Após o ataque de 11 de setembro nos Estados Unidos e o incêndio da boate Kiss no Brasil, forças-tarefa de assistência psicológica para vítimas e suas famílias foram rapidamente organizadas. No entanto, durante as pandemias, é comum os profissionais de saúde, cientistas e gerentes hospitalares concentrarem seus esforços predominantemente no patógeno e no risco biológico, em um esforço para entender os mecanismos e propor medidas para prevenir, conter e tratar a doença.
Nessas situações, as implicações psicológicas e psiquiátricas secundárias ao fenômeno, tanto no nível individual quanto no coletivo, tendem a ser subestimadas e negligenciadas, gerando lacunas nas estratégias de enfrentamento e aumentando a carga de doenças associadas.
Até o momento, o COVID-19 já infectou no mundo mais de 4 milhões de pessoas e matou mais de 286 mil. O Brasil é o 7o país em número de casos oficiais, devendo chegar ao topo da lista em pouco tempo se medidas adequadas não forem implementadas. Em número de mortes já está em 5o lugar na lista.
As incertezas, as confusões políticas, o atraso na implementação de medidas, a disseminação de medidas falsas, geram medo, um mecanismo de defesa e sobrevivência. No entanto, emoções fortes, quando crônicas ou desproporcionam, tornam-se prejudiciais aumentando o risco de transtornos de ansiedade, estresse e depressão. No momento, estima-se que o número de pessoas cuja saúde mental esteja afetada seja superior ao número de pessoas afetadas pela infecção. Além disso, transtornos mentais duram mais tempo, gerando impactos negativos, tanto psicossociais, quanto econômicos.
O fornecimento de primeiros socorros psicológicos é um componente de assistência essencial para populações vítimas de emergências e desastres. Contudo, no Brasil, um grande país em desenvolvimento com acentuadas disparidades sociais, baixos níveis de educação e cultura humanitária-cooperativa, não há parâmetros. para estimar o impacto desse fenômeno na saúde mental ou no comportamento da população.
Profissionais de saúde mental, como psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, devem estar na linha de frente, assumindo um papel de liderança, prestando assistência, estabelecendo protocolos, treinando equipes para lidarem com traumas e situações de estresse. O governo deve assegurar adequado número de profissionais e estrutura adequada para a prestação de serviços na área de saúde mental.
Individualmente devemos contiuar nos cuidando, entrando em contato com familiares e amigos, seguindo as recomendações de segurança da OMS, prestando atenção às nossas necessidades e sentimentos, meditando, pratincando yoga, comendo de forma saudável, limitando a exposição à notícias (quando isso estiver agravando o estresse), dormindo bem, mantendo a atividade física e buscando ajuda sempre que precisar.
Mais orientações no artigo publicado por pesquisadores de Porto Alegre (Ornell et al., 2020).