Uso do canabionóides no TEA (parte 2)

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, cujas características principais são as dificuldades na comunicação verbal e não verbal, comportamentos restritos, interferindo no comportamento e interações sociais.

As causas envolvem alterações genéticas que alteram o neurodesenvolvimento, a produção de neurotransmissores e a regulação do sistema endocanabinoide (SEC).

O sistema endocanabinóide (SEC) possui papel no controle dos processos neurais envolvidos no controle da ansiedade e recompensa social. Os endocanabinóides mais estudados são a anandamida (AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG). Fazem também parte do SEC os receptores canabinóides tipo 1 e tipo 2 (CB1 e CB2) e enzimas envolvidas na síntese dos endocanabinóides. A micróglia é principal produtora de endocanabinóides nosistema nervoso. Contudo, encontra-se desregulada em processo neuroinflamatório, condição comum no autismo.

Em casos de autismo grave, muitas crianças e adolescentes apresentam comportamento instável e agressivo, muitas vezes incluindo autoagressão. Estudos mostram que a modulação do sistema endocanabinóide ajudam a regular a função da micróglia, contribuindo para a melhoria dos sintomas do autismo.

O SEC está envolvido no neurodesenvolvimento. Ainda no período fetal regula os processos essenciais relacionados com a diferenciação neuronal e o posicionamento das sinapses. Alguns estudos mostraram que os receptores CB1 apresentam alterações funcionais nas regiões cerebrais envolvidas no autismo, como o hipocampo e os gânglios da base.

O THC é o canabinóide que atua por meio desses dois receptores, CB1 e CB2. Falei sobre uso dele na apresentação do caso de paciente com diagnóstico de autismo e epilepsia (leia aqui).

Em outra discussão de caso clínico, a Dra. Mery Peña, médica expert no uso de canabinóides, apresentou o caso de um garotinho de 8 anos, com 21 kg, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de déficid de atenção e hiperatividade (TDAH) e déficit intelectual. Seguia tratamento com risperidona e guanfacina. Apresentava como sintomas principais comportamento disruptivo, agressivo, fala não inteligível e condutas repetitivas sem melhorias com medicação.

Foi proposto o uso do canabinóide CBD a 10%, 4 gotas pela manhã e 4 gotas à noite (24 mg de CBD ao dia; 1,25 mg/Kg/dia). Após uma semana de uso a criança apresenta-se menos inquieta e não apresenta nenhum efeito adverso do uso do óleo.

Por motivos econômicos a família trocou o produto por uma marca mais barata, iniciou-se uma redução da risperidona e aumento da dosagem para 40mg de CBD ao dia (1,9mg/kg/dia). A criança encontra-se menos hiperativa, de acordo com as professoras da escola e professor de natação.

Contudo, após 16 semanas o menino teve uma piora, encontrando-se mais irritado, violento (principalmente quando lhe tiram os eletrônicos). A risperidona é novamente aumentada e o CBD sobre para 75 mg/dia (3,57 mg/kg/dia). Contudo, a mãe não tem sido muito constante na administração do CBD nos finais de semana.

As consultas de controle passam a ser virtuais, por conta da pandemia de COVID. Após 1 ano, a criança cresceu e ganhou peso e a dose foi aumentada novamente. No verão, as mudanças de rotina geraram um pouco de insônia e foi inserido também melatonina pontualmente. Houve um tempo de melhoria seguido de nova deterioração, com aumento de estereotipia, labilidade emocional, hiperatividade. A risperidona é aumentada novamente.

É feito o estudo genético mas não identificam-se mutações importantes que possam recomendar o uso de outros tratamentos. O CBD é retirado por 4 dias e depois reintroduzido em uma dose maior. Há nova melhora, seguida de nova deterioração comportamental. A mãe considera parar o tratamento. A alternativa sugerida pela médica é a introdução do THC. A mãe, a psicóloga e a psiquiatram aceitam a proposta.

O CBD é mantido em 90mg /dia (6 gotas, 3 vezes ao dia), 2,46mg/kg/dia e o THC inicia-se com 4 mg e depois passa para 5 mg ao dia (1 gota manhã, 1 gota tarde e 2 gotas à noite). O paciente fica mais paciente, comunica-se melhor de forma gestual, expressa melhor seus desejos, tolera melhor as frustrações, torna-se capaz de escutar instruções, apresenta menos comportamentos disruptivos.

Atualmente, a criança permanece em acompanhamento na tentativa de controlar recaídas e reduzir medicação. Casos complexos precisam de muitas alterações na medicação. Não existe uma fórmula e o acompanhamento deve ser feito por uma equipe de experts. Sem a persistência da família também não chega-se à dose ideal pois ajustes levam tempo (e consomem dinheiro).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/