Metabolômica da depressão

A depressão é um transtorno psiquiátrico complexo e clinicamente heterogêneo que afeta 10 a 15% das pessoas durante a vida e representa uma das principais causas de incapacidade e suicídio. A eficácia dos antidepressivos a longo prazo é relativamente baixa (< 50%).

Existem muitas hipóteses sobre as causas da depressão e várias pesquisas sugerem uma forte interação entre genes e ambiente. Os fatores que afetam os sistemas nervoso, endócrino, metabólico e imunológico e, consequentemente, influenciam o desenvolvimento da depressão incluem fatores genéticos e epigenéticos, sexo, reatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), bem como influências ambientais, como toxinas, adversidades no início da vida, status socioeconômico e estresse.

Uma pessoa deprimida pode ter uma vida e características bem diferentes de outra. O ideal seria, além da avaliação clínica e bioquímica, a realização da análise metabolômica, para uma melhor estratificação dos subtipos depressivos e elucidação de interações complexas entre genes e ambiente.

Por exemplo, vários estudos demonstraram o envolvimento do estresse oxidativo na depressão, como evidenciado pela observada peroxidação lipídica elevada, maior geração de radicais livres de oxigênio (ROS) e disfunção das mitocôndrias.

Em pacientes com depressão, tanto o aumento da produção de ROS quanto sua neutralização prejudicada por mecanismos antioxidantes e de desintoxicação foram encontrados. Este desequilíbrio oxidante-antioxidante na depressão pode resultar em maior dano de várias biomoléculas, incluindo o DNA.

Aumento de lisofosfolipídios plasmáticos, monoglicerofosfolipídios e fosfatidiletanolaminas, que estão envolvidos em importantes processos celulares, como armazenamento de energia, integridade de membrana, bem como sinalização celular, sobrevivência e apoptose, têm sido encontrados em pacientes depressivos, juntamente com níveis diminuídos de ácidos graxos livres.

Níveis mais baixos de diferentes moléculas de acilcarnitina, observados no plasma de indivíduos com depressão, podem ser usados ​​como possíveis biomarcadores da doença. Nestes pacientes, a acetil-l-carnitina pode ser eficaz para o tratamento da depressão. As moléculas de carnitina são muito importantes para o transporte de um grupo acil graxo de cadeia longa através da membrana mitocondrial interna.

Concentrações plasmáticas reduzidas de amida esteárica e palmítica, bem como de ácido litocólico, desoxicólico, glicodesoxicólico, glicoursodesoxicólico e tauroquenodesoxicólico foram encontradas na depressão. O aumento do ácido palmítico induz comportamentos semelhantes à ansiedade em animais, enquanto a diminuição dos níveis cerebrais de ácido palmítico está associada a efeitos ansiolíticos. Já os ácidos esteárico, glicoursodesoxicólico e tauroquenodesoxicólico demonstraram exercer efeitos neuroprotetores. Ou seja, em pacientes com desequilíbrios de ácidos graxos a proporção de gorduras na dieta precisará ser revista.

Possíveis alterações de metabólitos na depressão (Erjavec et al., 2018)

Os resultados que demonstram níveis séricos mais elevados de glutamato e aspartato na depressão sugerem possíveis anormalidades na via de aminoácidos do ciclo da ureia no fígado ou a interrupção da função do receptor NMDA. Os níveis elevados de alanina, taurina, citrato, formato, glicina, isobutirato e nicotinato, envolvidos na gliconeogênese e síntese de ácidos graxos, foram observados na urina de pacientes com depressão. Além do aumento desses aminoácidos, níveis mais baixos de glicose, lactato e piruvato no plasma ou na urina, bem como níveis aumentados de α-cetoglutarato, succinato, malonato, metilmalonato e succinil-CoA apoiaram ainda mais o desequilíbrio entre glicólise e gliconeogênese e mudança para o catabolismo de ácidos graxos e/ou aminoácidos na depressão.

Uma diminuição nos níveis de triptofano e tirosina encontrados na depressão, também pode sugerir aumento da conversão para serotonina e cateolaminas como dopamina, norepinefrina e epinefrina ou déficit no catabolismo de proteínas. Níveis mais baixos no LCR de ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA) e ácido homovanílico (HVA), que são metabólitos da serotonina, dopamina e norepinefrina, implicaram alterações nas funções da serotonina e dopamina em pacientes deprimidos. Metabólitos das vias de triptofano, tirosina e metionina podem ser úteis para a diferenciação entre tipos de depressão.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/