Muitas pessoas precisam de terapia, adorariam fazer mas não possuem acesso a ela. Por isso, o autocuidado torna-se ainda mais importante. Escovar os dentes, pentear o cabelo, parar, respirar, tomar um banho, ir para cama mais cedo, dormir. Mas muitas vezes não é suficiente. Tem muita gente precisando de uma pausa do trabalho. Mas se parar de trabalhar, não paga as contas. Conheço muitas pessoas que não tiram férias há anos pois se pararem não conseguirão sustentar os filhos. Dezenas de pacientes não possuem plano de saúde. Faço trabalhos voluntários em associações de pessoas com trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down) e ouço relatos como: se eu faltar mais uma vez vou ser despedida, então se meu filho está doente, dou a ele um remédio, deixo na creche e rezo para não me ligarem.
Quando a vida diária gira em torno da luta pela sobrevivência, o estresse crônico instala-se. Você pode morar na mesma rua da academia e não ter tempo ou energia para ir (ou suporte para deixar o filho). As preocupações constantes aumentam o risco de depressão. A falta de tempo, a correria, o sedentarismo e a má alimentação aumentam o risco tanto de doenças físicas, quanto mentais. Enquanto isso, as culpas aparecem: “não estou sendo boa profissional/mãe/esposa/amiga…”.
Como ajudar
Terapia, massagens, spas, férias. Tudo isso seria maravilhoso, mas não cabe na vida e no orçamento de muita gente. Por isso, os conselhos que damos precisam levar em conta a realidade. Seguem aqui algumas estratégias que podem ajudar quem está à beira da exaustão:
Posso te ajudar? Ofereça algo prático: posso ficar com seu filho na tarde de terça-feira, posso fazer compras para você quando eu for ao supermercado, posso levar jantar para vocês no sábado…
Ofereça sua companhia. Vai andar na praia/parque/praça ou fazer outra atividade gratuita? Chame essa pessoa para ir com você.
Você conhece um vídeo de yoga/meditação/respiração para iniciantes fantástico? Convide seu amigo para praticar junto.
Você leu um livro fantástico e que será útil no momento dessa pessoa? Empreste (ou leia e discuta junto).
Sugira à organização sem fim lucrativo (ONG), bibliotecas, escolas, igrejas ou centros de saúde de seu bairro a organização de cursos de autocuidados para pessoas em situação de vulnerabilidade. Estas instituições podem ajudar de várias formas: encontrar comida, encontrar moradia, cuidados para crianças, aulas de pintura, música, yoga, meditação, técnicas de visualização para controle da ansiedade etc.
VOCẼ PRECISA PARAR? TENTE UMA DESSAS ATIVIDADES BARATAS:
Tome um banho mais demorado
Entre em contato com a natureza pelo menos uma vez por semana (sente em um gramado, ande no parque, perto de um rio ou praia). Não tem acesso seguro a um local livre? Sente-se, feche os olhos e imagine-se caminhando em um lugar lindo e aberto. Respire lenta e profundamente. Tente fazer diariamente.
Afaste-se de pessoas tóxicas. Não é crueldade, é autocuidado.
Priorize o que é importante.
Peça ajuda.
Escreva um diário.
Ouça música.
Ria.
Em sua cama, ao acordar e ao dormir, faça o exercício 5-4-3-2-1, evitando começar e terminar o dia já focada nos problemas.
O mundo não muda apenas com isso, mas o autocuidado nos muda, nos acalma, nos dá energia para continuarmos. Ainda temos que nos informar politicamente, debater, aprender a votar em pessoas que querem realmente mudar o mundo para melhor, a pensar no coletivo. Mas essa é outra história, para outro dia.