Nutrigenômica e envelhecimento

O envelhecimento é um processo dinâmico inevitável. Faz parte do desenvolvimento biológico. Caracteriza-se pela degeneração ou perda de função no organismo, nos níveis celular e molecular. O problema é que muita gente envelhece mais rápido do que o necessário. Com isso, as células senescentes começam a afetar as células circundantes, o que aumenta o risco de doenças como câncer, pelo aumento da secreção de citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias, vários fatores de crescimento e proteases. Esta cascata de fatores associados ao envelhecimento é conhecido como fenótipo secretor associado à senescência (SASP).

Conforme envelhecemos o cuidado com a dieta precisa aumentar

Quando somos jovens o reparo celular é fácil. Cortes cicatrizam mais rápidos, o resfriado dura menos tempo. Conforme as células envelhecem todo o reparo é dificultado. E, sem nutrientes em abundância, este processo vai tornando-se cada vez mais lento e imperfeito.

A nutrição pode proteger ou não. Nutrientes entram em contato com nosso DNA ligando ou desligando genes. Assim, irmãos genes podem ter riscos diferentes de doenças crônicas (por exemplo, câncer, obesidade e diabetes) dependendo da forma como alimentam-se.

Existe também uma ligação epigenética indireta entre nutrição e longevidade. O estudo da epigenética abrange todos os processos que induzem mudanças hereditárias na expressão gênica sem alteração na sequência de nucleotídeos do DNA. Os principais mecanismos epigenéticos são a metilação do DNA (DNAm), modificação de histonas e RNAs não codificante. Tais processos estão envolvidos na regulação da expressão gênica, diferenciação celular e imprinting genômico.

A desregulação epigenética é frequentemente observada com o envelhecimento, mas podemos melhorar muito a modulação da expressão genética com dieta adequada. É o que estuda a genômica nutricional. Fazem parte desta ciência a nutrigenômica e a nutrigenética.

Nutrigenômica e nutrigenética: dois lados de uma moeda

A interação gene-nutriente tem sido um assunto de interesse há muito tempo. A nutrigenética estuda o efeito das variações genéticas na resposta aos nutrientes. Já a nutrigenômica foca os estudos nos efeitos dos nutrientes na expressão dos nossos genes, produção de proteínas e outros metabólitos.

Mecanismos epigenéticos e proteção contra o envelhecimento

Dentre os processos epigenéticos fundamentais para a saúde: destacam-se: (1) metilação e (2) acetilação das histonas. A metilação é um processo epigenético de regulação da expressão do DNA. Consiste na adição de um grupo metil (CH3) na posição 5' do carbono da citosina dentro do dinucleotídeo citosina-guanina (CpG). A metilação do DNA também é um mecanismo fundamental para manutenção da integridade genômica.

Em células humanas um gene associado ao envelhecimento, (p16INK4a) não expressa-se quando seu sítio de ligação (E2F-1) encontra-se hipermetilado. Este mecanismo epigenéitco impede que o fator E2F-1 se ligue ao promotor, causando downregulation em p16INK4a, contribuindo para a longevidade. Isto acontece especialmente durante a restrição calórica. A restrição calórica também ativa os genes SIRT1 e HDAC1 afetados pela desacetilação.

Mecanismos epigenéticos protetores contra o envelhecimento são dependentes de nutrientes

Quando consumidos em grande quantidade na alimentação, seis nutrientes (folato, vitamina B12, niacina, vitamina E, retinol e cálcio) estão associados à redução do dano ao DNA.

A senescência celular é caracterizada por alterações como redução no comprimento dos telômeros, disfunção mitocondrial, distúrbios metabólicos, perda da homeostase proteica, alterações epigenéticas, etc. Tais alterações contribuem para o aumento da incidência de doenças neurodegenerativas, câncer e diabetes.

No vídeo acima você aprenderá formas de minimizar o decréscimo dos telômeros. Quando uma pessoa tem os telômeros mais longos, é porque ela tem mecanismos metabólicos que o protegem. Tabaco, obesidade, dieta pobre em antioxidantes estão entre os fatores que reduzem o comprimento dos telômeros. Pessoas mais isoladas socialmente também parecem ter telômeros menores, envelhecendo mais precocemente (Wilson et al., 2019).

Estresse oxidativo e atrito de telômeros estão associados a envelhecimento celular e maior risco de doenças crônicas

Mitocôndrias são nossas usinas energéticas. Pegam carbonos vindos da glicose, dos aminoácidos e dos ácidos graxos e produzem, junto com oxigênio, grandes quantidades de ATP, nossa moeda energética. São minúsculas, 4.000 vezes menores que a cabeça de um alfinete e ainda assim são gigantes metabólicos.

FUNÇÕES DAS MITOCÔNDRIAS

  • Produção de energia

  • Termogênese

  • Apoptose (morte celular programada)

  • Homeostase celular

  • Controle da insulina

  • Produção de espécies reativas de oxigênio (importante para geração de energia, para imunidade. Excesso acelera processo de envelhecimento)

  • Síntese de hormônios esteróides (estrogênio e testosterona)

  • Eliminação de toxinas como amônia e autofagia (digestão de seus próprios componentes danificados)

  • Síntese da proteína heme (que transporta oxigênio dentro das hemácias)

  • Síntese de RNA e DNA

  • Metabolismo de carboidrato, gordura, colesterol e neurotransmissores

  • Autofagia - processo pelo qual a célula consegue digerir seus próprios componentes danificados)

Causas da disfunção mitocondrial

Mutações genéticas são as principais causas de disfunção mitocondrial. Contudo, estresse oxidativo, uso de certos medicamentos, contato com toxinas (mofo, pesticidas, cigarro, metais pesados, poluição do ar), infecções, dieta hipercalórica, uso de estatinas, privação de sono, excesso de viagem de avião, síndrome fúngica, microbiota alterada (disbiose), doenças inflamatórias ou autoimunes, deficiência de micronutrientes e coenzima Q10, doenças crônicas como diabetes também influenciam o funcionamento mitocondrial.

A fadiga e a resistência insulínica são as primeiras características da disfunção mitocondrial. Contudo, o mau funcionamento mitocondrial também está associado a maior risco de aterosclerose, doença de Parkinson, dores exageradas, depressão, calcificação de vasos e doenças cardíacas, perda da visão (como no caso da doença hereditária LHON), problemas na fertilidade e alterações cognitivas ou falta de clareza mental (brain fog). O número de mitocôndrias e a qualidade do seu funcionamento determinam a longevidade humana. Quanto mais mitocôndrias funcionando a todo o vapor, mais energia, mais saúde e longevidade em geral.

Estimulo à produção de novas mitocôndrias

A biogênese mitocondrial é o processo de síntese de novas mitocôndrias dentro das células. Quanto mais mitocôndrias saudáveis, mais energia e saúde. Para o estímulo desta produção, a prática do exercício aeróbico intenso, restrição calórica, exposição ao frio, suplementação de alguns nutrientes e a adoção de uma dieta cetogênica são algumas das estratégias recomendadas. Vitaminas, minerais e compostos bioativos também são importantíssimos para a regulação da função mitocondrial.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/