Crianças com transtorno do espectro do autismo (TEA) têm cinco vezes mais chances de desenvolver dificuldades alimentares associadas à seletividade alimentar do que crianças sem TEA, e o grupo com TEA tem maior risco de inadequações alimentares. As dificuldades alimentares podem aumentar entre os 15 e 36 meses de vida (Ashley et al., 2020).
Sabor, cheiro e textura desempenham papéis sensoriais importantes na aceitação ou rejeição de alimentos. A recusa alimentar, a variedade limitada de alimentos com base no tipo ou na textura dos alimentos e a rejeição de certos grupos de alimentos, como vegetais é o que chamamos seletividade alimentar.
Algumas crianças no espectro tem dificuldades gerais com a alimentação, outras apresentam restrições em relação à textura, cor, aroma, apresentação ou temperatura do alimento. A causa da dificuldade pode ser exclusivamente sensorial e o tratamento com terapeuta ocupacional ou nutricionista especialista na área. O encadeamento de alimentos (food chaining) e sensorial oral sequencial são importantes para o tratamento das dificuldades de alimentação (Chehade, Meyer, & Beauregard, 2019).
De forma lúdica, a criança aprenderá a comer alimentos de diferentes formas, texturas, sabores, aromas. Para os que só aceitam industrializados, explorar diferentes marcas. Depois, diferentes sabores. Em seguida, retirar da embalagem e colocar em recipiente de cerâmica da casa. Modificar formatos e apresentações, trabalhar com diferentes quantidades, todas estas são questões trabalhadas na terapia alimentar.
Contudo, as dificuldades alimentares podem advir de outras causas, incluindo refluxo, hipotonia oral, deficiências nutricionais (zinco, ferro), dor de ouvido, disbiose, alergias alimentares, esofagite eosinofílica ou doenças gastrointestinais, transtornos alimentares (Heifert et al., 2016).
Transtornos alimentares no autismo
Existem as crianças com TEA com transtornos alimentares como PICA, transtorno de ruminação, transtorno restritivo evitativo, compulsão alimentar. Pica refere-se ao ato de comer ou colocar na boca itens não comestíveis, como pedras, terra, metal e fezes. A razão para o comportamento pode ser médica, dietética (como carência de ferro), sensorial ou comportamental.
A pessoa com TEA pode desenvolver estes comportamentos por não entender que itens são comestíveis e que itens não o são, para chamar atenção, por estar buscando um estímulo sensorial específico, para alívio da ansiedade, dor ou desconforto. Além de identificar e corrigir a causa da questão, deve-se substituir o item inadequado por um alimento apropriado e de textura semelhante.
A ruminação é outro transtorno alimentar, neste caso, caracterizado pela regurgitação de alimentos após terem sido consumidos. Pode ser gerada por questões psiquiátricas e também por alergias, sendo a mais comum a alergia ao leite de vaca.
O transtorno alimentar restritivo evitativo caracteriza-se pelo fato da pessoa comer muito pouco e/ou evitar comer determinados alimentos. Pode causar perda de peso significativa, crescimento menor que o esperado em crianças, dificuldade em participar de atividades sociais normais e, às vezes, deficiências nutricionais potencialmente fatais.
Para adultos com boa cognição, a terapia cognitivo-comportamental pode ajudar a pessoa a aprender a comer normalmente e ajudá-la a sentir menos ansiedade em relação ao que come.
A causa exata da ingestão alimentar restritiva evitativa é desconhecida, mas podem existir fatores genéticos, biológicos, psicológicos, comportamentais, emocionais, sensoriais e sociais envolvidos (por exemplo, trauma, ansiedade, baixa produção enzimática, excesso de gases, disbiose, inflamação, infecções, doença autoimune etc).
Questões não tratadas podem gerar mais desnutrição, inflamação, agravar as questões sensoriais, motoras. O tratamento é lento, a família e os profissionais precisam ser persistentes e constantes. Não force a criança a comer, não brigue, mas não pare.