Dentre as enzimas que metabolizam drogas e substâncias estranhas ao nosso corpo, estão as enzimas do citocromo P450 (CYP), que são altamente expressas no trato gastrointestinal e no fígado.
Falei em outro post sobre o impacto da enzima CYP2C9 no metabolismo do THC (Tetrahidrocanabinol), a principal planta psicoativa na planta Cannabis. Outra enzima importante é a CYP3A4, que tanto ajuda a metabolizar THC, quanto o CBD (canabidiol). Pessoas com diferentes variações genéticas sentirão efeitos distintos ao fumar a maconha ou usar a cannabis medicinal.
Para canabinóides tomados por via oral (cápsulas, óleos, alimentos), a atividade das enzimas CYP pode determinar a força e duração do efeito. Para canabinóides inalados ou vaporizados há menos importância da atividade das CYPs, pois há chegada direto na circulação pelos pulmões. Ainda pode haver algum impacto na duração do efeito, mas será mais sutil do que com as formas ingeridas via oral.
Tanto THC quanto CBD são ambos metabolizados pela enzima CYP3A4. A atividade desta enzima varia muito de uma pessoa para outra (diferenças de 10 a 100 vezes). Estima-se que a genética seja responsável por 66-88% da variabilidade na atividade do CYP3A4. O estado de saúde, o consumo de alimentos e ervas também afetam a atividade da CYP3A4.
O polimorfismo (variação) da enzima CYP3A4 conhecido como *22 (rs35599367 C>T) faz com que o CBD e o THC passem mais tempo na circulação, aumentando o risco de efeitos mais fortes e tóxicos.
As pessoas com pelo menos um alelo *22 (herdado de pai ou mãe) quase certamente reduziram a depuração metabólica de ambos os canabinóides em 30 a 40%.
Independentemente do genótipo, a dose de THC e CBD ainda precisará ser titulada (adaptada), como discuti nos casos das crianças autistas (parte 1 e parte 2). No entanto, para uma pessoa com um genótipo *22 conhecido, ela pode iniciar a titulação em uma dose com maior probabilidade de ser adequada para ela. Isso também pode ajudar a evitar reações ruins ao THC, pois os portadores *22 têm maior probabilidade de serem sensíveis a doses mais baixas.
Ajuste da dose de THC
Heterozigotos (*1/*22) - redução de 50% na dose inicial
Homozigotos (*22/*22) – redução de 75% na dose inicial
Ajuste da dose de CBD
Heterozigotos (*1/*22) - redução de 25% na dose inicial
Homozigotos (*22/*22) – redução de 50% na dose inicial
A razão para a maior redução da dose de THC é que a atividade do CYP3A4 afeta mais fortemente o metabólito ativo 11-OH-THC, do que em relação ao metabolismo do CBD.