Artigo publicado por Newis em 2025 discute a remissão de um paciente com diagnóstico de esquizofrenia com a terapia nutricional cetogênica. A dieta foi proposta pois o homem de 32 anos não obteve melhorias com o tratamento medicamentoso e apresentava elevado desgaste social e psiquiátrico (internações frequentes, uso de cannabis, estado de sem-abrigo) .
A proposta foi a adoção de uma dieta cetogênica estrita carnívora (apenas carne e gordura), com o apoio de um nutricionista especializado em Terapia Metabólica Cetogênica (KMT). Isto é muito importante pois a dieta é estremamente restrita. Metabólitos urinários precisam ser acompanhados e a suplementação adequada deve ser realizada a cada momento.
Fundamentação científica
A esquizofrenia está associada a disfunções metabólicas: resistência à insulina, inflamação, estresse oxidativo, disfunção mitocondrial, desequilíbrios glutamato/GABA, disbiose intestinal, deficiências nutricionais, como de niacina.
Dietas cetogênicas geram cetose nutricional (com aumento de β-hidroxibutirato acima de 0,5 mmol/L), que pode beneficiar estes mecanismos.
O paciente já havia passado por tratamentos com amisulprida, mirtazapina e propranolol, sem melhora clínica significativa. Durante internações, já havia experimentado dietas cetogênicas parciais, com piora emocional após ingestão de carboidratos.
Após alta, iniciou dieta carnívora cetogênica com orientação profissional (2 refeições/dia, proporção gordura:proteína 2:1), monitoramento diário de glicemia e cetonas (alvo: 2–4 mmol/L), atingindo níveis de 1–5 mmol/L com excelente aderência ao longo de 9 meses.
Houve remissão completa da esquizofrenia confirmada pela equipe de saúde mental (ausência de sintomas psicóticos por > 9 meses). Foi possível a suspensão total da medicação psiquiátrica e revogação da ordem de tratamento compulsório no início de 2025 .
O paciente relatou melhora substancial na qualidade de vida e estabilização emocional, considerando a dieta uma questão de “sobrevivência” e evitando recaídas .
⚖️ Pontos fortes e limitações
Pontos fortes:
Monitoramento diário em ambiente usual, sem internação.
Apoio profissional especializado.
Motivação alta do paciente, sem reuniões intensivas na instituição psiquiátrica.
Limitações:
Ausência de medidas quantitativas padronizadas (e.g., escalas PANSS, GAD-7, DASS‑42).
Estudo singular (um paciente), sem grupo controle.
Possibilidade de deficiências nutricionais (e.g., tiamina, niacina, magnésio, vitamina C).
Incertezas sobre segurança a longo prazo e fatores externos (como remoção de glúten) também potenciais contributores .
Implicações clínicas e futuras
O relato mostrou que a dieta cetogênica, mesmo sob condições adversas, pode ser viável e eficaz como coadjuvante em transtornos psiquiátricos graves.
O paciente deve continuar seu acompanhamento psiquiátrico, juntamente com o apoio de um nutricionista especialista na área, durante o processo. É ideal que faça exames metabolômicos no início e após 6 meses de dieta. Os exames permitem rápidas correções metabólicas.
Alterações nos níveis de niacina em pacientes com esquizofrenia
Pacientes com esquizofrenia frequentemente apresentam alterações significativas nos níveis de niacina, que podem estar relacionadas a vários mecanismos e respostas biológicas. Aqui estão as principais descobertas dos estudos:
Anormalidade da Resposta à Niacina: a resposta de rubor cutâneo à niacina é anormalmente atenuada em um subconjunto de pacientes com esquizofrenia. Essa resposta é usada como um potencial marcador endofenótipo para esquizofrenia, indicando um defeito na sinalização fosfolipídica [1].
A anormalidade da resposta à niacina (ARN) foi encontrada em 31% dos pacientes com esquizofrenia, com uma especificidade de 97% para a doença.
Sensibilidade prejudicada à niacina: encontrada em aproximadamente 30% dos pacientes com esquizofrenia. Essa resposta anormal pode servir como um endofenótipo útil para esquizofrenia [2].
Fatores Genéticos e Familiares: a resposta prejudicada à niacina é mais pronunciada em pacientes com esquizofrenia e seus parentes de famílias com maior carga genética para esquizofrenia. Isso sugere um componente genético para a anormalidade da resposta à niacina [3].
Canabinoides e Metabolismo Lipídico: O uso prolongado de cannabis afeta as vias lipídio-ácido araquidônico, que já são vulneráveis na esquizofrenia. Essa interação pode alterar ainda mais a sensibilidade à niacina [5].
Dieta inadequada: Pacientes com dietas mais pró-inflamatórias, que estão associadas à redução da ingestão alimentar de niacina, entre outros nutrientes. Esse padrão alimentar pode contribuir para os processos inflamatórios associados à esquizofrenia [6].
Há uma associação entre a resposta à niacina e o desequilíbrio inflamatório em indivíduos com alto risco de psicose. A resposta à niacina pode prever a conversão para psicose melhor do que as citocinas inflamatórias periféricas [4].
A dieta cetogênica também é eficaz em outros transtornos mentais
Estudos também mostram a aplicação da dieta cetogênica no transtorno bipolar e no transtorno depressivo maior, em pacientes não respondentes à medicação e psicoterapia.
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Referências
1) JK Yao et al. Prevalence and Specificity of the Abnormal Niacin Response: A Potential Endophenotype Marker in Schizophrenia. Schizophrenia bulletin (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26371338/
2) R Gan et al. Replication of the abnormal niacin response in first episode psychosis measured using laser Doppler flowmeter. Asia-Pacific psychiatry : official journal of the Pacific Rim College of Psychiatrists (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35652467/
3) SS Chang et al. Impaired flush response to niacin skin patch among schizophrenia patients and their nonpsychotic relatives: the effect of genetic loading. Schizophrenia bulletin (2008). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18203758/
4) T Zhang et al. Association of Attenuated Niacin Response With Inflammatory Imbalance and Prediction of Conversion to Psychosis From Clinical High-risk Stage. The Journal of clinical psychiatry (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37471530/
5) S Smesny et al. Cannabinoids influence lipid-arachidonic acid pathways in schizophrenia. Neuropsychopharmacology : official publication of the American College of Neuropsychopharmacology (2007). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17314920/
6) HY Cha et al. Higher Dietary Inflammation in Patients with Schizophrenia: A Case-Control Study in Korea. Nutrients (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34199231/