As dietas cetogênicas (KDs) com baixo teor de carboidratos têm recebido considerável atenção de centros de pesquisa mundiais. São usadas no tratamento de diversas doenças metabólicas incluindo diabetes, câncer, epilepsia e também certos tipos de câncer.
O motivo da dieta cetogênica, aquela que restringe carboidratos e aumenta gorduras, beneficiar tantas doenças é que, frequentemente, as mesmas são acompanhadas de hiperinsulinemia (aumento da insulina). Isto também pode acontecer no câncer.
As células cancerígenas coletam energia da glicose, e o objetivo da dieta cetônica é limitar a quantidade deste nutriente. Falei sobre a desordenação do metabolismo glicolítico no câncer neste outro artigo. O objetivo da dieta cetogênica é minimizar a ingestão de carboidratos e permitir que o corpo obtenha energia da queima de gordura e dos corpos cetônicos produzidos no processo.
Como a dieta cetônica fornece menos glicose de que as células cancerígenas precisam para crescer, os cientistas levantaram a hipótese de que essa dieta pode ajudar no tratamento do câncer, retardando o crescimento do tumor.
Embora haja um benefício hipotético de uma dieta cetônica como adjuvante a outra terapia contra o câncer, ainda não há estudos que mostrem benefício em termo de sobrevida com o uso de uma dieta cetônica em pacientes com câncer. Mesmo assim, existem casos como os da Maggie Jones, uma sobrevivente de câncer estágio 4 metastático.
Com a combinação de terapêuticas convencionais (quimio e radioterapia) + dieta cetogênica baseada em plantas (restrita em carboidratos e riquíssima em gorduras) e redução do estresse Maggie reverteu a doença. A experiência levou a produção do documentário Cancer Revolution, vencedor de muitos prêmios em festivais de cinema ao redor do mundo.
Dieta no Câncer de Ovário e Útero
O câncer de ovário é uma doença que se desenvolve nos ovários e pode se espalhar pela pelve e abdômen. Os ovários são as partes do sistema reprodutor feminino que produzem hormônios e óvulos. As mulheres têm dois ovários, que estão ligados ao útero pelas trompas de falópio. Em alguns casos, o câncer de ovário não é identificado até que se espalhe além dos ovários, chegando ao útero e outros órgãos, dificultando o tratamento. O câncer de ovário é normalmente tratado com cirurgia e quimioterapia sozinhas ou combinadas com a dieta cetogênica.
O paciente vai cortar massas, cereais, açúcar e adicionar quantidades maiores de azeite, abacate, óleo de coco à dieta. Proteínas serão acompanhadas de saladas de folhas, sementes (como girassol e abóbora), óleo e vegetais de baixo índice glicêmico, incluindo brócolis, couve-flor, berinjela, tomate e abobrinha.
Ao substituir carboidratos por gorduras, a dieta cetônica leva o corpo a queimar gorduras em vez de carboidratos como sua principal fonte de energia, o que pode afetar o metabolismo mais amplo das células do corpo.
A dieta é uma maneira de os pacientes com câncer assumirem o controle da sua saúde. Testes em camundongos e pequenos testes com humanos sugerem que a dieta cetônica pode ajudar a retardar o crescimento do tumor, aliviar a inflamação e melhorar o metabolismo glicolítico.
Um estudo publicado em 2021 avaliou a segurança da dieta cetogênica em mulheres com câncer de ovário e/ou endométrio. Os dados foram obtidos de um ensaio randomizado controlado. As mulheres seguiram dieta padrão proposta pela Sociedade Americana de Câncer (alto teor de fibras e baixo teor de gordura) ou dieta cetogênica com 70% de gordura, 25% de proteína, e 5% de carboidratos. O estudo foi feito por 12 semanas (Cohen et al., 2020).
Ao contrário do que se pensa, a dieta cetogênica traz muito mais benefícios do que riscos. Neste estudo, não houve diferenças significativas entre os grupos acerca dos valores de colesterol total, triglicerídeos, HDL-C, LDL-C, relação CT:HDL-C ou razão TG:HDL-C.
Efeitos colaterais comuns no período de ceto-adaptação incluíram fadiga e cãibras musculares. O aumento da ingestão de sódio, potássio e magnésio dos alimentos foi encorajado, assim como o uso de suplementos que ajudam a reduzir estes sintomas.
Apesar da adesão dos pacientes ter sido boa e os efeitos colaterais mínimos o estudo foi limitado pelo baixo tamanho da amostra. Desta forma, novas pesquisas são necessárias e assim que novos resultados surjam estarei postando aqui no blog.
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