DIETA E DIAGNÓSTICOS PSIQUIÁTRICOS E NEUROLÓGICOS

A bíblia da psiquiatria é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). É o manual usado para diagnóstico de transtornos do neurodesenvolvimento, esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos traumáticos, alimentares, disfunções sexuais, transtornos de conduta, aditivos, neurocognitivos, mentais, dentre outros.

O pressuposto é que cada diagnóstico define uma doença única, com determinado prognóstico, trajetória de vida e proposta de tratamento. O diagnóstico é extremamente útil para que o paciente possa entender-se melhor e possa começar a ser ajudado. Conduto, vários pacientes recebem um diagnóstico (como depressão), iniciam o tratamento, não melhoram. Recebem outro diagnóstico (depressão + ansiedade). Tratam e não melhoram. Recebem um terceiro diagnóstico (depressão + ansiedade + TDAH ou outro) e seguem sem melhorias.

Cada diagnóstico é, na verdade, uma síndrome, uma constelação de sinais e sintomas cujas causas não são exatamente definidas. Estudos mostram contribuições genéticas, ambientais, biológicas que não são exclusivas de uma única doença. Um mesmo gene pode aumentar o risco de autismo, transtorno bipolar e transtorno de conduta, apesar de serem diagnósticos totalmente diferentes. Ou o risco de TDAH, depressão e transtorno obsessivo compulsivo. Ou esquizofrenia e transtorno de personalidade. Inúmeras combinações são possíveis. E, de fato, as comorbidades são muito comuns. É raro um paciente com apenas um diagnóstico. Contudo, mais rótulos não garantem a eficácia dos tratamentos medicamentosos, nem a melhoria do paciente.

Claro que medicamentos são importantes, muitas vezes essenciais e, constantemente salvam vidas. Podem controlar, mas não corrigem, nem tratam as condições psiquiátricas e neurológicas. Desta forma, a adesão à outras terapêuticas é fundamental. Psicoterapia deve ser sempre associada à medicação. Mas esta combinação também não corrige questões biológicas comuns do cérebro destes pacientes.

O interesse na psiquiatria nutricional tem crescido à medida que pacientes com síndrome metabólica (diabetes ou resistência insulínica, hipertensão, obesidade) iniciaram tratamento com dieta cetogênica. Para surpresa das equipes de saúde, não só os pacientes estavam fisicamente e metabolicamente mais saudáveis, mas também mentalmente melhores, voltando às suas vidas, mais animados, vendo o futuro com esperança.

A dieta cetogênica tem uma história de mais de 100 anos de sucesso no tratamento da epilepsia. Medicamentos antiepilépticos/anticonvulsivantes (valproato, carbamazepina, lamictal, topiramato, diazepam, clonazepam, alprazolam) equilibram os neurônios. Como não funcionam para todos os pacientes, mesmo quando combinados, a dieta cetogênica entra em conjunto ou em substituição, com o mesmo efeito.

Por outro lado, estes mesmos medicamentos, capazes de reduzir convulsões também são frequentemente prescritos para outras doenças psiquiátricas, como transtornos depressivos e de ansiedade. Desta forma, a comunidade científica começou a perguntar-se. Se a dieta cetogênica é tão boa (em alguns casos, até melhor) do que a medicação na epilepsia, não poderia ser tão boa (ou melhor) do que a prescrição destas drogas nas outras doenças psiquiátricas?

Finalmente estamos começando a ter estudos aleatorizados nestas áreas com evidências cada vez maiores de que a dieta cetogênica deve sim ser testada nos pacientes que não conseguiram ao longo dos anos melhoria na qualidade de vida com os tratamentos convencionais.

DISFUNÇÃO METABÓLICA NOS TRANSTORNOS MENTAIS

Fiz parte do meu doutorado na Faculdade de Saúde Pública de Harvard e um dos trabalhos que me impactou quando estive por lá foi o do professor Chris Palmer, psiquiatra e autor do livro Brain Energy. Sua teoria, baseada em décadas de pesquisas clínicas, neurocientíficas e metabólicas, é de que os transtornos mentais são distúrbios metabólicos do cérebro.

Essa teoria não descarta os fatores genéticos, psicológicos e sociais, mas oferece novas soluções no campo da saúde mental. De compulsão alimentar à transtorno bipolar, a teoria acredita na importância da correção metabólica, por diversos mecanismos. E a nutrição é peça chave neste ínterim.

Não há um medicamento que, ao mesmo tempo, apoie a produção de neurotransmissores, reduza a neuroinflamação e o estresse oxidativo, module o eixo HPA, corrija a bioenergética cerebral e a disfunção sináptica. Mas a dieta faz isso e tanto ela, quanto a suplementação que apoia o cérebro é discutida nas dezenas de aulas da plataforma https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/