Exercício em jejum

Uns defendem que a atividade física em jejum é a chave para queimar gordura, enquanto outros acreditam que é uma ameaça ao desempenho muscular. Vamos explorar o que a ciência diz sobre isso, com um foco na saúde metabólica.

Queima de Gordura no Exercício em Jejum

É verdade que o exercício em jejum aumenta a oxidação de gordura durante o treino, pois baixos níveis de insulina e a ausência de carboidratos exógenos favorecem o uso de gordura como combustível. Além disso:

  • A degradação de triglicerídeos intramusculares (IMTGs) é maior em jejum.

  • Ingerir carboidratos antes do treino aumenta a utilização de glicogênio muscular e reduz a mobilização de gordura.

Porém, em termos de perda de gordura corporal, estudos como os de Schoenfeld e colaboradores (2014) mostram que o jejum não oferece vantagens quando as calorias totais são iguais.

Impacto na Ingestão de Energia

Malhar em jejum pode levar a um déficit calórico, pois pular o café da manhã não resulta em uma compensação completa no restante do dia. Estudos mostram que:

  • Participantes que pularam o café da manhã consumiram, em média, 265 calorias a menos no total diário.

  • Exercitar-se em jejum não diminui a atividade física livre ao longo do dia.

Esses resultados tornam o jejum uma estratégia viável para induzir déficit calórico, especialmente para quem busca emagrecer.

Saúde Metabólica e Níveis de Glicose

Os níveis de açúcar no sangue comportam-se de formas específicas durante o exercício em jejum:

  1. Durante o exercício:

    • Níveis de glicose podem cair ao começar com carboidratos disponíveis, enquanto em jejum, podem subir levemente devido à mobilização do glicogênio hepático.

  2. Após o exercício:

    • Glicose pós-exercício tende a ser maior no jejum, o que pode ajudar na ressíntese de glicogênio muscular, benéfico para quem tem resistência à insulina.

Exercícios em jejum podem aumentar a atividade dos transportadores de glicose (GLUT4), essenciais para o metabolismo energético, sugerindo potenciais benefícios para flexibilidade metabólica.

O jejum influencia a microbiota de diversas formas

  1. Aumento da diversidade microbiana: O JI tem sido associado a uma maior diversidade de bactérias benéficas, o que está relacionado a um sistema imunológico mais forte e menor inflamação.

  2. Redução de bactérias prejudiciais: A ausência de alimentação por períodos determinados pode limitar o crescimento de bactérias associadas a doenças metabólicas, como obesidade e diabetes.

  3. Estimulação de bactérias produtoras de butirato: O jejum pode favorecer o crescimento de bactérias que produzem butirato, um ácido graxo de cadeia curta com propriedades anti-inflamatórias e benefícios para a saúde intestinal.

  4. Sincronização dos ritmos circadianos do intestino: O JI pode ajudar a alinhar os ciclos metabólicos da microbiota com os ritmos circadianos do organismo, promovendo uma digestão mais eficiente e metabolismo otimizado.

A interação entre o jejum intermitente e a microbiota intestinal pode explicar alguns dos benefícios metabólicos do JI, incluindo:

  • Melhor regulação do apetite através da influência nos hormônios da saciedade, como grelina e leptina.

  • Redução da inflamação sistêmica, que muitas vezes é impulsionada por desequilíbrios na microbiota (disbiose).

  • Melhora na absorção de nutrientes e no metabolismo energético.

Jejum e ritmo circadiano

O jejum intermitente pode ter efeitos poderosos sobre os ritmos circadianos, ajudando a alinhar a alimentação e o metabolismo de maneira mais eficiente com os ciclos naturais do corpo.

  1. Sincronização dos ritmos metabólicos
    O corpo possui relógios circadianos que controlam a liberação de hormônios envolvidos no metabolismo, como a insulina e o cortisol. Comer em horários regulares e limitados, como no caso do jejum intermitente, pode ajudar a regular a produção desses hormônios, promovendo melhor controle do açúcar no sangue e uma resposta mais eficiente ao metabolismo energético.

  2. Aumento da eficiência do metabolismo
    Durante o jejum, o corpo entra em um estado de "reparo" e otimiza funções como a queima de gordura e a regeneração celular. Quando o jejum é realizado dentro de uma janela de tempo que respeita os ritmos circadianos, o organismo tem mais chances de utilizar as reservas de gordura de forma mais eficiente, favorecendo a perda de peso e a redução da gordura visceral.

  3. Relação com o sono e o ritmo biológico
    A alimentação em horários específicos pode influenciar o sono. Comer em horários irregulares ou muito tarde pode perturbar o ciclo do sono, enquanto o jejum intermitente, especialmente quando feito em sintonia com o relógio biológico, pode ajudar a regularizar o sono, melhorando a qualidade do descanso.

  4. Restrição alimentar e o ritmo circadiano da microbiota
    Como mencionado anteriormente, o jejum intermitente pode ajudar a alinhar os ritmos biológicos da microbiota intestinal com os ritmos circadianos do corpo. Isso pode otimizar a digestão e a absorção de nutrientes durante a janela de alimentação, além de melhorar a saúde intestinal a longo prazo.

Efeitos em Dietas de Baixo Carboidrato

Quem segue uma dieta cetogênica pode ter uma experiência semelhante ao jejum durante o exercício:

  • Proteínas pré-treino não inibem a oxidação de gordura como carboidratos.

  • Exercícios com glicogênio baixo aumentam a expressão de genes relacionados à biogênese mitocondrial, promovendo adaptações metabólicas.

Considerações sobre Desempenho

Embora treinos em jejum possam ser úteis para adaptações metabólicas, eles podem não ser ideais para competições. Estudos indicam:

  • Exercícios alimentados melhoram o desempenho em atividades prolongadas ou intensas.

  • Em treinos curtos (menos de 60 minutos), o jejum não compromete o desempenho.

  • Treinar em jejum pode ser usado para condicionar os músculos a poupar glicogênio, útil em provas de resistência.

Exercício em Jejum para Mulheres

As evidências são limitadas, mas algumas considerações são importantes:

  • Mulheres queimam mais gordura durante o exercício, o que pode torná-las mais adaptadas ao jejum.

  • Atletas femininas devem ter cuidado com déficits energéticos prolongados, que podem levar à síndrome de deficiência relativa de energia (RED-S) e irregularidades menstruais.

  • Estudos sugerem que o jejum não é inerentemente mais estressante para as mulheres, mas é fundamental observar os sinais do corpo.

Apesar dos possíveis benefícios, existem contra-indicações para o jejum:

  • Gestantes

  • Crianças e adolescentes

  • Pessoas com baixa massa magra (sarcopenia)

  • Indivíduos com caquexia do câncer ou relacionada ao envelhecimento

  • Pessoas com história passada de transtorno alimentar (anorexia nervosa, bulimia, transtorno da compulsão alimentar periódica)

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/