O corpo produz e gasta ATP o tempo todo. Para produzir esta molécula energética usa carboidratos, gorduras e, às vezes, proteína. Apesar do ATP ser necessário 24 horas por dia, nós não comemos o tempo todo. Algumas pessoas comem duas vezes ao dia, outras comem três vezes ao dia. Tem gente que come 5, 6, 7 vezes ao dia.
O fato é que não comemos o tempo todo e para lidar com esse suprimento esporádico de energia, existem mecanismos de transporte, armazenamento e utilização de nutrientes em vários tecidos do corpo. Para os nutrientes entrarem nas células do tecido, há uma sinalização, uma abertura de portas. Grande parte deste mecanismo é dependente da insulina, hormônio com várias funções no organismo.
Funções da insulina
Contudo, muitas pessoas desenvolvem resistência à insulina. Excesso de carboidratos simples, sedentarismo, excesso de peso, tabagismo, estão entre as causas da resistência ao hormônio insulina, mas existem outras:
Adaptado de Noakes et al., 2023
A resistência à insulina em um tecido cria um efeito indireto nos outros tecidos do corpo, por meio do qual eles tentam compensar a eficiência reduzida do tecido resistente ao hormônio. A resistência à insulina de vários tecidos aumenta o risco de acúmulo de gordura no fígado.
Estados resistentes à insulina, como obesidade e diabetes tipo 2, são caracterizados por uma redução na flexibilidade metabólica. Isto significa que os tecidos, que em estado saudável usam o que tiverem à disposição (como glicose após as refeições e gordura retirada dos estoques no estado de jejum), na resistência insulínica ficam totalmente sem energia. E o corpo sofre. Mas há como restaurar a função mitocondrial e a flexibilidade metabólica.
Indivíduos obesos e diabéticos exibem taxas de eliminação de glicose plasmática mais baixas e níveis de glicose basal aumentados. No diabetes tipo 2, esses efeitos são parcialmente explicados pela captação hepática prejudicada de glicose e uma redução na supressão da produção hepática de glicose pela insulina. Além disso, a captação de glicose no músculo esquelético é prejudicada no diabetes tipo 2.
A resistência à insulina não afeta apenas o metabolismo da glicose, mas também afeta o tecido adiposo, que passa a liberar menos gordura para a queima.
Em indivíduos obesos não diabéticos, há redução da captação de glicose pelo músculo esquelético. Além disso, indivíduos resistentes à insulina podem apresentar aumento da lipogênese hepática, levando a maiores concentrações de triglicerídeos hepáticos no estado pós-prandial, um resultado contra-intuitivo, uma vez que é uma via estimulada pela insulina.
A razão para esse efeito é que o suprimento de sangue do pâncreas vai diretamente para o fígado, e a resposta inicial à resistência à insulina é o aumento da secreção de insulina. No entanto, indivíduos resistentes à insulina têm uma redução significativamente maior na captação de glicose muscular, indicando que a resistência à insulina afeta diferentes tecidos em diferentes graus, o fígado sendo menos severamente afetado do que o músculo.
A liberação de triglicerídeos hepáticos pós-prandial é maior em pessoas com doença hepática gordurosa do que em pessoas saudáveis, embora a taxa de secreção basal seja a mesma. Este resultado implica que não é uma maior presença de gordura no fígado que causa o aumento da produção de triglicerídeos, mas sim a resistência à insulina.
Quando um tecido do corpo é resistente à insulina, o metabolismo reduzido causa aumento dos níveis de glicose e gorduras no plasma, o que afeta outros tecidos do corpo. O maior efeito é o fígado ficar sobrecarregado com glicose e atingir rapidamente sua capacidade máxima de armazenamento quando o músculo esquelético é resistente à insulina.
Isso leva a um aumento duplo na glicose plasmática. Quando o músculo esquelético é resistente à insulina, o fígado fica sobrecarregado e, com o tempo, isso faz com que o fígado pare de funcionar normalmente e desenvolva resistência à insulina também. São muitas as consequências da resistência insulínica em todos os tecidos:
Adaptado de Noakes et al., 2023
Os tecidos não mudam repentinamente de sensibilidade normal para resistente. Em vez disso, haverá uma redução gradual da sensibilidade à insulina ao longo de anos, a depender principalmente da forma como o indivíduo alimenta-se. Quando um tecido é resistente à insulina, todos os outros ficam sobrecarregados para compensar, o que pode levar ao desenvolvimento de resistência à insulina também nesses outros tecidos.
Quando o músculo esquelético é resistente à insulina, há uma diminuição significativa na flexibilidade metabólica (porcentagem de oxidação da glicose), bem como na porcentagem pré-prandial de oxidação da glicose e na quantidade total de oxidação, ambas reduzidas. Esses efeitos agravam-se conforme todo o corpo vai tornando-se resistente à insulina.
A resistência à insulina surge como uma deterioração progressiva. Nas fases iniciais, seria de esperar um pequeno aumento na insulina em jejum, depois um pequeno aumento na glicose em jejum e um aumento maior na insulina e, finalmente, um aumento nos triglicerídeos em jejum. Eventualmente, é claro que a liberação de insulina não consegue acompanhar a resistência e os níveis de insulina caem, a glicose aumenta e o diabetes ocorre (Pearson et al., 2016).