Compostos psicobióticos

Intestino e cérebro influenciam-se mutuamente. Quanto mais saudável e diversa a microbiota intestinal, menores são as alterações negativas emocionais, cognitivas e neurais.

A ecologia microbiana pode ser modificada terapeuticamente através da ingestão dos chamados 'psicobióticos', compostos ativos que são capazes de atuar no sistema nervoso, moldando consequentemente os processos e comportamentos psicológicos, exercendo benefícios à saúde em pessoas com problemas psiquiátricos.

Os psicobióticos têm efeitos ansiolíticos e antidepressivos e incluem substâncias com capacidade de libertar substâncias neuroativas (como algumas bactérias probióticas). Por exemplo, membros do gênero Bacillus aumentam a produção de GABA , o gênero Bifidobacteria produz serotonina, enquanto os gêneros Enterococcus e Streptococcus, aumentam noradrenalina e serotonina, lactobacillus liberam GABA e acetilcolina.

Além de probióticos, fibras prebióticas foram recentemente classificados como psicobióticos. Estas fibras alimentam seletivamente as bactérias intestinais benéficas, consequentemente estimulando seu crescimento e atividade com efeitos notáveis no desenvolvimento e função cerebral.

Os prebióticos incluem oligossacarídeos, frutanos, ácidos graxos insaturados, polifenóis e fibras alimentares. Por exemplo, a administração de oligossacarídeos de leite demonstrou prevenir disbiose induzida por estresse e comportamento semelhante à ansiedade em camundongos.

Da mesma forma, a suplementação crônica combinada de FOS e GOS exibiu efeitos ansiolíticos e antidepressivos, bem como uma redução na resposta ao estresse da corticosterona em camundongos.

Foi demonstrado que prebióticos modulam a expressão gênica do hipocampo e induzem alterações na concentração de ácidos graxos de cadeia curta, que se correlacionam positivamente com os efeitos comportamentais.

Em bebês de 12 meses de idade, a administração de uma combinação de B. longum (BL999), L. rhamnosus, inulina, fruto-oligossacarídeos (FOS) e LCPUFAs por um ano resultou em pontuações mais altas, embora não significativamente diferentes, em cognição e comportamento adaptativo.

Os efeitos da ingestão de prebióticos também foram investigados em meninas adolescentes. O consumo adequado de fibras selecionadas reduz os níveis de ansiedade e melhora a capacidade de processamento emocional. Sabemos que uma dieta feita por 4 semanas, contendo mais fibras prebióticas, já proporciona muitos efeitos positivos no humor.

Os psicobióticos também podem atuar no cérebro através da modificação da dinâmica metabólica. Por exemplo, eles podem modular a disponibilidade de triptofano, o que tem um impacto na via da quinurenina, responsável por 90% da metabolização deste aminoácido.

Disfunções nesta via aumentam o risco de autismo de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. A nutrição adequada na gestação e no início da vida influenciam nas trajetórias de neurodesenvolvimento.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

PRINCIPAIS ESPÉCIES DE BACTÉRIAS BOAS NO INTESTINO

Existem entre 10 e 100 trilhões de microrganismos no seu intestino, de milhares de espécies diferentes. Cada uma das diferentes espécies tem suas funções.

Espécies de bifidobactérias

As bifidobactérias revestem as paredes do intestino grosso, onde ajudam a protegê-lo contra bactérias nocivas, leveduras e outros microorganismos. Sabe-se que o corpo humano é colonizado naturalmente por 14 cepas diferentes de Bifidobacteria, incluindo B. infantis que é o principal (às vezes único) microrganismo em bebês alimentados com leite materno, e uma grande parte dos microrganismos encontrados no intestino grosso de idosos.

Esta espécie de bactéria produz ácido lático, que ajuda a manter o intestino grosso ácido e desencoraja o crescimento de bactérias nocivas. Também melhora a barreira natural do intestino e facilita a absorção de nutrientes e minerais do corpo. Bifidobacterium também produz vitaminas do complexo B e vitamina K.

Espécies de Lactobacillus

São as bactérias mais importantes encontradas no intestino delgado, onde produzem a enzima lactase, que decompõe a lactose (o açúcar encontrado no leite e produtos lácteos). Eles também produzem ácido lático, fermentando carboidratos, o que ajuda a diminuir o pH do intestino e desencoraja o crescimento de microorganismos nocivos. Melhoram a absorção de minerais importantes, incluindo ferro, cálcio e magnésio.

Espécies de Bacillus

São um grupo muito diversificado, representando espécies que são encontradas naturalmente no solo, na água e no ar. Podem produzir uma infinidade de compostos bioativos úteis, incluindo biossurfactantes e enzimas. Eles também são excepcionalmente estáveis, capazes de se adaptar e sobreviver a uma ampla variedade de ambientes. Por causa disso, são muito usados na produção de alimentos, incluindo alimentos fermentados como kombucha, kimchi e chucrute.

Saccharomyces

Grupo de leveduras comumente encontradas em humanos, mamíferos, vinho, cerveja, frutas, árvores, plantas e solo. Vários membros deste grupo são importantes na produção de alimentos e bebidas, devido à sua capacidade de criar enzimas bioativas que fermentam diversos carboidratos. Muitos membros de Saccharomyces podem formar matrizes simbióticas com bactérias, e muitos também foram observados colonizando o trato digestivo de humanos e animais após o consumo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Uso de probióticos no autismo

Muitas crianças no espectro do autismo experimentam problemas intestinais. Estudos mostram que pais de crianças no espectro relatam 4 vezes mais problemas gastrointestinais do que aqueles cujos filhos não estão no espectro. Um dos principais problemas é a disbiose intestinal, um desequilíbrio entre as bactérias boas e ruins no intestino.

Este desequilíbrio é muito comum quando a dieta é restrita, com baixo teor de fibras e fitoquímicos. Outros motivos comuns para a disbiose são o consumo excessivo de proteína animal (carne, leite, ovo, queijo), alimentos ultraprocessados e açúcares.

A suspeita de disbiose ocorre quando há sintomas como náuseas, vômitos, excesso de gases, arrotos, distenção abdominal, períodos alternados entre diarreia e constipação intestinal, fezes mal formadas. O diagnóstico pode ser confirmado com testes laboratoriais, como:

  • Zonulina fecal: valores aumentados indicam hiperpermeabilidade intestinal. Saiba mais neste outro artigo.

  • Indican: exame de urina que avalia indoxil sulfato, um produto de putrefação resultante da desconjugação bacteriana do triptofano dietético em indol no intestino delgado. Níveis elevados de Indican estão diretamente associados à atividade bacteriana nos intestinos. Indicam toxemia intestinal ou supercrescimento de bactérias anaeróbicas, putrefação de alimentos não digeridos nos intestinos, distúrbios estomacais (constipação, má absorção), distúrbios intestinais e insuficiência pancreática.

  • Metabolômica: muitos outros metabólitos produzidos por bactérias intestinais podem ser estudados. O mais fácil é coletar esta amostra da urina. Este artigo discute os principais metabólitos para quem deseja pesquisar disbiose.

  • Microbioma intestinal: é um teste genético que tem como objetivo identificar todas as bactérias presentes na flora intestinal. Esse exame é feito ao esfregar um swab (cotonete) nas fezes, logo após a eliminação, e colocando o cotonete em um tubo, que é entregue ou enviado para o laboratório para fazer a análise.

  • Prova do hidrogênio expirado: esse exame é feito para identificar a presença de gases produzidos pelas bactérias do intestino. Para isso, a pessoa deve beber uma solução de glicose e, logo em seguida, respirar em um equipamento para que seja feita uma análise do ar expirado. Caso o exame indique grande ou pouca quantidade de gases, é sinal de desequilíbrio da microbiota intestinal.

O objetivo final do uso de probióticos para o autismo é estabelecer um intestino saudável - e a base de um intestino saudável está nos alimentos que ingerimos. Portanto, embora concentremos nossa atenção nos probióticos, é importante lembrar que eles servem para complementar uma dieta saudável, cheia de fibras e rica em nutrientes. Falo mais sobre este tema nesta aula de 1 hora sobre nutrição no TEA:

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/