NUTRIGENÔMICA DA VITAMINA D E PROTEÇÃO CONTRA O COVID-19

A vitamina D pode influenciar a eucromatina e a heterocromatina

A vitamina D pode influenciar a eucromatina e a heterocromatina

A epigenômica estuda o efeito de eventos ambientais na expressão do genoma. A dieta é a principal exposição ambiental ao corpo humano e representa a principal decisão diária do estilo de vida que todo indivíduo toma. Assim, um objetivo central da epigenômica é entender como as moléculas da dieta afetam o epigenoma e a expressão gênica. Este ramo da epigenômica é a nutrigenômica.

Um componente da dieta a influenciar muito o genoma humano é a vitamina D. Este nutriente tem um conhecido papel fisiológico na absorção de cálcio e na mineralização óssea. Porém, suas funções vão muito além do metabolismo do cálcio. Células do sistema imune, por exemplo, possuem receptores nucleares para vitamina D. A vitamina D estimula o reconhecimento eficiente de patógenos bacterianos, inibe a proliferação de M. tuberculosis e outros microorganismos. O receptor de vitamina D e seus ligantes antagonizam ainda a resposta pró-inflamatória (Carlberg, 2019).

A vitamina D é um pró-hormônio esteróide. Em 1920 foi descoberto que para que uma crianças não tenham raquitismo a concentração plasmática de vitamina D precisa ser de no mínimo 20 ng/ml. Porém, a vitamina D não tem como função apenas a modulação de cálcio nos ossos. Mais de 80 reações dependem deste pró-hormônio. Durante a nova pandemia de SARS-COV-2 (conhecida por COVID-19) estudos têm demonstrado que pessoas deficientes em vitamina D apresentam mais infecção pelo vírus e maior mortalidade (Ilie, Stefanescu & Smith, 2020).

Contudo, estas alterações epigenômicas induzidas pela dieta são dinâmicas, ou seja, são frequentemente transitórias e reversíveis. Não adianta ter vitamina D um dia e não ter no outro. A vitamina D pode influenciar a cromatina (DNA, RNA e proteínas), pela ligação ao seu receptor (VDR).

Um estudo indiano publicado em 03/05/2020 mostrou que a vitamina D, associada ao medicamento antiparasitário Ivermectina, têm o potencial de combater a infecção por SARS-COV-2 (ou COVID-19). A combinação impede a entrada do vírus na célula. A vitamina D impede o funcionamento da RNA polimerase, que funciona como uma impressora, copiando o material genético viral (Dasgupta et al., 2020). Este estudo foi feito in vitro e não em humanos, por isso seu grau de evidência é baixo.

Mas outros estudos têm mostrado melhor recuperação em pacientes que fazem suplementação de vitamina D ou tomam sol (Alipio, 2020; Asyary & Veruswati, 2020). A razão principal é o controle da tempestade de citocinas (Daneshkhah et al., 2020). A importância da vitamina D para o sistema imunológico é medicamente indiscutível. Infelizmente, a maior parte da população mundial é deficiente neste pró-hormônio e, com o confinamento, a situação tende a piorar. Por isto, a suplementação tem sido indicada para aumentar os níveis de vitamina D no plasma para pelo menos 40 ng/ml.

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O gráfico a seguir faz parte de um estudo realizado na Indonésia com 780 pacientes. O mesmo mostra que pacientes com concentrações séricas de vitamina D baixa tem uma mortalidade altíssima, enquanto aqueles com concentrações de 40 tem mortalidade zero.

Quanto suplementar? Isto poderia ser individualizado por exame genético. O Projeto 1000 Genomas indicou que os indivíduos diferem, em média, de 4 a 5 milhões de SNPs (polimorfismos ou variações de nucleotídeos simples), cerca de 0,5 milhão de inserções ou deleções e até mil variações maiores de número de cópias. Embora a maioria dessas variações seja funcionalmente neutra, existem muitos milhares de locais em todo o genoma que aumentam o risco de doenças comuns ou mediam a capacidade de resposta a medicamentos.

Com base nos estudos de suplementação de vitamina D3 VitDmet e VitDbol sabemos que cada pessoa mostra uma resposta personalizada à ação da vitamina D3, podendo ser de altos, médios ou baixos respondedores. O VitDmet foi um estudo de intervenção de longo prazo usando suplementação diária de vitamina D3 (0-80 μg) em idosos pré-diabéticos durante 5 meses de inverno finlandês. O VitDbol avaliou os efeitos de uma única dose de vitamina D3 (2000 μg) em jovens e adultos saudáveis. Ambos os estudos indicaram que cerca de 25% dos participantes são de baixa resposta, ou seja, exibem um baixo índice de resposta de vitamina D. Pessoas que respondem com baixa vitamina D são mais vulneráveis ​​à deficiência de vitamina D. Para manter a homeostase da vitamina D em sua atividade ideal, estes indivíduos precisam de suplementação mais alta (talvez 50 a 100 μg) do que as que respondem melhor e precisam de apenas 10 a 20 μg/dia.

Atualmente, com a pandemia, temos indicados dosagens maiores de 5.000 a 10.000 UI ao dia para adultos acima de 50 kg (o dobro para obesos) e 100 a 200 UI por quilo de peso para crianças e adolescentes até 50 kg. Para pacientes com níveis muito baixos de vitamina D (abaixo de 20 indica-se dosagem de ataque de até 600.000 UI para adultos) recuperando de uma única vez os níveis (que passam de 17 para 77 ng/ml após 3 dias). A dosagem é segura. Níveis plasmáticos tóxicos são muito mais altos (cerca de 150 a 240 ng/ml ou mais).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/