Exposições ambientais e autismo

O autismo é um transtorno complexo do desenvolvimento, caracterizado por dificuldades persistentes na interação social, fala e comunicação não-verbal e atividades restritas/repetitivas.

O autismo (ASD) é altamente hereditário (estimado entre 60 – 90%), mas sofre pouca transmissão genética entre gerações, devido à menor taxa reprodutiva de indivíduos afetados.

Fatores ambientais que ocorrem no período pré-natal — como poluentes, deficiências nutricionais, inflamação, exposição a tóxicos, uso de medicamentos e alteração da microbiota materna — influenciam o risco de autismo (ASD) através de impactos nas células de vários tecidos (incluindo cérebro) do feto.

Os mecanismos pelos quais essas exposições incrementariam o número de mutações de novo incluem:

  1. Dano direto ao DNA (quebra de dupla-fita, alterações de base);

  2. Interferência na reparação do DNA, como comprometimento da recombinação homóloga;

  3. Alterações no eixo intestino-cérebro: disbiose e inflamação intestinal liberam metabólitos (como p‑cresol, ácidos graxos) que afetam permeabilidade intestinal e barreira hematoencefálica;

  4. Disfunção mitocondrial e estresse oxidativo — formação excessiva de espécies reativas (ROS) por mitocôndrias, danificando nucleotídeos e rompendo cadeias de DNA.

Assim, exposições podem gerar mutações em células germinativas (pai/mãe) ou em embriões iniciais, contribuindo para a carga mutacional. As alterações nas mitocôndrias, interferem na geração de energia, controle do estresse oxidativo e sinalização inflamatória.

Crianças com TEA apresentam alta prevalência de disfunções mitocondriais (30–50%), bem como anomalias em enzimas da cadeia respiratória (até 80%) em sangue e cérebro . Essas disfunções são frequentemente adquiridas, não necessariamente hereditárias, sugerindo que são respostas adaptativas (mitoplasticidade) a estressores ambientais .

Alterações mitocondriais contribuem para comorbidades, incluindo dificuldades alimentares, problemas gastrointestinais (como diarreia, prisão de ventre, síndrome do intestino irritável, disbiose). As estratégias dietéticas podem ajudar a aliviar os problemas gastrointestinais e comportamentais devido à ligação entre a microbiota intestinal e a atividade cerebral.

Ligação entre fatores pré-natais e função mitocondrial

  • A deficiência de folato, ferro, zinco, cobre, manganês e carnitina durante a gestação está ligada ao ASD, pois esses nutrientes são cofatores essenciais para a cadeia respiratória mitocondrial, superóxido dismutase e metabolismo energético.

  • Infecções gestacionais elevam citocinas (IL‑1α, IL‑6, IL‑17a), que prejudicam a função mitocondrial via aumento do estresse oxidativo e indução apoptótica. Em modelos animais de TEA induzidos por inflamação materna, há alterações mitocondriais persistentes, responsivas a antioxidantes como N-acetilcisteína.

  • Poluentes atmosféricos, agrotóxicos, fumo e ftalatos alteram a estrutura e função mitocondrial, inibem enzimas da cadeia respiratória e aumentam espécies reativas de oxigênio (ROS).

  • Paracetamol e antidepressivos (ex.: fluoxetina) também prejudicam a atividade mitocondrial, gerando subprodução de ATP e aumento de metabólitos tóxicos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/