Uma emoção é um estado de sentimento mental e fisiológico que direciona nossa atenção e guia nosso comportamento. As emoções mudam de momento a momento e foram desenvolvidas, em grande parte, para nos ajudar a fazer julgamentos rápidos sobre estímulos e a orientar corretamente o comportamento apropriado em cada situação.
Nossa resposta a uma emoção básica (raiva, nojo, medo, tristeza, felicidade) é imediata e rápida. Vemos uma criança correndo em direção à rua e disparamos atrás dela. Nosso coração dispara e a adrenalina é liberada. Por outro lado, nossa resposta a uma emoção secundária (ciúme, orgulho, vaidade, vergonha, culpa) é mais lenta pois são mais complexas.
Todas as emoções interferem na forma como comemos, que tipo de alimentos comemos e quanto comemos. O medo geralmente inibe a fome, o que faz sentido do ponto de vista biológico e evolutivo, porque na hora do medo temos que correr e não deitar na rede para digerir a feijoada.
Outras emoções primárias podem modular a alimentação em ambas as direções: algumas pessoas comem menos quando estão tristes, outras comem mais. Por outro lado, o que comemos afeta nossas emoções. Dietas pobres em ômega-3, triptofano, vitaminas do complexo B, magnésio e zinco, impactam negativamente o humor.
Existem 5 caminhos pelos quais as emoções afetam a alimentação: sensoriais ou afetivos, associativos, energéticos, neuroquímicos e farmacológicos.
Caminho associativo: é a influência de nossas associações ou opiniões, possivelmente de experiências passadas com os alimentos a serem ingeridos. Por exemplo, o cheirinho de bolo da avó pode abrir o apetite por associarmos o aroma do alimento à momentos felizes. Mas associação também pode ser negativa. Por exemplo, uma pessoa pode rejeitar chuchu por ter experimentado na infância e vomitado. Uma pessoa que nunca come frituras pois considera-as péssima para a saúde, chega a uma festa faminta e só há salgados fritos. A pessoa pode comer e imediatamente ficar de mal humor.
Caminho sensorial-afetivo: descreve como a comida afeta o paladar, o que também influencia o humor. A sensação de doçura, por exemplo, é inatamente agradável, enquanto a amargura é inatamente aversiva. Os bebês mostram uma reação afetiva positiva quando expostos a soluções de sabor doce. O prazer melhora também o humor, mesmo antes dos nutrientes do alimento chegarem à corrente sanguínea ou ao cérebro. Por isso, muitas pessoas comem chocolates quando estão tristes.
Caminho energético: descreve a melhoria do humor quando uma pessoa faminta ingere comida. A restrição alimentar crônica severa pode até levar à depressão e ao estado emocional negativo constante.
Caminho neuroquímico: descreve o efeito dos alimentos e seus nutrientes na produção de neurotransmissores. Por exemplo, carboidratos aumentam os níveis de serotonina e dopamina, reduzindo o estresse e gerando bem-estar. Discuto mais os aspectos neuroquímicos no curso online PsicoNutrição.
Caminho farmacológico: alimentos contém compostos que atuam como drogas no cérebro. Por exemplo, café, guaraná, refrigerantes a base de cola, cacau, chá verde possuem cafeína, que pode ter efeitos positivos e negativos, dependendo da dosagem e da tolerância individual. Dentro dos efeitos da cafeína destacam-se: melhoria do estado de humor, aumento da capacidade de concentração, inquietação, nervosismo, excitação, agitação.
Todos estes aspectos são importantíssimos e devem ser considerados igualmente. Uma dieta “limpa”, super saudável, que não considere os aspectos emotivos, associativos e energéticos dificilmente conseguirá ser mantida. Queremos ter saúde, mas também queremos ter prazer, queremos respeito à nossa cultura e experiências.
Processos cognitivos influenciam o comportamento alimentar
O círculo externo na imagem acima (em laranja) fornece uma visão geral dos processos que operam antes de uma refeição: a expectativa de comer, a visão do alimento a ser consumido, e a interação entre quaisquer objetivos (como ter mais saúde), memória do sabor e o prazer da comida, a atenção aos sinais alimentares (fome) determinarão se os indivíduos começarão a comer e que tipo de comida escolherão.
O círculo do meio (em verde) representa os processos dentro da refeição que influenciam a quantidade consumida. As sensações de prazer e recompensa tendem a ir diminuir conforme nos alimentamos (a primeira garfada é mais gostosa que a última) e levam ao término da refeição. A saciedade compreende componentes hormonais, metabólicos, cognitivos e também de memória. A atenção ao processo de alimentação e o controle cognitivo também influenciarão no término da refeição.
O círculo interno (em vermelho) representa os processos que operam entre as refeições, por exemplo, a memória episódica de uma refeição influenciará as decisões sobre quando iniciar a próxima refeição. Registramos as refeições na “memória episódica” nas áreas do hipocampo e no córtex pré-frontal. Esses registros nos guiam inconscientemente nas decisões do quanto comer nas refeições seguintes.
Porém, imagina não dar atenção adequada a refeição, vendo televisão ou usando o celular. O cérebro não percebe com a mesma eficiência se já comeu, se não comeu, se foi bom, se não foi, se foi suficiente… E se não lembrar que comeu vai querer comer mais. Prestar atenção às refeições é uma forma de reduzir em até 40% o consumo calórico durante as refeições.
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