A mitocôndria é uma organela celular. Possui 37 genes, sendo que 13 codificam proteínas envolvidas no metabolismo energético e fabricação de ATP e os outros 24 estão envolvidos na regulação epigenética, ou seja, na forma como nossos genes comportam-se.
Fonte da imagem: Varsomics
Os 37 genes da mitocôndria são herdados exclusivamente da mãe. Contudo, outros 1.300 genes importantes para o funcionamento mitocondrial estão no DNA do núcleo celular e são herdados, uma cópia do pai e outra da mãe.
As disfunções mitocondriais estão envolvidas em problemas metabólicos e mentais. Contudo, a maioria destas doenças não acontece por mutações genéticas e sim por infecções ou por conta de um estilo de vida alterado. Por exemplo, quando uma pessoa contrai uma virose (como Sars-Cov-2) ou é infectado por uma bactéria (como doença de Lyme, causada pela bactéria Borrelia burgdorferi ou Borrelia mayonii, transmitidas pelos carrapatos dos animais).
O sistema imune do organismo é acionado para combater a doença e para podermos sobreviver. Ele é muito eficiente nesta resposta inflamatória e protetora. Contudo, consome muitos nutrientes, fazendo com que muitas células sofram por privação. Se a inflamação e a doença perduram demais, podemos ter problemas.
É o que acontece também com quem tem inflamação crônica de baixo grau, causada por sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool, estresse, má alimentação ou obesidade, sono insuficiente, uso de drogas, disbiose intestinal. O corpo sente-se sempre agredido, está precisando sempre se defender e, como o tempo, várias células começam a sofrer.
Por exemplo, o uso de maconha (rica em THC) faz com que a respiração celular mitocondrial seja comprometida, o que pode levar inclusive a atrofia de certas partes do cérebro (Battistella et al., 2014), reduzindo motivação.
Qualquer uma dessas questões pode gerar redução no metabolismo mitocondrial. Para pessoas com alterações genéticas ou que já tiveram transtornos mentais anteriormente, a complicação tende a ser maior e gerar sintomas associados às doenças mentais ou neurológicas.
Inflamação, gerada por infecções, mofo, disbiose, etc., podem ser gatilhos para sintomas associados a questões como esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo, transtornos do neurodesenvolvimento (autismo, TDAH), convulsões, dificuldade de aprendizagem, ansiedade, depressão, consistentes com o modelo mais abrangente que temos hoje para pensar nestas doenças.
Duas funções primordiais das mitocôndrias nos ajudam a entender estas relações. Uma primeira função da mitocôndria é a produção de energia (ATP). Outra função é a produção de constituintes para a síntese de neurotransmissores. Sem um bom funcionamento mitocondrial nada disso acontece e os neurônios podem, inclusive, morrer.
DISFUNÇÃO METABÓLICA NOS TRANSTORNOS MENTAIS
Fiz parte do meu doutorado na Faculdade de Saúde Pública de Harvard e um dos trabalhos que me impactou quando estive por lá foi o do professor Chris Palmer, psiquiatra e autor do livro Brain Energy. Sua teoria, baseada em décadas de pesquisas clínicas, neurocientíficas e metabólicas, é de que os transtornos mentais são distúrbios metabólicos do cérebro.
Essa teoria não descarta os fatores genéticos, psicológicos e sociais, mas oferece novas soluções no campo da saúde mental. De compulsão alimentar ao transtorno bipolar, a teoria acredita na importância da correção metabólica, por diversos mecanismos. E a nutrição é peça chave neste ínterim.
Não há um medicamento que, ao mesmo tempo, apoie a produção de neurotransmissores, reduza a neuroinflamação e o estresse oxidativo, module o eixo HPA, corrija a bioenergética cerebral e a disfunção sináptica. Mas a dieta faz isso e tanto ela, quanto a suplementação que apoia o cérebro, é discutida nas dezenas de aulas da plataforma https://t21.video.
