A inflamação é um processo fisiológico cujo objetivo é nos proteger de agentes infecciosos, toxinas e outras agressões ambientais, iniciar o processo de reparação tecidual após a lesão, e permitir o retorno à homeostase. Mas uma vez que esses objetivos sejam alcançados, a inflamação deve terminar (resolução). Isso significa que, em condições normais, a inflamação é uma resposta aguda limitada no tempo.
No entanto, quando o processo de resolução da inflamação não é adequado ou quando há estímulos inflamatórios em curso (como obesidade visceral, inatividade física, padrão de sono inadequado, estresse psicológico, exposição a vários xenobióticos e dieta inadequada), a inflamação pode se tornar crônica e sistêmica. E, mesmo quando de baixo grau, pode causar ou contribuir para dores, síndrome metabólica, diabetes tipo II, esteatose hepática não alcoólica, doenças cardiovasculares, sarcopenia, osteopenia, depressão e doenças neurodegenerativas.
Além disso, a inflamação crônica envolvida em diversos tipos de câncer, osteoartrite e doença renal crônica. Altera também o estado nutricional de diversos micronutrientes, depletando zinco, ferro e vitaminas A, C, D, E, B2 e B6. Por fim, promove a imunossenescência (envelhecimento do sistema imune) e reduz a tolerância imunológica, o que pode comprometer a resposta a agentes infecciosos ou contribuir para a autoimunidade. Inflamação crônica, mesmo que de baixo grau, está associada a maior mortalidade em vários estudos epidemiológicos.
De forma grosseira, os tipos de dor podem ser categorizados como dor nociceptiva, dor inflamatória (que está associada a danos nos tecidos e à infiltração de células imunes) ou dor patológica, que é um estado de doença causado por danos ao sistema nervoso ou por sua função anormal de células e tecidos (como na dor neuropática, fibromialgia, enxaqueca e dor de cabeça). Dentro dessas categorias, a dor pode ser subcaracterizada como somática (pele e tecidos profundos) ou visceral (relacionada aos órgãos internos).
Tratamento da dor crônica
A dieta antiinflamatória e o tratamento da doença de base são fundamentais. Além disso, muitos estudos mostram que a microbiota precisa ser melhorada, uma vez que muito da resposta da dor deve-se aos distúrbios nociceptivos do intestino.
A dor visceral é muito comum em pacientes com infecção por Clostridium difficilie, com intestino irritável ou doenças inflamatórias intestinais. Envolve mecanismos regulados central e perifericamente e, portanto, são frequentemente referidos como distúrbios do eixo intestino-cérebro. Muitos destes pacientes apresentam diminuição da abundância relativa dos gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus e aumento da razão Firmicutes-para-Bacteriodetes.
Antibióticos, incluindo metronidazol, vancomicina ou fidaxomicina permaneçam no tratamento de primeira linha para a infecção por C. difficile, com associação a recolonização com suplementos probióticos. Outros pacientes só apresentam bons resultados com o transplante de microbiota fecal de pessoa saudável. O mesmo pode ocorrer em pacientes com doenças inflamatórias intestinais como colite ulcerativa e doença de Crohn.
A microbiota intestinal saudável pode estimular a liberação de compostos supressores de dor endógenos do corpo, incluindo opioides de neutrófilos e monócitos inatos, endocanabinoides do tecido colônico, bem como outros moduladores de dor, incluindo monoaminas.
Fitoquímicos na redução da dor
Existem vários fitoquímicos capazes de auxiliar na redução da dor crônica. Os mecanismos de ação são variados, incluindo modulação da inflamação, estress oxidativo, redução da sensibilidade de receptores de dor periféricos, modulação dos níveis de neurotransmissores. Pessoas com enxaqueca, fibromialgia, osteoartrite, dor neuropática associada a diabetes ou herpes, devem caprichar em estratégias descritas na dieta antiinflamatória e nos fitoquímicos moduladores da dor.
Açúcar contribui para a dor crônica
Quando açúcar (glicose) é ingerido, ele permeia as paredes do intestino, o que diz ao pâncreas para secretar insulina. A insulina, por sua vez, pega o açúcar do sangue e o move para as células para ser usado como fonte de energia. Ótimo. Só que o excesso de açúcar tem efeitos indesejáveis para quem sente dor.
Muito açúcar sobrecarrega o fígado e, quando isso acontece, citocinas inflamatórias e radicais livres produzidos afetam a saúde do coração, das articulações, piora a imunidade, acelera o envelhecimento.
TAMBÉM VALE A PENA MODULAR O NEUROTRANSMISSOR GABA
Níveis reduzidos deste neurotransmissor aumentam a percepção de dor. Aumentar a Neurotransmissão de Gaba é uma estratégia que auxilia na modulação da dor (Reckziegel et al., 2016).