PREVENÇÃO DO COMPROMETIMENTO COGNITIVO EM PACIENTES COM ESCLEROSE MÚLTIPLA

A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica, que surge habitualmente na terceira década de vida, com o dobro da frequência no gênero feminino. A maioria dos casos é diagnosticada entre os 20 e os 50 anos, mas pode afetar pessoas com idades entre os dois e os 75 anos. Embora não seja fatal, é muito incapacitante, influenciando de modo significativo todos os aspetos da vida dos pacientes.

A característica principal da doença é a destruição da bainha de mielina, impedindo uma adequada comunicação entre o cérebro e o corpo. Por outro lado, o processo inflamatório que ocorre nesta doença lesiona as próprias células nervosas, causando perda permanente de diversas funções, dependendo das zonas afetadas.

A disfunção cognitiva é uma característica comum da esclerose múltipla (EM), afetando aproximadamente 40% a 60% dos pacientes em algum momento. O comprometimento cognitivo geralmente se manifesta como déficits na memória recente, atenção, velocidade de processamento de informações, funções executivas e percepção visuoespacial. Mesmo uma disfunção cognitiva aparentemente menor pode ser problemática e prejudicar a capacidade de trabalho e a independência.

Como prevenir o declínio cognitivo?

Em estudo apresentado em 2023 no congresso da Academia Americana de Neurologia, a dieta mediterrânea foi associada a uma melhor cognição em pessoas com EM. Estudo que acompanhou 563 pacientes com esclerose múltipla em uma coorte clínica, mostrou que uma maior adesão a uma dieta mediterrânea reduziu o risco de comprometimento cognitivo em 20%.

Um padrão de dieta mediterrânea inclui uma alta ingestão de vegetais, legumes, frutas, peixes e gorduras saudáveis, como azeite, e uma baixa ingestão de laticínios, carne e ácidos graxos saturados. Este não é o primeiro estudo que associa esta dieta à uma melhor cognição.

O estudo de Sand e colaboratores avaliou 563 pacientes com EM que completaram o instrumento MEDAS para avaliação da adesão à dieta mediterrânea. As pontuações variam de 0 a 14, com pontuações mais altas indicando melhor adesão. Os pacientes também passaram por uma bateria de testes cognitivos. O comprometimento cognitivo foi definido como pontuação abaixo do quinto percentil em dois ou três testes.

A média de idade dos pacientes foi de 44 anos, e 71% eram mulheres. Os participantes foram divididos em quatro grupos; o grupo mais baixo (133 pessoas) teve pontuações MEDAS de 0-4 e o grupo mais alto (103 pessoas) teve pontuações MEDAS de 9 ou mais. Pontuações MEDAS mais altas previram independentemente melhor cognição.

No geral, 19% dos participantes tinham comprometimento cognitivo, variando de 34% no grupo MEDAS mais baixo a 13% no grupo MEDAS mais alto. Após controlar importantes fatores de confusão em potencial, foi observada uma associação significativa entre a pontuação da dieta mediterrânea e a cognição em uma amostra representativa de pessoas com EM.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/