O coração deve produzir grandes quantidades de ATP para manter a função contrátil. No entanto, possui estoques de energia limitados, juntamente com uma capacidade limitada para produzir glicose (gliconeogênese), glicogênio (glicogênese), gorduras (lipogênese), corpos cetônicos (cetogênese). Mas se estes substratos chegarem ao coração ele conseguirá queimá-los. De fato, o órgão possui uma notável flexibilidade metabólica.
O coração saudável utiliza ácidos graxos como a principal fonte de acetil-CoA (40-60% da produção cardíaca total de acetil-CoA), enquanto os carboidratos (glicose e lactato) representam o segundo maior contribuinte para a produção cardíaca de acetil-CoA (20–40%). Os corpos cetônicos (β-hidroxibutirato, acetoacetato e acetona) contribuem com 5–10% da produção cardíaca total de ATP em indivíduos saudáveis.
ONDE OS CORPOS CETÔNICOS SÃO PRODUZIDOS?
A cetogênese ocorre predominantemente no fígado, que converte o acetil-CoA derivado de ácidos graxos em corpos cetônicos e os libera nos tecidos extra-hepáticos para apoiar a produção de energia. A concentração de corpos cetônicos no sangue é governada pelo estado nutricional, físico e hormonal. Os níveis circulantes de cetona em humanos podem variar de <0,1 mM em um estado alimentado até 6 mM após um jejum prolongado e e pode chegar a 25 mm em diabetes não controlado (cetoacidose diabética ).
A adesão a uma dieta cetogênica (uma dieta com alto teor de gordura e baixo teor de carboidratos) também aumenta os níveis circulantes de corpos cetônicos, estimulando a lipólise do tecido adiposo, a mobilização de ácidos graxos, a cetogênese hepática e, finalmente, a indução de uma cetose leve a moderada (0,6 a 1,5 mM).
Esses aumentos nos níveis circulantes de corpos cetônicos têm o potencial de estimular a oxidação cardíaca de cetonas com base no aumento do suprimento de substrato oxidativo para o coração.
É importante notar que a insulina desempenha um papel fundamental na regulação do metabolismo energético cardíaco. A insulina estimula as taxas de oxidação da glicose e inibe as taxas de oxidação de ácidos graxos no coração. Assim, quanto mais carboidratos uma pessoa consome ou quanto mais altos são seus níveis de insulina plasmática, menos corpos cetônicos o coração e outros tecidos utilizarão como fonte de energia.
Corpos cetônicos liberam mais energia na forma de calor em comparação com a glicose (243,6 vs. 223,6 kcal/mol para unidades de 2 carbonos) e geram mais ATP por oxigênio consumido em comparação com os ácidos graxos (P/ O ratio = 2,5 para corpos cetônicos vs. 2,33 para ácidos graxos). No entanto, a glicose (P/O = 2,58) é, de fato, um substrato mais eficiente em oxigênio em comparação com a cetona, e o ácido graxo é um substrato mais denso em energia do que a cetona (o palmitato libera 298 kcal/mol de unidades de 2 carbonos) , sugerindo que a cetona não é um combustível mais econômico do que os ácidos graxos ou a glicose, além de não aumentar a eficiência cardíaca. Contudo, pode ser um nutriente essencial para pessoas com insuficiência cardíaca
CORPOS CETÔNICOS PODEM SE TORNAR A PRINCIPAL FONTE DE ENERGIA EM PACIENTES CARDÍACOS
A Insuficiência Cardíaca corresponde a uma situação clínica na qual o coração perde a sua capacidade de bombear o sangue de modo a satisfazer as necessidades de oxigênio e de nutrientes do organismo.
Muitos dos sintomas da insuficiência cardíaca são uma tentativa do organismo compensar a crescente incapacidade do coração em fazer chegar o sangue a todo o corpo. Esta compensação passa por um aumento da força e da contração do músculo cardíaco e do seu próprio ritmo, que pode gerar palpitações; ou por uma maior retenção de sal e água a nível dos rins de modo a aumentar o volume de sangue circulante, o que pode causar inchaços nos pés, nas costas, no abdomen e nos pulmões.
Na insuficiência cardíaca já instalada, um dos principais sintomas é o cansaço e a falta de ar, que ocorre após esforços cada vez menores ou mesmo em repouso. Pode também haver perda de apetite, tosse ou aumento de volume do abdómen.
Há um aumento na capacidade de uso de corpos cetônicos em corações de pessoas com insuficiência cardíaca. Isto acontece pelo desenvolvimento de resistência cardíaca à insulina nos doentes. Essa redução dos efeitos metabólicos da insulina no coração favorece a diminuição da oxidação da glicose e o aumento da oxidação dos ácidos graxos.
A resistência insulínica junto com a menor capacidade de oxidação de carboidratos e gorduras na insuficiência cardíaca tornam os corpos cetônicos um "combustível econômico" para o coração debilitado, apesar de não melhorar a eficiência cardíaca.
Prevenção e tratamento da insuficiência cardíaca
Para prevenir a insuficiência cardíaca algumas atitudes são fundamentais:
não fumar;
evitar o estresse;
ter uma alimentação balanceada;
praticar atividade física regularmente;
manter níveis saudáveis de glicose sanguínea;
controlar a pressão arterial.
Estas estratégias preventivas são fundamentais pois a insuficiência cardíaca quando instalada não pode ser revertida e o tratamento visa apenas a melhoria da qualidade de vida, a autonomia e reduzir a mortalidade associada a esta condição.
Para pacientes com cansaço e falta de ar a dieta cetogênica pode ser uma opção pois o uso de carboidratos gera mais gás carbônico do que o uso de gorduras ou corpos cetônicos. O controle da ingestão de sal é relevante pra os pacientes com edema. Quanto menos inchaço menor é a sobrecarga cardíaca. Medicamentos diuréticos podem ser necessários, assim como medicamentos vasodilatadores e drogas que aumentem a força do músculo cardíaco (como digoxina). Se a insuficiência cardíaca é grave e o paciente não responde ao tratamento pode haver indicação de transplante cardíaco. Contudo, encontrar o coração ideal para transplante depende de uma espera longa e difícil e o ideal é fazer a prevenção.