Esteatose hepática

A doença hepática gordurosa metabólica representa a hepatopatia predominante na população. Também chamada de esteatose hepática não alcoólica ou doença hepática gordurosa não alcoólica e está associada a graves repercussões médicas e socioeconômicas devido à sua crescente prevalência e custo de diagnóstico e tratamento. Até o momento, não existem medicamentos específicos para o tratamento da doença e a recomendação mais válida para os pacientes continua sendo a mudança no estilo de vida, tanto para prevenção, quanto para o tratamento. Isto é fundamental, uma vez que a esteatose não tratada é a principal causa de doença hepática crônica e transplante de fígado em todo o mundo.

O desenvolvimento e progressão da esteatose são amplamente influenciados pela interação entre fatores genéticos, ambientais e nutricionais. Os achados nutrigenéticos e nutrigenômicos sugerem a capacidade da nutrição, agindo sobre o fundo genético individual e modificando a expressão epigenética específica, de influenciar o resultado clínico dos pacientes. Além disso, a resposta imune está surgindo como fundamental nesse cenário multifatorial, sugerindo a interação entre dieta, genética e imunidade como outra rede emaranhada que precisa ser explorada.

Susceptibilidade genética à esteatose

Vários polimorfismos (variações) de nucleotídeo único (SNPs) são associados à maior risco de desenvolvimento da doença, incluindo:

  • Fosfolipase semelhante à patatina contendo o domínio 3 / Patatin-like phospholipase domain-containing 3 (PNPLA3) - rs738409. A variante G deste SNP está associada a interrupção do turnover e remodelação de triglicerídeos e fosfolipídios, com aumento do acúmulo de gordura hepática. Polimorfismos também interrompem o armazenamento de retinol no fígado levando a maior risco de inflamação, fibrose e progressão de hepatocarcinoma.

  • Membro 2 da superfamília transmembrana 6 / Transmembrane 6 superfamily member 2 (TM6SF2) - rs58542926. A variante T deste SNP resulta em mais acúmulo de gordura no fígado e menor liberação de VLDL.

  • O-aciltransferase contendo o domínio 7 ligado à membrana / Membrane-bound O-acyltransferase domain-containing 7 (MBOAT7) - rs641738. A variante rs641738 C>T de MBOAT7 tem sido associada ao desenvolvimento de esteatose e suas complicações: inflamação, fibrose e progressão de hepatocarcinoma.

    Na presença do alelo T, assim como no caso de hiperinsulinemia, a expressão (e função) de MBOAT7 resulta prejudicada, promovendo a formação de fosfolipídios saturados. O acúmulo desses últimos compostos favorece a síntese de ácidos graxos saturados e monoinsaturados, promovendo a deposição de gordura nas células hepáticas. Como consequência, em portadores da variante C>T, a alta ingestão de nutrientes hiperglicêmicos e alimentos ricos em ácidos graxos saturados deve ser evitada.

  • Outros genes relevantes podem ser consultados no artigo publicado em 2021 por Dallio e colaboradores.

Além da genética, o envolvimento de vários fatores ambientais como vida sedentária, dietas pouco saudáveis ​​que promovem resistência à insulina (RI) e disbiose intestinal, formam um mosaico que aumenta a propensão à doença.

Nutrigenômica e nutrigenética

O genoma influencia a responsividade aos nutrientes (campo da nutrigenética); ao mesmo tempo, a nutrição também pode modificar a expressão gênica envolvendo mecanismos epigenéticos (campo da nutrigenômica).

Fatores nutricionais e genéticos influenciam-se mutuamente: de um lado, os nutrientes afetam o metabolismo do DNA, a expressão gênica e a variabilidade genética; por outro lado, variantes genéticas (como SNPs), ao determinar o genótipo individual específico, influenciam os hábitos alimentares.

A nutrigenética também pode ser influenciada pela epigenética. A nutrigenômica investiga os efeitos decorrentes da interação entre o ambiente nutricional e os fatores hereditários. Em conjunto, esses mecanismos contribuem para determinar o estado de saúde ou uma condição de doença.

Estudos mostram a importância de uma dieta à base de plantas, peixes e carnes brancas na prevenção de várias doenças crônicas, incluindo a esteatose. Esses princípios constituem o paradigma da conhecida dieta mediterrânea, rica em compostos antioxidantes e anti-inflamatórias.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/