Câncer e dieta cetogênica

Muitas pessoas já ouviram falar da dieta cetogênica como estratégia para perda de peso. Apesar de ser possível emagrecer com a dieta cetogênica, não é este seu objetivo principal.

O que é a dieta cetogênica?

A dieta cetogênica é um padrão alimentar restrito em carboidratos, com quantidade moderada de proteína e alto teor de gordura. Seu objetivo é reduzir a quantidade de insulina circulante e obrigar o organismo a produzir corpos cetônicos.

A glicose normalmente estimula as células β pancreáticas a liberar insulina, o que permite que a glicose entre nas células e forneça energia. Com uma alta ingestão de carboidratos e glicose, o pâncreas secreta cada vez mais insulina, o que promove a interação dos receptores do hormônio do crescimento e dos hormônios do crescimento para produzir o fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) no fígado – promovendo o crescimento e a proliferação celular, o que pode ser prejudicial para pacientes com câncer.

A superexpressão dos transportadores de glicose 1 e 3 (Glut-1, Glut-3) também ocorre em muitos tipos de câncer e corresponde ao grau de captação de glicose em tumores agressivos, como visto na tomografia por emissão de pósitrons (PET).

A superexpressão da hexoquinase, a taxa -enzima limitante da glicólise, impulsiona ainda mais a produção de piruvato e lactato, mostrando um grau de disfunção mitocondrial e aumento de produção de radicais livres. A translocação da enzima limitadora da taxa de hexoquinase do citosol para a membrana mitocondrial externa, onde interage com canais aniônicos dependentes de voltagem, pode interromper a liberação de citocromo dependente de caspase, que suprime as vias apoptóticas das células cancerígenas e torna o câncer mais resistente à quimioterapia.

Quando a glicose é escassa, o corpo sente a necessidade de produzir uma forma alternativa de energia para as células. O fígado então produz cetonas (ou corpos cetônicos) e ácidos graxos, que fornecem células normais, mas não beneficiam as células cancerígenas. As células cancerígenas têm mitocôndrias disfuncionais e possivelmente defeitos na cadeia de transporte de elétrons, que interrompem a produção normal de trifosfato de adenosina (ATP) pelas mitocôndrias. O resultado é que as células cancerígenas tornam-se fortemente dependentes do ATP proveniente do processo menos eficiente de glicólise.

Corpos cetônicos possuem vários efeitos moduladores da expressão de genes e acabam estimulando a geração de novas mitocôndrias, melhorando a bioenergética celular. Além disso, protegem o sistema nervoso, agem como antioxidantes, ajudam a preservar a massa magra e reduzem o número de células cancerígenas.

Corpos cetônicos também reduzem os efeitos colaterais de quimioterápicos utilizados no tratamento de alguns tipos de câncer de mama. Por enquanto, pesquisas mostram que os pacientes que aparentemente melhor respondem à dieta cetogênica são aqueles com diagnóstico de glioblastoma, o tipo de câncer mais comum e agressivo do cérebro.

A dieta cetogênica não é boa para todo mundo

Pacientes com câncer pancreático e colorretal pois podem agravar a caquexia, caracterizada por perda de apetite, perda de peso e massa muscular, alterações no paladar, fraqueza e atrofia de órgãos viscerais.

Por isso, alguns pesquisadores estudam estratégias para que estes pacientes possam se beneficiar dos efeitos positivos dos corpos cetônicos, sem os efeitos colaterais. Corticosteróides parecem prevenir a caquexia, pelo menos em camundongos com câncer seguindo a dieta cetogênica.

A caquexia é um processo em cascata. Os sistemas biológicos entram em colapso gradualmente, causando um declínio na saúde de todo o corpo. Dietas com muita gordura poliinsaturada (de óleo de soja, milho, canola, girassol etc) geram mais subprodutos lipídicos tóxicos, que podem se acumular nas células cancerígenas. Isso retarda em redução do crescimento do tumor, mas também causa caquexia precoce. Quando os pesquisadores deram aos camundongos o corticosteróide, a dieta cetogênica continuou reduziu os tumores, mas não deu início à caquexia.

O câncer é uma doença que afeta todo o corpo. Ele reprograma processos biológicos normais para ajudá-lo a crescer. Por causa dessa reprogramação, os ratos não conseguem usar os nutrientes de uma dieta cetônica e definham. Mas com o esteróide, eles se saem muito melhor e vivem mais tempo (Ferrer et al., 2023).

Como estes estudos foram feitos em camundongos, outras pesquisas estão sendo feitas no momento com seres humanos diagnosticados com diferentes tipos de câncer, incluindo pulmão e próstata.

Antes de começar qualquer tratamento, converse com seu oncologista. Se precisar de ajuda em relação à sua dieta, marque uma consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/