A doença celíaca é uma condição auto-imune que ocorre em indivíduos com predisposição genética, gerando uma permanente sensibilidade ao glúten. A ingestão de glúten, mesmo em pequenas quantidades, leva o organismo a desenvolver uma reação imunológica contra o próprio intestino delgado, provocando lesões na sua mucosa que se levam à diminuição da capacidade de absorção de uma série de nutrientes, especialmente ferro, cálcio, vitamina D. A eliminação do glúten da alimentação permite que o intestino regenere e o organismo se recupere.
O glúten é uma proteína encontrada em cereais como o trigo, o centeio, a cevada e o malte. A doença costuma manifestar-se entre o primeiro e o terceiro ano de vida, período em que muitos cereais são introduzidos na dieta das crianças. Os principais sintomas são gases, estufamento da barriga, ânsia de vômito, diarreia, irritabilidade, anemia, queda de cabelo. Quando estes sintomas não surgem algumas pessoas arrastam o problema por toda a vida, desenvolvendo deficiências nutricionais graves.
Quando a pessoa com doença celíaca continua a se expor ao glúten, o sistema imune reage produzindo anticorpos anti-transglutaminase, anti-endomísio e anti-gliadina:
Anti-transglutaminase (TTG) IgA e/ou IgG – apresentam uma óptima relação sensibilidade/especificidade;
Anti-gliadina (AGA) IgA e/ou IgG – indicado para crianças com menos de 4 anos pois não produzem anticorpos TTG;
Anti-endomísio (EMA) IgA – apresentam melhor especificidade, servem para confirmar o resultado positivo obtido nos TTG.
Contudo, existem pessoas celíacas que tem resultado negativo para estes exames. Mesmo assim, deverão passar pelo exame de biópisa intestinal caso haja suspeita clínica elevada para a doença. Em pacientes adultos mais graves, apesar dos anticorpos IgA não aparecerem no sangue, podem depositar-se na mucosa do intestino delgado (Salmi et al., 2006).
Quando uma pessoa com doença celíaca consome alimentos com glúten (como pão feito com farinha de trigo), ocorrem danos nas vilosidades intestinais. Alguns pacientes celíacos toleram 50 mg de glúten ao dia. Porém em outros quantidades mínimas (menos de 1 mg ao dia) já são suficientes para gerar atrofias intestinais (Biagi et al., 2004). Tais danos prejudicam a absorção de nutrientes e aumentam o risco de problemas de saúde como osteoporose, alguns tipos de câncer, doenças da tireóide e infertilidade.
Atualmente, o único tratamento para a doença celíaca é uma dieta sem glúten ao longo da vida. Infelizmente, alguns pacientes são não responsivos e os sintomas persistem, mesmo após a exclusão do glúten por 6 a 12 meses. Algumas causas para a resistência e recuperação incluem supercrescimento bacteriano ou de fungos, coexistência de outras intolerâncias alimentares e demora para início da dieta sem glúten. De fato, idosos que só foram diagnosticados tarde na vida costumam ter um pior prognóstico.
Pesoas mais sensíveis, além de eliminarem todo o glúten, precisarão eliminar também aveia, leite e derivados e suplementar probióticos para que possam melhorar. Mesmo assim, 18% podem continuar com sintomas e com atrofia de vilosidades (Hollon et al., 2013). O primeiro esforço é averiguar se houve contaminação da dieta com glúten. Por exemplo, o paciente pode ter ido a um restaurante self-service e escolhido feijão que havia sido engrossado com farinha. Outro esforço é eliminar da dieta os FODMAPs, alimentos fermentativos. Depois da eliminação e recuperação da mucosa serão feitos testes em que alimentos serão gradualmente reintroduzidos e mantidos ou não de acordo com a tolerância individual (Roncoroni et al., 2018).