À pedidos responderei à uma dúvida encaminhada por e-mail. Casos de crianças que não comem são uma das queixas mais comuns das mães no consultório. Vamos lá:
"Olá ! Meu nome é Angela e tenho uma filha de 4 anos que me dá um trabalhão para se alimentar, vou ver se consigo montar um cardápio para ela , só que não gosta de quase nada, e o que ela gosta ela come tão pouco que não sei como não tem anemia, ela come cerca de 100gr por refeição quando come...Se vc puder fazer uma matéria especialmente para esse tipo de criança te agradeço muuuuito, Ah! Por causa da má alimentação ela ainda tem prisão de ventre te agradeço desde já. A minha bebê tem 105cm e 17kg. Obrigada. Mamãe preocupada."
A primeira coisa a se fazer é avaliar clinicamente a criança. É importante observar se a criança é ativa, alegre e inteligente e se está tendo as aquisições cognitivas esperadas para a faixa etária. considerar 4 anos e 6 meses para fins de avaliação. Quanto às medidas, me faltou a data de nascimento exata da menina porém até 4 anos e 7 meses tanto peso quanto estatura estão ótimas, ou seja, comendo a criança está! Só nos resta saber o quê. A fase pré-escolar (de 1 até os 5 anos e 11 meses) é caracterizada por uma diminuição da velocidade de crescimento daí a diminuição do apetite. Além disso, a criança tem frequentemente a atenção desviada para as atividades interessantes do dia-a-dia. Às vezes brinca tanto que não tem tempo para comer. Por este motivo momentos de inapetência não são considerados muito problemáticos se a criança estiver crescendo e se desenvolvendo dentro dos padrões esperados. Existe também a inapetência para chamar a atenção.
Esse tipo de comportamento demanda cuidados e atenções pois quando a criança percebe que a tática funciona é criado um círculo vicioso (geralmente envolvendo a mãe, que teme que o filho não coma e permite que o mesmo consuma alimentos de fácil aceitação como mamadeiras e iogurtes). A reversão do quadro exige paciência e algumas táticas devem ser adotadas:
- a criança deve se alimentar com um intervalo de 2 a 3 horas. Menos que isto só água para não comprometer o apetite para as refeições principais;
- a capacidade do estômago da criança não é muito grande nesta fase por isto as refeições devem ter um volume pequeno;
- a criança deve fazer pelo menos 6 refeições ao dia; - se houver recusa das refeições principais (almoço e jantar), retire o prato sem fazer comentários, porém não substitua-as pelos alimentos favoritos como leite ou mingau. Quando a criança sentir fome novamente ofereça a comida para que ela entenda que esta é uma refeição que tem que ser feita e não será pulada. A criança pode se rebelar no início mas não desista;
- tenha vegetais todos os dias no almoço e no jantar. O paladar da criança ainda está em formação. Mesmo vegetais que a criança não aceitou devem ser oferecidos repetidas vezes já que a adaptação a um novo alimento pode necessitar de até 20 exposições para ocorrer. É importante que a criança entenda que todas os refeições principais conterão um carboidrato (arroz ou batata ou macarrão), uma proteína (feijão e/0u carne, frango, peixe ou ovo), e fontes de vitaminas e minerais (hortaliças). Os pais devem fazer o mesmo pois a criança precisa seguir um modelo de confiança;
- sirva as refeições sem a presença de líquidos como sucos, e refrigerantes para que os mesmos não preencham o espaço que deve ser do alimento. Se a criança já estiver muito acostumada diga que ela poderá ingerí-los assim que acabar de se alimentar;
- guloseimas não devem ser utilizadas como recompensas ou castigos. A criança não deve vincular muito o emocional com a comida ou quando adolescente passará a comer sempre que estiver triste, cansada, estressada ou por outros motivos diferentes da fome. Saiba mais sobre o tema no curso online: Alimentação consciente, com Dra. Andreia Torres.
Quando a criança tem anemia ou deficiência de zinco é comum que tenha desinteresse pela alimentação. Neste caso não é manha e o desinteresse será geral e não só pela comida de sal. Como a mãe relatou no e-mail que está tudo bem com a criança acredito que o importante seja mesmo reeducar os hábitos da família já que uma alimentação saudável é importante em todas as faixas etárias. Com estas dicas acredito que o intestino da pequena também melhore. Com quatro anos a recomendação é que a criança ingira pelo menos 9 gramas de fibras ao dia para um bom funcionamento intestinal. O consumo de frutas deve ser diário (pelo menos 2 ao dia), assim como de verduras. As frutas devem ser mastigadas já que sucos tem pouquíssima fibra e, caso a criança não aceite as cruas comece pelas cozidas fazendo arroz com cenoura ou brócolis, bolinhos com verduras, feijão com beterraba etc. Espero que tenha ajudado. Um grande abraço!
Dra. Andreia Torres, nutricionista, especialista em nutrição esportiva, clínica e funcional, mestre em nutrição humana e doutora em psicologia clínica e cultura.