Os distúrbios do espectro autista incluem um grupo de deficiências no desenvolvimento neurológico que impactam negativamente a comunicação social, geram padrões ou comportamentos repetitivos e tipo ou hipereatividade sensorial.
O autismo é uma desordem ainda pouco compreendida e suas causas dependem da combinação de fatores genéticos e ambientais. Geralmente, o diagnóstico é feito por uma equipe interdisciplinar com base no DSM (5a edição) e inclui observarções comportamentais, entrevistas com pais ou cuidadores, história médica e até testes genéticos.
Os distúrbios do espectro autista são 5 vezes mais frequente em meninos do que em meninas. Possuem características diferentes do retardo mental ou da lesão cerebral. Contudo, 29% dos pacientes possuem distúrbios de ansiedade, 28% apresentam déficit de atenção ou hiperatividade e 28% outros distúrbios como falta de cooperação e hostilidade.
Dentre as causas ambientais atualmente sendo investigadas na etiologia dos distúrbios do espectro autista está a disbiose (desequilíbrio da flora intestinal), a qual acarreta em maior produção de toxinas, problemas gastrointestinais persistentes e inflamação crônica do organismo. A disbiose e a inflamação levam à maior permeabilidade intestinal, facilitando a entrada de toxinas, provenientes do metabolismo bacteriano e de fungos, na corrente sanguínea, o que pode aumentar a instabilidade do sistema nervoso.
O tratamento da disbiose envolve a reposição de probióticos e também a exclusão de alimentos que contenham proteínas sabidamente mais alergênicas, como o glúten e a caseína. A proteína glúten está presente em alimentos feitos com aveia, centeio, cevada e trigo. Assim bolos, tortas, biscoitos, massas e pizzas quando feitos com estas matérias primas devem ser eliminados da dieta daqueles que tenham disbiose/hiperpermeabilidade. A caseína é a proteína do leite dos mamíferos. Uma dieta livre de caseína deverá excluir o leite e todos os seus derivados como queijo e iogurte.
Com esta dieta, pesquisadores, pais, médicos e nutricionistas muitas vezes relatam melhoras significativas nos sintomas dos indivíduos com distúrbios do espectro autista. Porém será que a dieta realmente ajuda?
O que se sabe até agora:
O glúten e a caseína contém proteínas que ao serem digeridas tranformam-se em compostos opiáceos com poder de gerar uma certa dependência. Estes compostos são as gluteomorfinas e caseomorfinas.
Alguns indivíduos autistas (20%) apresentam sintomas gastrintestinais como diarréias frequentes. O intestino destes indivíduos também costuma ser mais permeável causando uma absorção dos compostos opiáceos. Quando os indivíduos apresentam esta absorção exagerada a quantidade de compostos opiáceos na urina é bastante aumentada.
Tais compostos atingem o cérebro causando estados mentais compatíveis com intoxicação por drogas opiácias, como a morfina, a codeína e a heroína. Estudos mostram que camundongos que receberam doses elevadas de caseomorfinas tiveram áreas do cérebro alteradas. Porém não tenho conhecimento de nenhum estudo que comprove que caseomorfinas e gluteomorfinas possam causar sintomas do autismo em seres humanos.
Mesmo assim, alguns estudos mostram que quando a caseína e o glúten são removidos da dieta os indivíduos não mais sentem os efeitos dos compostos opiáceos e seu comportamento melhora significativamente. Outros estudos não mostram nenhuma relação entre dieta e autismo.
Pesquisas controladas estão sendo realizadas no momento e devem estar disponíveis até o próximo ano.
O uso de probiótico tem sido utilizado com sucesso para a modulação
Como os autistas possuem distúrbios do processamento sensorial isto afeta a oralidade. Assim, muitas crianças podem ingerir substâncias como areia, terra, papel etc, que acabam afetando o funcionamento intestinal e que não estão necessariamente ligados à dieta.
Caso queira testar a dieta livre de glúten e caseína:
O instituto de pesquisa sobre autismo, estabeleceu um tratamento que inclui a dieta livre em glúten e caseína ara indivíduos autistas. De acordo com o instituto todo indivíduo autista deve testar a mesma por pelo menos três meses. Porém consulte um nutricionista pois a retirada de alguns alimentos deve ser feita em substituição a outras para que a criança não desenvolva nenhuma deficiência nutricional. Geralmente o processo se inicia com a remoção de um alimento por vez para que se saiba qual estava causando mais problemas. Por exemplo, como primeiro passo o leite de vaca pode ser substituído por leite de soja ou suco fortificado com cálcio. Um mês após a eliminação do leite e de seus derivados inicia-se a eliminação do glúten. A dieta exige bastante paciência e colaboração de familiares e professores já que todos os ingredientes de alimentos industrializados devem ser lidos afim de detectar a possível adição de caseinatos, lactose, aveia, trigo, farinha de trigo, farelo de trigo etc. Nossa legislação ainda obriga as indústrias a incluir nos rótulos as frases: "contém glúten" ou "não contém glúten". Procure por lojas que vendam alimentos livres de glúten e caseína e também por receitas para que a dieta não fique muito monótona. Para receitas sem glúten: http://www.acelbra-rs.org.br/receitas.asp Alimentos permitidos incluem arroz, quinoa, batatas, farinha de milho, soja, frutas, vegetais, feijão, tapioca, carnes, peixes e ovos.
Resolvendo dois problemas comuns:
- "Leite e pão são os alimentos que meu filho mais aceita. O que fazer? Se eu retirá-los ele pode emagrecer." Caso seu filho seja uma das crianças que apresenta grande absorção de compostos provenientes do glúten e da caseína é importante que se teste a dieta. Após um primeiro período de insatisfação seu filho se tornará mais confortável com outros alimentos. Faça pães, bolos e outros alimentos que não levem leite e trigo. Lista de alimentos sem glúten: http://www.acelbra.org.br/2004/alimentos.php
Você também pode ligar para o serviço de atendimento ao cliente das empresas alimentícias e solicitar uma lista dos alimentos sem glúten fabricados por eles.
- "Como eliminar o leite?" O leite de vaca é um alimento que tem uma composição adequada para o bezerro mas não para seres humanos. Seu principal ponto forte é seu conteúdo alto em cálcio. Porém o mesmo pode ser adequadamente adquirido com uma ingestão apropriada de vegetais verde-escuros e castanhas. Várias marcas de leite de soja também contém fortificação com cálcio. Caso seu nutricionista ainda considere sua ingestão insuficiente poderá prescrever um suplemento. Leia sempre os rótulos pois o leite está presente em vários alimentos industrializados, procure pelas palavras leite, leite em pó, caseína e lactose.
MARQUE SUA CONSULTA pois a exclusão de alguns grupos de alimentos deve ser acompanhada de suplementação de determinados nutrientes. Por exemplo, a exclusão de laticínios exige maior cuidado com vitamina D (Marí-Bauset et al., 2015) e cálcio.
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