóstico claro podem ser emocionalmente desgastantes para os pacientes. A frustração com a demora no diagnóstico, o medo do desconhecido e a ansiedade sobre a progressão da doença podem afetar a qualidade de vida do paciente. Além disso, os sintomas variáveis e imprevisíveis podem gerar estresse adicional.
Planejamento de vida e adaptação: Quando a esclerose múltipla não é diagnosticada a tempo, pode ser difícil para o paciente planejar o futuro, tanto no aspecto profissional quanto pessoal. A doença pode afetar a capacidade de trabalho, a vida social e os relacionamentos, e um diagnóstico precoce permite que o paciente tome decisões sobre tratamento, modificações de estilo de vida e suporte emocional.
Atendi uma paciente que teve dois surtos que foram confundidos com AVC
O surto de esclerose múltipla (EM) e o acidente vascular cerebral (AVC) podem ser confundidos devido a algumas semelhanças nos sintomas e na forma como afetam o sistema nervoso central.
Tanto a esclerose múltipla quanto o AVC podem causar sintomas neurológicos semelhantes, como fraqueza muscular, perda de equilíbrio, dificuldade de fala, visão turva ou embaçada, e paralisia de membros. Esses sintomas são frequentemente associados a problemas no cérebro e podem ser confundidos, especialmente em situações de surto de EM, onde os sintomas podem aparecer de forma abrupta, como no AVC.
No caso da minha paciente, teve paralisia do braço direito e foi encaminhada ao neurologista para averiguação. Nestes casos, o neurologista precisa mesmo descartar um AVC. Isto é importante. O Acidente Vascular Cerebral é uma emergência médica e, se não for tratado de forma rápida e eficaz, pode levar a consequências graves, algumas das quais podem ser permanentes. As implicações (dano cerebral irreversível, paralisia, fraqueza muscular etc) de não tratar um AVC dependem do tipo de AVC (isquêmico ou hemorrágico), da área do cérebro afetada e do tempo decorrido desde o início dos sintomas. Só depois de descartar o AVC outras questões são investigadas, como neuropatia por diabetes, intoxicação, doenças autoimunes etc.