Dieta Banting

O Dr. Tim Noakes acabou de lançar um livro sobre dieta cetogênica. Ainda não adquiri (custa 150 euros). Descobri que eu tinha um livro dele no meu kindle, comprado em 2020 e que acabei não lendo: The Banting Pocket Guide. Devo ter comprado na curiosidade, sou meio compulsiva com livros. Mas, afinal, resolvi ler.

A dieta Banting tem uma longa história, usada pela primeira vez por William Banting em 1862, que nunca a documentou. William era obeso e, estimulado pelo próprio sucesso na perda de peso, escreveu um panfleto, agora considerado o primeiro livro de dieta, para divulgar essa abordagem terapêutica com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura (LCHF).

O panfleto ficou muito famoso, foi traduzido a várias línguas. Na Alemanha, sofreu alterações e era recomendada pelo cardiologista Wilhelm Ebstein, autor do livro Corpulence And Its Treatment On Physiological Principles, reeditado várias vezes. A dieta e sua adaptação funcionavam, reduzia a fome e o peso. Mas acabou sendo esquecida por muito tempo. Os Estados Unidos propagou uma onda de alegações em que discriminava o consumo de gordura, manteiga e ovos, alegando que eram causas de todos os males.

Estas recomendações, pensadas em 1977, foram seguidas por muitos países ocidentais, incluindo Brasil e Portugal, que adotaram a famosa pirâmide alimentar, com os carboidrato na base. Esta foi a pirâmide que aprendi na faculdade, assim como médicos e nutricionistas ao redor do mundo desde a década de 1980.

Para Tim Noakes, cientista sul-africano, estas recomendações gerais de alto consumo de carboidratos, associada ao corte das gorduras, foram responsáveis pela epidemia de diabetes, esteatose hepática não alcoólica, doenças arteriais que afetam cérebro, coração, rins, olhos… Em resumo, o pesquisador acredita que este guia pensado para a proteger a população contribuiu para a cegueira, ataques cardíacos, derrames, falência renal e hepática, gangrenas e amputações.

Apenas a partir de 2015 com a revisão do guia alimentar para americanos, pelo USDA, foi posto um fim na restrição no consumo de gorduras (Mozaffarian, & Ludwig, 2015). O guia aponta, na página 32 que o consumo excessivo de carboidratos contribui para a elevação de triglicerídoes e redução no colesterol HDL (o “bom colesterol”).

Na página 35, o guia reconhece que não há uma dieta que serve para todos e coloca que o consumo de carboidratos, proteína e gorduras pode ser flexível. Mesmo assim, continua promovendo um alto consumo de carboidratos, com a alegação de que seriam uma opção nutritiva para a população. Também mantém a crítica às gorduras saturadas em detrimento de óleos poliinsaturados, como girassol, canola, milho, soja, que passam por processos industriais complexos, são ricos em ômega-6 e geram mais inflamação.

Os guias alimentares ao redor do mundo sempre receberam muitas críticas uma vez que sua construção não é isenta da influência de produtores de alimentos e da indústria de alimentos. Por exemplo, como recomendar no guia que a população brasileira não coma açúcar, se o Brasil é um dos principais produtores deste insumo e a produção precisa escoar?

Este problema é mundial. Na África do Sul, a obesidade e o diabetes tipo 2 também são questões de saúde pública. Por lá, Tim Noakes, adaptou a dieta original de Banting e documentou a sua versão num livro intitulado Real Meal Revolution. Depois, para atender os leitores que desejavam um menor formato, e cheio de receitas lançou o The Banting Pocket Guide.

Tim Noakes explica que temos apenas 5g de glicose circulando a cada momento em nosso sangue. Cada adulto possui 5 litros de sangue e mantém a quantidade de açúcar dentro de um controle estrito. Quando comemos uma macarronada com 50 a 80g de carboidratos, isto obviamente representa um desequilíbrio e risco enorme.

Para manter o equilíbrio, o pâncreas secreta insulina, hormônio cujo principal objetivo é manter os níveis de glicose sob controle. Contudo, um alto consumo de carboidrato e uma alta secreção de insulina associam-se a:

  • Acúmulo de gordura, especialmente na região abdominal;

  • Ganho de peso

  • Danos arteriais

  • Esteatose hepática

  • Aumento da pressão arterial

  • Gota

  • Inflamação crônica

  • Disfunção mitocondrial

  • Fadiga crônica

  • Resistência insulínica

Para Tim Noakes, sabemos qual é o inimigo e podemos corrigir o metabolismo seguindo a dieta Banting.

Como funciona a dieta Banting?

A dieta original incluía quatro refeições por dia que incluíam proteínas como carne ou peixe com uma porção restrita de carboidratos de cerca de 25-30 gramas, além de uma porção de fruta como lanche. Pão, feijão, manteiga, leite, açúcar e batatas foram fortemente restringidos.

Tim Noakes revisou a dieta Banting original em quatro fases distintas, projetadas para levar quem está fazendo dieta a um novo padrão de alimentação. A versão atualizada tem mais do que uma semelhança passageira com a dieta cetônica, ela restringe os carboidratos a 5 a 10 por cento das calorias diárias, com 65 a 90 por cento provenientes de gordura e 10 a 35 por cento de proteínas. O plano está definido da seguinte forma:

Fase 1: observação – durante uma semana você continua a seguir a sua própria dieta, sem alterações, mantendo um diário alimentar abrangente para ajudá-lo a reconhecer como seu corpo responde aos alimentos que você ingere.

Fase 2: restauração – nas semanas 2 a 12, dependendo da quantidade de perda de peso necessária, o paciente segue uma dieta destinada a restaurar a saúde intestinal e aclimatá-lo ao estilo Banting. Durante esta fase você uma lista de alimentos é fornecida. A lista contém alimentos a serem evitados como farinhas, doces, bebidas adoçadas, suplementos para perda de peso, molhos para salada, batatas, frutas com alto teor de carboidrato, soja, alimentos ultraprocessados, fast food, adoçantes artificiais, beterraba, cenoura, batata doce, abóbora, leguminosas.

O paciente recebe uma lista com os alimentos liberados - todos os tipos de carnes, peixes, frutos do mar, cottage cheese, iogurte grego integral, óleos e gorduras, frutas (morangos, mirtilos, framboesa, groselha, lima, limão, abacate), sementes, castanhas, adoçantes (eritritol, xilitol e estévia), vegetais verde escuros, aspargos, berinjela, repolho, couve flor, abobrinha, pepino, cogumelos, azeitonas, cebola, alho, feijão verde, tomate, pimentão etc).

Fase 3: transformação – esta fase vai um passo além, com o objetivo de atingir a cetose. É a fase mais difícil e a mais próxima da dieta original de Banting. O paciente deve atingir a cetose e para isso, ajustes aos alimentos acima podem ser necessários, além de modificações no estilo de vida, incluindo exercícios, jejum intermitente e meditação.

Fase 4: preservação – a fase final dura indefinidamente e começa assim que você atingir o peso ideal. A fase é mais flexível, permitindo a reintrodução de alguns alimentos, mais frutas, vegetais. Agora você terá uma melhor compreensão dos alimentos que funcionam para você e para a manutenção do seu peso, permitindo que você personalize seu plano e mantenha seus objetivos de perda de peso.

Quais são os potenciais benefícios de seguir a dieta Banting?

Estudos sugerem que a restrição significativa de carboidratos torna o corpo mais flexível e apto a queimar gordura. Perda de peso, mais energia, melhor controle das taxas de açúcar e dos níveis de insulina no plasma, redução do risco de doenças cardíacas, melhor controle do apetite, estão entre os benefícios destacados pela literatura. A depender das restrições suplementos alimentares serão necessários. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta online.

Para quem a dieta não é recomendada?

Jejuns e dietas com restrição de carboidratos não são recomendadas pra crianças, gestantes, pessoas que já tenham um baixo percentual de gordura, indivíduos com caquexia (perda de massa magra associada ao envelhecimento ou câncer).

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O professor Tim Noakes foi processado pelo Conselho de Nutricionistas da África do Sul por conduta antiética ao promover a dieta low carb. Após 3 anos de julgamento e muito sofrimento foi inocentado de todas as acusações. Este documentário fala dos benefícios da dieta com baixo teor de carboidratos e conta como foi o processo contra o Dr. Noakes:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/