Os neurônios são um dos tipos de células do sistema nervoso. Apresentam três partes básicas: os dendritos, o axônio e o corpo celular.
Os impulsos nervosos devem passar de uma célula à outra para que ocorra uma resposta a um determinado sinal. Para que isso ocorra, é necessária a presença de uma região especializada, que recebe o nome de sinapse.
A sinapse é a região de proximidade entre a extremidade de um neurônio e uma célula vizinha, onde os impulsos nervosos são transformados em impulsos químicos em decorrência da presença de sinalizadores químicos (neurotransmissores). Uma única célula nervosa pode fazer mais de 1.000 sinapses, que geralmente ocorre entre o axônio de um neurônio e o dendrito de outro.
Durante a etapa pré-natal (na gestação) e a primeira infância (particularmente até 5-6 anos), o cérebro produz muitos mais neurônios e conexões sinápticas do que precisa, como uma forma de garantir que uma quantidade suficiente de células chegue a seu destino e que conectem-se de forma adequada. Ao nascer, o cérebro de uma criança possui cerca de 100 bilhões de neurônios – aproximadamente 15% a mais do que terá quando adulto.
No entanto, para se organizar, o sistema nervoso programa a morte celular de vários neurônios (apoptose) e a poda de milhares de sinapses que não estabeleceram conexões funcionais ou que já cumpriram a sua tarefa. As sinapses que envolvem “neurônios competentes e ativos na rede” são as que permanecerão e a funcionalidade de cada um destes circuitos neuronais é o que nos permitirá aprender, memorizar, perceber, sentir, mover-nos, ler, somar ou emitir, desde respostas reflexas até as mais complexas análises relacionadas à física quântica.
Assim, durante a poda sináptica, o cérebro elimina sinapses extras. Acredita-se que a poda sináptica seja a maneira do cérebro de remover conexões no cérebro que não são mais necessárias. Sem a poda o cérebro fica com menos espaço, menos eficiente para aprender e assimilar informações complexas.
Elementos do sistema imunológico parecem ser essenciais para realizar o processo de eliminação. A poda errada em crianças e adolescentes pode lançar as bases para distúrbios neurológicos. Por exemplo, um sistema imune desregulado e que leva a uma poda excessiva na adolescência aumenta o risco de esquizofrenia. Já no autismo observa-se uma menor poda na primeira infância (Sakai, 2020).
Mais não quer dizer necessariamente melhor quando se trata de sinapses, sendo a poda precisa absolutamente essencial. Estudos mostram biomarcadores e proteínas nos cérebros de pessoas com autismo que refletem disfunções no sistema de limpeza de células velhas e degradadas, um processo chamado autofagia (Tang et al., 2014).
Uma das primeiras podas neuronais ocorre na primeira infância, coincidindo, muitas vezes, com a época em que os pais relatam regressão e perda de habilidades em crianças com transtorno do espectro do autismo. Por exemplo, se há uma poda exagerada por volta dos 20 a 24 meses (1 ano e 8 meses a 2 anos), a criança pode regredir em algumas habilidades. Para recuperação das habilidades entram as terapias.
A autofagia, um sistema de degradação catabólica, é utilizada para destruir e reciclar os componentes celulares danificados ou desnecessários. A plasticidade cerebral refere-se às características marcantes dos neurônios cerebrais que mudam sua estrutura e função de acordo com a experiência anterior. Um cérebro saudável é fundamental para os processos de autofagia.
Provavelmente muitos fatores, inclusive genéticos e imunes influenciam o processo de autofagia cerebral. Além disso, algumas estratégias ambientais são importantes:
sono de qualidade e restaurador
redução do estresse
não comer exageradamente
optar por comidas naturais, ricas em compostos antiinflamatórios e antioxidantes
evitar açúcar e alimentos ultraprocessados
Muito mais pesquisa é necessária nesta área. Sabemos que um estilo de vida equilibrado é muito importante para o cérebro, assim como um ambiente familiar saudável e, em caso de alterações, busca rápida de acompanhamento, diagnóstico e tratamento.
No autismo, por exemplo, quanto mais rápido é o diagnóstico, mais eficaz tornam-se as intervenções terapêuticas. O cérebro é muito plástico na primeira infância e a intervenção precoce reduz as perdas de habilidades e garante melhor desenvolvimento neurológico.