Vitaminas do complexo B reduzem incidência de doenças cardiovasculares?

A homocisteína é um aminoácido relacionado por vários autores como um fator de risco para as doenças cardiovasculares. A associação entre a concentração plasmática de homocisteína e a aterosclerose pode ser explicada por diferentes mecanismos, tais como efeitos sobre o endotélio, sobre a síntese das prostaglandinas ou por aumento na agregabilidade plaquetária. Tais efeitos produziriam alteração nos fatores de coagulação, no sentido de favorecer um estado pró-trombótico.

A excreção da homocisteína através da urina depende da presença de vitamina B6. A homocisteína tambem pode ser convertida no aminoácido metionina. Esta conversão depende das vitaminas B12 e do folato. Como estas vitaminas são co-fatores essenciais no metabolismo da metionina por algum tempo se pensou que a suplementação de vitaminas do complexo B reduziria o risco de ataques cardíacos.

Porém estudos recentes mostram que apesar da suplementação realmente reduzir os níveis da homocisteína no sangue, esta redução não reduz o número de óbitos ou de outros eventos cardiovasculares. No dia 04 de setembro o estudo WENBIT (Western Norway B vitamin intervention trial) foi apresentado no Congresso da Sociedade Européia de Cardiologia). Nesta pesquisa 3090 pacientes com doença cardiovascular prévia, principalmente angina estável, foram divididos em quatro grupos. O primeiro recebeu suplementação de folato, o segundo suplementação de B12, o terceiro de B6 e o quarto recebeu um suplemento que não continha nenhuma das vitaminas anteriormente citadas. Durante 38 meses não houve diminuição significativa no risco de morte em nenhum dos grupos.

As concentrações médias de homocisteína no início do estudo eram de 10.8 µmol/L. No grupo fortificado com folato, este valor baixou em 28% e permaneceu inalterado nos outros grupos. Durante o estudo os pacientes também continuaram sendo medicados com as drogas habituais como anti-hipertensivos, estatinas e ácido acetilsalicílico. Mesmo com a suplementação e o uso de medicamentos um total de 411 participantes tiveram pelo menos um dos episódios: infarto agudo do miocárdio não fatal, infarto fatal, angina instável, derrame não fatal.

Dentro os pacientes que sobreviveram aos eventos não houve diferença significativa entre os grupos que recebiam ou não folato ou vitamina B6. Ou seja, não existe até o momento evidências de que a suplementação de vitaminas do complexo B podem reduzir as doenças cardiovasculares e o número de mortes em pacientes com doenças prévias e por isto, o uso destas vitaminas é injustificado.

Para saber mais: http://www.escardio.org

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/