Recomendação de lipídios de precisão

A obesidade e as dislipidemias são fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. A patogênese dessas doenças envolve fatores ambientais, como a nutrição, mas outros aspectos como polimorfismos genéticos conferem suscetibilidade ao desenvolvimento de obesidade e dislipidemias. Conhecer a genética do paciente ajuda o nutricionista a estruturar uma dieta mais adequada para a prevenção e tratamento destas questões.

Genética e alterações metabólicas

Estilo de vida sedentárioi e dieta inadequada estão entre os principais fatores de risco para obesidade. Contudo, a genética também conta. Dados baseados em estudos de associação genômica ampla (GWAS) sugerem que variações genotípicas em nucleotídeos específicos - polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) podem aumentar o risco de obesidade e dislipidemias. Alguns genes merecem destaque nos estudos: CETP, APOE, APOA1, APOA5, PPAR, LEPR, LIPC,

  • CEPT

A proteína de transferência de éster de colesterol (CETP) é uma proteína sintetizada no fígado, e sua função é mediar a transferência de ésteres de colesterol do HDL (lipoproteína de alta densidade) para o VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade), quilomícrons, LDL (lipoproteína de baixa densidade) e a transferência de triacilgliceróis (TAG) de VLDL e quilomícrons para HDL. Quando esta proteína é inibida, ocorre aumento do HDL-c e diminuição do LDL-c.

Pessoas com a variação T para CETP rs3764261 (TT e TG) apresentaram concentrações plasmáticas de HDL-c mais elevadas, o que costuma ser bom. Também apresentaram menores concentrações de TAG seguindo a mesma dieta que GG. Assim, indivíduos GG devem adotar dieta com menor teor de gordura saturada do que TT e TG.

  • Apolipoproteína E

APOE é talvez um dos genes mais estudados para interações gene-dieta devido à sua importância como uma proteína reguladora essencial na homeostase do colesterol. É um transportador de lipoproteínas ricas em TAG. As variantes APOE E3/E4 e E4/E4 estejam associadas a maiores riscos de doenças cardiovasculares, devendo consumir menos gordura saturada e mais gordura monoinsaturada para se protegerem. Estes indivíduos também reduzem mais triglicerídeos com suplementação de 3,45 g de ω-3 ao dia.

  • Apolipoproteína A1

O gene APOA1 codifica uma proteína que desempenha um papel fundamental como componente do HDL. Desempenha um papel fundamental no transporte reverso de colesterol, pois promove o transporte de colesterol dos tecidos para o fígado para excreção. APOA1 rs670 G tendem a ter LDL-c mais alto e redução com dieta pobre em gordura saturada.

  • Apolipoproteína A5

A apolipoproteína A5 (APOA5) é produzida no fígado e suas principais associações de lipoproteínas são VLDL-c, quilomícrons e HDL-c. Sua função primária é promover a atividade da lipoproteína lipase (LPL) na lipólise do TAG. Também desempenha um papel fundamental na regulação do TAG plasmático. Indivíduos APOA5 rs964184 CG e GG se beneficiam de dietas restritas em gordura para reduzir coleserol total e LDL-c.

  • Receptores Ativados por Proliferador de Peroxissoma

A família PPAR engloba reguladores transcricionais críticos do metabolismo de lipídios e carboidratos. Os isotipos de PPAR incluem PPARα, PPARδ e PPARγ, e estes codificam uma grande variedade de genes responsáveis ​​pela homeostase da glicose e carboidratos, bem como pelo metabolismo do colesterol. Qualquer alteração nesses genes pode levar à obesidade e doenças cardiovasculares. Por exemplo, o alelo C do PPARα é um regulador crucial do metabolismo lipídico e é conhecido por ter efeitos cardioprotetores porque se associa a níveis mais altos de HDL-c e níveis reduzidos de TAG e VLDL-c.

Co-portadores dos alelos PPARγ rs1801282 G (Ala12) e PPARα rs1800206 V (Val162) possuem 45,7% menos LDL-c e 53,5% menor sdLDL ( LDL-c pequeno e denso) com a dieta rica em gorduras monoinsaturadas, em comparação com dieta baixa em gordura.

  • Receptor de Leptina

O Receptor de Leptina (LEPR) é responsável por codificar o receptor de leptina, um hormônio que regula o apetite e o peso corporal. LEPR também está envolvido em outros mecanismos como a regulação do metabolismo da gordura. Mutações neste gene estão associadas à obesidade.

Portadores de LEPR rs1137101 G possuem risco duas vezes maior de níveis de colesterol total ≥ 200 mg/dl. Indivíduos AG/GG do polimorfismo rs1137101 no gene LEPR com ingestão ≥12 g/dia de ácidos graxos saturados têm risco 3,8 vezes maior de níveis de colesterol ≥200 mg/dl e risco 2,4 vezes maior de triglicerídeos ≥150 mg/dl do que aqueles com ingestão <12 g/dia de saturados.

  • Lipase Hepática (LIPC)

LIPC é uma enzima lipolítica que hidrolisa TAG e fosfolipídios presentes em lipoproteínas plasmáticas como quilomícrons, lipoproteínas LDL e HDL, liberando ácidos graxos livres e partículas menores de lipoproteínas. Homozigotos TT de LIPC C-514T rs1800588 apresentaram maiores níveis de TAG com maior ingestão de gordura.

  • Lipoproteína Lipase

A lipoproteína lipase (LPL) é uma enzima crucial para o metabolismo lipídico. Catalisa a hidrólise de triacilgliceróis de quilomícrons e VLDL-c para fornecer ácidos graxos livres para oxidação e, posteriormente, seu uso no coração e outros tecidos e seu armazenamento no tecido adiposo. O polimorfismo rs13702T > C foi fortemente associado com menor TAG em portadores C e interagiu sinergicamente com a ingestão de gorduras monoinsaturadas e insaturadas.

  • Ácido Graxo Dessaturase

Os genes da família de genes da dessaturase de ácidos graxos (FADS) controlam a via de metabolismo de ácidos graxos no corpo humano. Este gene codifica uma proteína (enzimas dessaturase) que controla e regula a insaturação dos ácidos graxos através da introdução de duplas ligações entre os carbonos definidos da cadeia do respectivo ácido graxo. A proteína codificada pelo gene FADS1, por exemplo, dessatura os PUFAs ω-3 e ω-6, atuando como d-5 dessaturase, formando EPA e ácido araquidônico.

Polimorfismos de FADS1 e FADS2 aumentam a necessidade de suplementação de ômega-3. Vários outros genes afetam os níveis de colesterol e triglicerídeos plasmáticos:

Front. Nutr., 21 March 2022 | https://doi.org/10.3389/fnut.2022.830283

Conhecer o perfil genético dos pacientes facilita o tratamento. Marque uma consulta para solicitar ou avaliar seu exame nutrigenético.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/