NEUROBIOLOGIA DA ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia é uma doença multifatorial que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. O diagnóstico da doença requer acompanhamento psiquiátrico que observará a presença de pelo dois sintomas, sendo pelo menos um deles positivo:

  • Sintomas positivos da esquizofrenia (presentes no período psicótico): alucinações, delírios, fala desorganizada e/ou movimentos anormais.
    Refletem a presença de ideias, percepções ou ações exageradas.

  • Sintomas negativos negativos da esquizofrenia (presentes fora do período psicótico): alterações da afetividade, retraimento social, anedonia, apatia, ausência de emoções. Refletem as alterações do funcionamento mental.

Os sintomas são gerados pela modificação na interação de neurotransmissores, especialmente a dopamina, nas regiões frontal, temporal e mesoestriatal do cérebro. Para o diagnóstico, os sintomas precisam ter gerado declínio no funcionamento social e ocupacional por pelo menos seis meses (Luvsannyam et al., 2022).

Causas da esquizofrenia

A esquizofrenia tem um modo complexo de herança envolvendo múltiplos genes, processos biológicos e fatores ambientais. Os últimos estudos mostram que a esquizofrenia é uma síndrome altamente poligênica com centenas ou mesmo milhares de loci genéticos distintos envolvidos. Existem variantes de risco comuns entre esquizofrenia e transtorno bipolar, transtorno depressivo maior e transtorno do espectro autista.

- Genética da esquizofrenia

A esquizofrenia envolve genes que codificam receptores de glutamato e receptor de dopamina D2 (DRD2). Alguns pacientes também apresentam alterações do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Essas variantes do MHC estão associadas à imunidade adquirida, sugerindo que os processos imunológicos e inflamatórios estão envolvidos em estágios iniciais da doença, seja no útero, na adolescência ou fase adulta. Componentes do desenvolvimento do cérebro, como formação de sinapses, crescimento de neuritos e plasticidade homeostática, são regulados por moléculas MHC classe I.

Existe um um extenso envolvimento do sistema nervoso central na patologia da esquizofrenia. Isso inclui alterações do lobo frontal responsáveis pela memória e processos executivos e alterações do lobo temporal responsáveis pela compreensão da linguagem, percepção auditiva e memória episódica.

Distúrbios neurológicos presentes na esquizofrenia podem ocorrer por alterações de genes como COMT, DISC1, RGS4, PPP3CC, ZDHHC8, AKT1, neuregulina, disbindina, G72/G30, TRAR4 e genes do receptor nicotínico alfa-7. Esses genes estão associados à regulação da dopamina, contribuindo para a causa subjacente da esquizofrenia. Alterações na função da dopamina no estriado causam delírios e psicose nestes pacientes.

Os neurônios dopaminérgicos não apenas liberam dopamina em um modo de sinal sináptico, mas também liberam cotransmissores glutamato e ácido gama-aminobutírico (GABA). O glutamato na via excitatória e o GABA na via inibitória transmitem vários padrões de atividade neuronal dopaminérgica para o corpo estriado.

- Alterações neuroanatômicas na esquizofrenia

Alterações neuroanatômicas também podem ser observadas no cérebro de pacientes com esquizofrenia. Essas alterações são vistas nos lobos temporais pré-frontal, medial e superior como volume reduzido de substância cinzenta.

A massa cinzenta do cérebro é consistentemente afetada na esquizofrenia. A ressonância magnética mostra frequentemente volume reduzido de substância cinzenta nos lobos temporais pré-frontal, medial e superior. Isso pode explicar o declínio da memória episódica e as flutuações na tomada de decisões à medida que a doença progride.

Quando a substância branca é afetada, a esquizofrenia torna-se crônica. O aumento da desmielinização pode afetar muitas habilidades cognitivas. O comprometimento da função executiva tem sido relacionado a anormalidades estruturais no estriado, tálamo, cerebelo, giro cingulado anterior, hipocampo, lobo temporal medial, frontal medial e córtex parietal posterior. A disfunção cerebral em pacientes esquizofrênicos é devida a uma variedade de redes cerebrais, e não a uma única região cerebral.

- Alterações da bioenergética cerebral

Uma teoria recente é a de que pacientes com esquizofrenia apresentam alterações no funcionamento mitocondrial, na sinalização insulínica, glicólise, via pentose-fosfato, ciclo do ácido tricarboxílico e fosforilação oxidativa. Com isto, o cérebro gera menos ATP a partir de carboidratos, o que compromete seu funcionamento como um todo. A disfunção mitocondrial associa-se também a maior neuroinflamação e estresse oxidativo cerebral (Henkel et al., 2022).

Tratamento da esquizofrenia

Os antipsicóticos de primeira geração são eficazes no tratamento de sintomas positivos. Antagonizam receptores D2 na via nigroestriatal. Incluem clorpromazina, flufenazina, aloperidol, loxapina, perfenazina, pimozida, tiotixeno, trifluoperazina. Os principais efeitos colaterais são alterações de movimento e rigidez muscular.

Os antipsicóticos de segunda geração (ASGs) são mais novos. Foram desenvolvidos para o tratamento dos sintomas positivos e negativos da esquizofrenia. Têm o efeito adicional de antagonizar os receptores de serotonina 5HT juntamente com os receptores D2, causando menos efeitos colaterais relacionados a movimento. Contudo, geram mais compulsão alimentar e ganho de peso. Incluem aripiprazol, asenapina, clozapina, iloperidona, lurasidona, olanzapina, paliperidona, risperidona, quetiapina, ziprasidona.

A clozapina é reservada para esquizofrenia resistente ao tratamento. Tem efeitos colaterais indesejáveis de agranulocitose e leucopenia que podem causar infecções graves. O tratamento terapêutico com clozapina deve ser interrompido imediatamente se a contagem absoluta de neutrófilos cair abaixo de 1.000 células/mm3 ou abaixo de 500 células/mm3 naqueles com neutropenia benigna.

Correção da alteração bioenergética cerebral

Atualmente, há um grande interesse em estudos que adotam a dieta cetogênica para a redução de sintomas positivos e negativos de pacientes com esquizofrenia (Sarnyai, & Palmer, 2020).

Esta dieta restringe carboidratos e aumenta gorduras, com o objetivo de induzir a cetose nutricional. De acordo com o Dr. Christopher Palmer, um nível de cetose de 1,5 mmol/L é suficiente para gerar a remissão destes pacientes. Corpos cetônicos possuem efeito antiinflamatório, antioxidante e regulam o receptor NMDA para glutamato.

Os efeitos começam a ser sentidos com 2 a 8 semanas de dieta. Contudo, para que seja possível avaliar melhor os resultados indica-se o seguimento da mesma por pelo menos 4 meses (Sarnyai, Kraeuter, Palmer, 2019).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/