O ferro é um metal essencial para a fisiologia humana e está envolvido em várias reações metabólicas celulares, incluindo o transporte de oxigênio. Uma fonte diferente de ferro é representada pelo ferro heme, presente nas carnes. O ferro heme é absorvido diretamente, principalmente no intestino grosso, por meio de receptores específicos. Uma vez absorvido, é transportado para a corrente sanguínea, ligado à transferrina e armazenado no fígado.
O ferro não-heme é derivado de plantas, vegetais, frutas e alimentos fortificados com ferro. O ferro não heme é menos absorvido, mas vitaminas como o ácido ascórbico aumentam sua absorção, assim como prebióticos, probióticos e simbióticos. Já polifenóis como o fitato reduzem sua biodisponibilidade e absorção. O cálcio também pode inibir a absorção de ferro.
Diferentes valores de pH ao longo do trato gastrointestinal influenciam a absorção de ferro. No duodeno e no primeiro trato do jejuno, o pH é moderadamente ácido, enquanto no trato distal do intestino delgado, bem como no cólon, torna-se progressivamente mais alcalino. De notar, a inflamação pode alterar o pH luminal e, consequentemente, alterar a capacidade de absorção de ferro do hospedeiro (A na figura abaixo).
A absorção de ferro é influenciada pelo conteúdo dos alimentos. O ferro heme é mais fácil de absorver e pode ser absorvido diretamente ou dissociado em íons ferrosos e anel porfirínico. Os íons férricos precisam ser reduzidos a íons ferrosos por ácidos orgânicos no lúmen intestinal ou por DcytB e então podem ser transportados por DMT1 no enterócito e na corrente sanguínea pela ferroportina. O ferro intracelular também pode ser armazenado como ferritina (Figura B acima).
Todos os dias, pequenas quantidades de ferro são perdidas através da eliminação pelo intestino e suor, mas em condições normais, elas são compensadas pela ingestão alimentar habitual Como o ferro é necessário para a formação de glóbulos vermelhos, uma concentração reduzida de ferro circulante e armazenado pode levar ao desenvolvimento de anemia.
Anemia ferropriva
A anemia por deficiência de ferro é uma ameaça em muitos países. Dentre as causas da anemia ferropriva estão o baixo consumo de alimentos fontes do mineral, parasitose (como helmintos e outras), desnutrição, perda excessiva de sangue, absorção prejudicada, doenças inflamatórias intestinais (colite ulcerativa e doença de Crohn).
A inflamação induz a atividade da hepcidina devido à liberação de citocinas inflamatórias (por exemplo, IL-6). A hepcidina é uma proteína produzida pelo fígado e que se liga à ferroportina nos enterócitos (células intestinais) causando sua internalização.
Além disso, existem também outras doenças crônicas como obesidade e fatores de estilo de vida como altos níveis de atividade física que podem, respectivamente, prejudicar a absorção de ferro e aumentar as necessidades de Fe, devido ao aumento do impulso eritropoiético causado pelo exercício regular.
Pessoas obesas, assim como aquelas com diabetes são comumente inflamadas. Alimentos ricos em antioxidantes (nomeadamente frutas e vegetais) podem ajudar a reduzir a carga inflamatória no intestino, bem como no tecido adiposo, mas, infelizmente, também podem reduzir a absorção de ferro. Por isso, a dieta e suplementação deve ser acompanhada por nutricionista.
Embora o ácido cítrico e a vitamina C, encontrados principalmente em frutas, melhorem a absorção de ferro, os alimentos vegetais contêm vários compostos 'antinutrientes', incluindo lectinas, oxalatos, fitatos, fitoestrogênios e taninos, que se acredita restringir a biodisponibilidade de nutrientes essenciais, como o ferro. No entanto, muitos estudos concluíram que esses alimentos têm efeitos promotores de saúde e proporcionam redução significativa no risco de doenças crônicas, atribuíveis às ações sinérgicas desses compostos anti-inflamatórios.
Deficiência absoluta de ferro é presente quando o paciente possui ferritina menor que 30ng/mL ou a combinação de ferritina entre 30 ng/mL e 100 ng/mL com saturação da Transferrina menor que 20% e PCR maior que 3.
Dicas para correção da anemia ferropriva
Para correção da deficiência de ferro, suplemente de 30 a 45 mg de ferro elementar (dose de ferro “puro”) por 3 a 6 meses. Sim, demora para a correção acontecer. Prefira formas químicas como: Ferro quelado, Ferro Taste Free, Ferro lipossomado, ferro sucrossômico, Ferro bisglicinato.
Para redução dos efeitos adversos, suplemente em dias alternados. Doses elevadas de ferro oral são prejudiciais, não ajuda a corrigir a anemia mais rápido e pode causar desconforto gástrico, constipação e irritação intestinal, inflamação e disbiose.O melhor horário de suplementação é o período matutino, visto que há aumento circadiano da hepcidina plasmática. A hepcidina é uma proteína produzida pelo fígado e que regula a absorção de ferro no intestino delgado. Após o período mínimo de 3 meses, reavalie os exames de sangue (STOFFEL, et al., 2020).