Os modelos neurobiológicos, kindling e sensibilização nos ajudam a entender por que episódios de transtornos afetivos, como depressão e transtorno bipolar, tendem a se tornar mais frequentes e graves com o tempo (Post, 2007).
Kindling: Este conceito vem da neurociência e refere-se ao processo pelo qual pequenas e repetidas exposições a estímulos (como estresse ou crises emocionais) podem, com o tempo, gerar episódios afetivos completos, mesmo sem um gatilho externo. Isso sugere que episódios anteriores tornam o cérebro mais "pronto" para desenvolver novos episódios, criando uma espécie de "memória neural".
Sensibilização: Nesse modelo, o cérebro se torna progressivamente mais reativo aos mesmos estímulos ao longo do tempo. Isso explica a intensificação dos episódios e o aumento da gravidade ou da duração dos sintomas após cada recaída.
Esses modelos podem explicar o fenômeno de tolerância, ou seja, por que tratamentos que inicialmente são eficazes tendem a perder eficácia com o tempo. Isso ocorre porque os processos de sensibilização alteram os circuitos cerebrais e tornam os sintomas mais resistentes à intervenção.
Esses modelos têm implicações práticas para o tratamento: é fundamental intervir precocemente para interromper o ciclo de sensibilização e prevenir a recorrência de episódios futuros. Estratégias como psicoterapia, estabilizadores de humor, controle do estresse e terapias metabólicas desempenham papéis importantes nesse contexto.