A função executiva (FE) descreve a “regulação abrangente de processos cognitivos de ordem superior direcionados a objetivos, orientados para o futuro”. É amplamente controlada no cérebro pelo córtex frontal, Funções de ordem superior incluem habilidades relacionadas ao planejamento, organização, autorregulação, manutenção da atenção, regulação emocional, priorização e permanência na tarefa. As habilidades da FE se desenvolvem intensamente desde a infância até o período pré-escolar e melhoram sem parar principalmente até a idade adulta.
Desequilíbrios na excitação neural e inibição nos circuitos cerebrais contribui para o comprometimento da FE, como acontece, por exemplo, no Transtonto do Espectro Autista (TEA). No dia a dia, as deficiências de FE podem se apresentar como:
Esquecer de arrumar a mochila escolar ou o material do trabalho
Perder, esquecer, ter dificuldade de iniciar ou concluir tarefas
Esquecer ou atrasar-se para compromissos
Perder objetos constantemente
Pular refeições ou banhos acidentalmente
Incapacidade de dirigir sem GPS
Dificuldade em reconhecer uma tarefa que precisa ser feita
Lutar para dividir uma tarefa em etapas menores
Dificuldade de automonitoramento ou de descobrir o que está “errado” em seu ambiente ou corpo
Esquecer ou misturar instruções práticas (ou seja, direções, tarefas domésticas, etc.)
Dificuldade de acompanhar conversas
Esquecer nomes e/ou rostos
No autismo, o tratamento de condições comórbidas, como ansiedade, depressão, problemas gastrointestinais, etc., pode ajudar a reduzir as dificuldades de FE. Para alguns, auxílios organizacionais, cronômetros, notebooks, dispositivos assistivos etc. ajudam na organização e na memória. Em outros casos, a medicação e a terapia comportamental são usadas. Estudos recentes encontraram resultados encorajadores com a aplicação de práticas atenção plena e atividade físicas na redução do comprometimento da FE. Estes podem incluir yoga, meditação, artes marciais, ou outras atividades que exijam prática dedicada e repetitiva. Se você acha que você ou um ente querido está lutando com o funcionamento executivo, converse com seu médico e marque uma consulta com um neurologista.
Função executiva de pacientes com Alzheimer
A doença de Alzheimer é uma síndrome grave, caracterizada por um declínio cognitivo lento e progressivo que interfere no padrão das funções instrumentais e essenciais da vida diária. Identificar prontamente o comprometimento de determinadas funções cognitivas pode ser uma condição fundamental para limitar, por meio de intervenções preventivas ou terapêuticas, os danos funcionais encontrados nessa doença.
Inclui uma fase de pré-demência e uma fase de demência. A pré-demência representa o período inicial do transtorno, no qual se iniciam os primeiros sintomas de declínio cognitivo, com dificuldades de memória maiores mas que, no entanto, não interferem no manejo das atividades do vida diária. Com a progressão da doença e a transição para a fase demencial propriamente dita, além de um agravamento dos sintomas de memória (que começam a afetar até as memórias e experiências mais antigas), surgem déficits de orientação linguística e espacial que envolvem uma grave dificuldade funcional. Altos níveis de ansiedade e falta de motivação geral completam o perfil clínico da doença de Alzheimer.
As funções executivas também são comprometidas no Alzheimer. Este “termo guarda-chuva” inclui raciocínio verbal, resolução de problemas, planejamento, a capacidade de manter a atenção sustentada, resistência à interferência, multitarefa, flexibilidade cognitiva e a capacidade de lidar com novidades.
Em pacientes com Alzheimer, as habilidades atencionais necessárias para resolver tarefas complexas seriam prejudicadas, como a atenção dividida, a capacidade de efetivamente desengajar e mudar a atenção. Além disso, quanto às funções visuoespaciais, as habilidades de praxia construtiva, visuo-perceptiva e de orientação visual parecem estar prejudicadas. Quando esses déficits cognitivos interferem no desempenho das atividades de vida diária, o paciente pode reagir ao seu comprometimento cognitivo com alterações de humor, irritabilidade e apatia. Todos esses aspectos delineiam o perfil clínico característico associado à doença de Alzheimer. Neurologistas usam procedimentos específicos para avaliação da função executiva nestes pacientes. A partir desta avaliação são indicadas as melhores terapêuticas para redução ou recuperação do declínio cognitivo.