Plantas alimentícias não convencionais na síndrome de Down

Hoje no X Simpósio internacional sobre trissomia 21 (T21) o professor Joaci de Castro LIma falou sobre as plantas alimentícias não convencionais (PANC). Para quem ainda não ouviu falar de PANC vou expandir o tema.

As PANC são espécies de hortaliças que nascem pelos quintais, naturalmente no meio do mato, e diversas delas são utilizadas em pratos regionais. É o caso do jambu na Amazônia, da vinagreira cuxá no Maranhão, da taioba no Espírito Santo e da ora-pro-nóbis em Minas Gerais.

A situação de desuso da maioria das PANC pelos segmentos da sociedade acarreta em fragilidade com relação ao risco de perda desses materiais. De acordo com a FAO (2004), no decorrer de milênios o ser humano baseou sua alimentação em mais de dez mil diferentes espécies vegetais. Atualmente, entretanto existem menos de cento e cinquenta espécies sendo cultivadas. Destas, apenas doze atendem oitenta por cento de nossas necessidades alimentares; e mais ainda, apenas quatro espécies – arroz, trigo, milho e batata – suprem mais da metade de nossas necessidades energéticas. Muitas espécies que estão em desuso já se perderam ou estão vulneráveis. Só que são muito nutritivas e deveriam voltar a ser consumidas. Por quê? Quais seriam os benefícios

  • As PANC nascem muito facilmente, sendo consideradas por muitos como ervas daninhas;

  • Por nascerem espontaneamente, para muitos é gratuita, basta saber procurar por aí e coletar;

  • Possuem valor nutricional diferenciado, em especial devido a compostos nutracêuticos superiores aos encontrados nas hortaliças “convencionais”;

  • São muito resistentes e não precisam de fertilizantes e pesticidas para cultivo;

  • São muito diversas e para todos os gostos;

  • Sua distribuição é enorme por todo o Brasil:

    • como a vitória régia da região norte. Suas folhas têm propriedades laxantes e cicatrizantes. As flores, sementes e rizomas são comestíveis. Outra planta do norte é a alfavaca do campo, com aroma semelhante à da noz-moscada. Já o cumaru tem sabor parecido com o da baunilha. O coentro do pasto é usado como condimento, sendo ótimo quelante de metais pesados. A moringa possui muitas propriedades medicinais, quela também metais pesados e é rica em proteína, vitamina C, caroteno e cálcio. A batata ariá também é uma PANC popular do norte

    • Na região nordeste há o maracujá vermelho, cacto pé de mamão (parece a pitaya), hortelã do norte, inhame (uma PANC já muito popular pelo Brasil), o caruru (que é rico em vitamina C, B6 e fibras).

    • Na região Centro-Oeste: ora-pro-nóbis (muito usada como cerca viva, mas também é comestível e rica em zinco e ferro), urtigão, gabiroba, a semente baru

    • Na região sudeste: alho silvestre, feijoa (uma fruta), taioba (rica em fibras, cálcio, magnésio, boro, ferro e vitamina C), feijão espada e melão-andino, beldroega (hortaliça de porte pequeno, com alto teor de beta-caroteno, vitamina C (antioxidantes), magnésio, zinco e até ômega-3.

    • Na região sul: peixinho da horta, arumbeva (um cacto), begônia (que dá flores comestíveis) e mentruz.

Na síndrome de Down as PANC podem ser muito interessantes para variabilidade do cardápio, barateamento das refeições, além de aumentar o aporte nutricional de micronutrientes protetores e adequados para imunidade, redução de inflamação e glicação. Estes vegetais são muito ricos e zinco, vitaminas e fitoquímicos antioxidante e com propriedades antiinflamatórias.

O melhor livro para quem quiser aprender mais sobre as PANC é este aqui.



Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/