O intestino é mais que um longo tudo por onde percorrem os alimentos. Além de um papel na digestão, o intestino comunica-se com o microbioma e com o cérebro. O eixo intestino-microbioma-cérebro refere-se à rede de conexões envolvendo vários sistemas biológicos que permite a comunicação bidirecional entre as bactérias intestinais e o cérebro e é crucial na manutenção da homeostase dos sistemas gastrointestinal, nervoso central e microbiano dos seres humanos (Morais, Screiber IV, & Mazmanian, 2020).
A comunicação bidirecional entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central (SNC) é mediada por diferentes mecanismos, envolvendo o sistema nervoso autônomo (por exemplo, o sistema nervoso entérico e o nervo vago), o sistema neuroendócrino, o eixo hipotalâmico-hipófise-adrenal (HPA), o sistema imunológico e inúmeras vias metabólicas.
Dentro do sistema nervoso, o estresse pode ativar o eixo HPA, que leva ao aumento do hormônio receptor de corticotropina (CRH) no cérebro e na circulação portal, desencadeando o liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que então inicia a síntese e liberação de cortisol. O cortisol regula as respostas de sinalização neuroimune que, por sua vez, afeta a integridade da barreira intestinal.
No intestino, a microbiota pode produzir compostos neuroativos, como neurotransmissores (ácido γ-aminobutírico ou GABA, noradrenalina, dopamina e serotonina), aminoácidos (como tiramina e triptofano), metabólitos microbianos (ácidos graxos de cadeia curta e 4-etilfenilsulfato). Esses metabólitos podem viajar através da circulação portal para interagir com o sistema imune do hospedeiro, influenciar o metabolismo e/ou afetar células neuronais do sistema nervoso entérico, assim como vias aferentes do nervo vago. Estas, por sua vez, sinalizam diretamente para o cérebro.
A microbiota intestinal também pode influenciar a integridade da barreira intestinal que controla a passagem de moléculas sinalizadoras do lúmen intestinal para a lâmina própria, onde estão localizadas células imunes e extremidades terminais de neurônios do sistema nervoso entérico, ou para a circulação portal. A perda da integridade da barreira intestinal está envolvida com condições neuropsiquiátricas como ansiedade, transtorno do espectro autista e depressão, além de distúrbios neurodegenerativos.
Como apoiar o eixo intestino-microbiota-cérebro?
Melhorar a saúde do cérebro ajudaria a melhorar a saúde intestinal e vice-versa. O uso de suplementos probióticos ou o consumo de fermentados (como kefir e kimchi), associados à certos nutrientes fibras, goma acácia, glicina, glutamina, cisteína, vitamina C, zinco, vitamina D, ômega-3) beneficia a microbiota e, consequentemente, o cérebro. Uma dieta baseada em plantas, com aveia, frutas verduras, leguminosas ajuda a manter ótima diversidade bacteriana intestinal.
Outra maneira de melhorar o eixo intestino-cérebro é agindo no cérebro. Isso pode ser feito através do gerenciamento do estresse e da redução da ansiedade. Pode-se também considerar o uso do canabidiol (CBD). O CBD é extraído da planta Cannabis e atua nos sistemas endocanabinoides centrais e periféricos. Assim, contribui para a estabilização do humor, redução da ansiedade e tratamento da depressão. Também pode ajudar a reduzir a síndrome do intestino permeável e reduzir a inflamação.
O uso do CBD parece reduzir a inflamação local intestinal e hepática, a inflamação sistêmica e a neuroinflamação. Um dos mecanismos é a redução da liberação de citocinas. Por isso, tem sido utilizado na prevenção da neurodegeneração e no tratamento de doenças neuropsiquiátricas.