TCM para saúde e cognição

Embora a glicose seja a principal fonte de energia no cérebro, o metabolismo cerebral da glicose é frequentemente reduzido em indivíduos idosos e pacientes com doença de Alzheimer (DA). Uma das alternativas é alimentar o cérebro com corpos cetônicos.

Jejum, restrição calórica, dieta cetogênica, suplementação de triglicerídeos de cadeia média, ésteres e sais de cetonas são formas de promover a cetose e colher os efeitos positivos da mesma, como neuroproteção, por fornecer uma fonte alternativa de energia para as células cerebrais, modular a neurotransmissão, apoiar as respostas antioxidantes e anti-inflamatórias.

Os ácidos graxos de cadeia média (TCMs) são ácidos graxos saturados com um comprimento de 6 a 10 átomos de carbono. Estão presentes no óleo de coco e palma, de onde são extraídos.

Tipos de TCM

Existem quatro tipos diferentes de TCMs:

  • Ácido capróico (C6): é o mais eficiente na absorção e absorção, mas tem um cheiro e sabor bastante ruins, quando isolado. Presente naturalmente no óleo de palma e laticínios integrais.

  • Ácido caprílico (C8) ou ácido octanóico: ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido. Aumenta corpos cetônicos na corrente sanguínea 3 vezes mais rápido que C10 e 6 vezes mais rápido que C12. Cheiro e sabor melhores do que C6. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido cáprico (C10): ajuda a manter o intestino saudável. Rapidamente absorvido, contudo 3 vezes mais lentamente que C8. Mas, a mistura nos produtos é interessante para manter os níveis de corpos cetônicos mais constantes no plasma. Presente naturalmente em marcas de TCM e no óleo de coco.

  • Ácido láurico (C12): ajuda a manter a microbiota saudável. Tem ação antifúngica. Leva mais tempo para ser absorvido e pode elevar mais os níveis de colesterol plasmáticos do que C8 e C10. Disponível naturalmente no óleo de coco e nos laticínios integrais.

Metabolismo das gorduras

Triglicerídeos de cadeia longa (presentes no óleo de soja e canola) são ativados (ou seja, fundidos com CoA para formar um acil-CoA – uma forma na qual os ácidos graxos podem entrar em várias vias metabólicas). Depois de esterificados, desencadeiam a formação de quilomícrons e são transportados via linfa, enquanto. Este processo é lento. Além disso, esses ácidos graxos ativados só podem atravessar as membranas mitocondriais com a ajuda do sistema de transporte de carnitina.

Quando os níveis de glicose são altos, a insulina estimula a atividade de enzimas que inibem a carnitina palmitoiltransferase I (CPT-I), um dos componentes do sistema de transporte de carnitina, limitando significativamente a quantidade de ácidos graxos de cadeia longa disponíveis para β-oxidação em um organismo saudável e bem alimentado.

Já os TCM são transportados diretamente para o fígado através da veia porta. Nas células do fígado, os TCMs entram facilmente nas mitocôndrias dos hepatócitos (células do fígado), onde são ativados para sofrer β-oxidação (queima) para produzir acetil-CoA e energia na forma de ATP.

Quando TCMs suficientes estão disponíveis, sua oxidação pode produzir altas quantidades de acetil-CoA, que excedem a capacidade do ciclo do ácido tricarboxílico (ciclo de Krebs) para gerar energia. Neste momento, são produzidos os corpos cetônicos acetoacetato (AcAc) e β-hidroxibutirato (βHB), que caem na corrente sanguínea e chegam ao cérebro e outros tecidos, onde podem ser convertidos novamente em acetil-CoA e usados para produção de ATP. Os TCM são cetogênicos mesmo em um estado bem alimentado e na presença de carboidratos, enquanto os TCL são cetogênicos apenas em situações de jejum ou restrição de carboidratos.

TCM tem efeito positivo na saúde e cognição

Um número crescente de estudos mostra que a suplementação de TCM tem um efeito positivo na cognição, tanto em indivíduos saudáveis quanto naqueles que sofrem de comprometimento cognitivo leve (CCL), doença de Alzheimer (AD) e outros distúrbios neurológicos, incluindo Parkinson e esclerose lateral amiotrófica (Shcherbakova et al., 2022).

As doses usadas em estudos com humanos geralmente ficam em torno de 1 g/kg, o que geralmente é considerado seguro. Os TCMs são mais baratos que os sais e ésteres de cetonas, além de estarem disponíveis em qualquer país. Quantidades totais diárias entre 20 e 42g são comuns nos estudos. Esta quantidade é fracionada em algumas refeições ao dia, para minimizar sintomas digestivos, como diarreia.Estudos observaram melhoria do metabolismo energético cerebral em regiões corticais e subcorticais, assim como melhorias em testes cognitivos e na memória.

Vários estudos de suplementação de TCM em pacientes com Alzheimer mostraram que a eficácia da intervenção dependia do status da APOE4. APOE4 é uma variante alélica da Apolipoproteína E, uma proteína de ligação a lipídios que ajuda a transportar ácidos graxos no cérebro entre astrócitos e neurônios. A variante APOE4 interrompe o transporte e o metabolismo normais de ácidos graxos no cérebro e é um forte fator genético para a doença de Alzheimer de início tardio. Infelizmente, indivíduos positivos para APOE4 se beneficiam menos de intervenções cetogênicas.

Em um estudo randomizado duplo-cego controlado por placebo, 3 meses de suplementação com 20 g de MCT (C8) diariamente melhoraram as medidas cognitivas em pacientes com APOE4-negativos, mas não APOE4-positivos.

De qualquer forma, se você está tendo problemas de memória, se já passou dos 40 anos, se sofreu algum traumatismo craniano, se tem casos de Alzheimer na família é urgente cuidar do cérebro. Em relação à prevenção, foi demonstrado que uma única ingestão de 10 g de TCM (C8+C10) aumentou o potencial redox NAD+/NADH no cérebro de voluntários saudáveis em 18%.

O TCM também tem se mostrado interessante na dieta de pacientes diabéticos. Um estudo com diabéticos tipo 1 atenua prejuízos cognitivos induzidos pela doença.

Historicamente, a maioria dos estudos de TCM são realizados com ácidos grados isolados ou mistura de ácidos graxos caprílico (C8) e cáprico (C10). O ácido cáprico (C10) aumenta a atividade da citrato sintase (enzima da primeira reação do ciclo do ciclo de Krebs), atividade do Complexo I mitocondrial e atividade da catalase. O C8 e C10 aumentam o metabolismo energético e desencadeiam biogênese mitocondrial (aumento do número de mitocôndiras.

C10, mas não C8, modula diretamente a atividade dos receptores AMPA (receptor para glutamato, excitatório), ativa o PPAR-γ. C10 liga-se a PPAR-γ, mediando a transcrição de enzimas antioxidantes como superóxido dismutase e catalase e inibindo várias vias pró-inflamatórias e inflamatórias, incluindo a via NF-kB.

C8 e C10 são convertidos em BHB (C8 mais rapidamente), estimulam a síntese de GABA, reduzem a excitabilidade neuronal e o risco de crises epilépticas. Um dos mecanismos das propriedades anticonvulsivantes do C8 parece ser mediado pelos receptores de adenosina.

Está bem estabelecido que adenosina extracelular elevada reduz a atividade convulsiva em vários modelos de convulsão, e a ação anticonvulsivante é mediada por receptores de adenosina A1R. Um dos principais fatores que controlam a quantidade de adenosina extracelular é a adenosina quinase (ADK). Corpos cetônicos reduzem a atividade ADK que resulta em adenosina extracelular aumentada e atividade convulsiva suprimida.

O βHB parece ser capaz de provocar efeitos anticonvulsivantes através de mecanismos envolvendo A1R (receptor 1 de adenosina). O mecanismo dos efeitos anticonvulsivantes do C8 pode estar relacionado à sinalização por meio dos receptores de adenosina A2aR e A2bR.

Para o efeito anticonvulsivante em crianças a concentração de βHB no plasma frequentemente precisa subir para 4 mM/L. Contudo, algumas conseguem bom controle com concentração mais baixa, por volta de 2 mM/L. Provavelmente, o controle deu-se por mecanismos adicionais como a redução da neuroinflamação e estresse oxidativo.

Em um relato de caso, as convulsões foram significativamente reduzidas em um homem de 43 anos após suplementar sua dieta regular com quatro colheres de sopa de TCM duas vezes ao dia (o que totaliza cerca de 112 g/dia). Grandes doses orais de TCM podem causar diarreia osmótica, especialmente quando tomadas com o estômago vazio. No entanto, a tolerância é melhor quando ingerida junto com as refeições.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/