Efeito neurotóxico de bactérias na esclerose múltipla

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória autoimune do Sistema Nervoso Central (SNC) impulsionada pela atividade inflamatória de células imunes periféricas e por células gliais. Existem causas genéticas e ambientais explicativas para a patogênese da EM.

Por que o intestino é importante?

Muitos estudos mostram que uma microbiota saudável reduz o processo inflamatório, inclusive cerebral. Cérebro e intestino estão ligados. Bactérias boas ajudam a modular processos imunológicos relevantes para a patogênese da EM. Mas antes precisamos entender como funciona o sistema imune:

Após se diferenciarem no timo a partir de precursores vindos da medula óssea, as células T migram para a periferia e ficam circulando entre os órgãos linfóides secundários. Quando reconhecem os antígenos derivados dos patógenos, através da interação com as células apresentadoras de antígeno (APCs), sofrem mais um evento de diferenciação, agora gerando células efetoras ou de memória.

Os linfócitos T CD4+, cuja função é auxiliar outros tipos celulares (T helper ou Th em inglês), podem se diferenciar em Th1, Th2, Th17 ou ainda outros subtipos, cada um deles secretor de um conjunto particular de citocinas. As células Th1, grandes produtoras de interferon gama (IFN-g), são necessárias para uma resposta efetora eficiente contra patógenos intracelulares, tais quais vírus e certos parasitas.

Sabe-se que a resposta imunitária inata, induzida pelos patógenos, é capaz de modular a resposta Th, direcionando-a para um ou outro subtipo. Na EM, as células T CD4 + podem se apresentar nos fenótipos pró-inflamatórios (células T auxiliares Th1 e Th17) em órgãos linfoides periféricos (canto inferior direito da figura acima). Quando as células T CD4 + pró-inflamatórias superam os mecanismos regulatórios (Treg), inicia-se a inflamação (inclusive no SNC).

Existem células apresentadoras de antígenos (APCs) no tecido linfóide associado ao intestino (GALT). As APCs apresentam antígenos derivados do intestino e promovem a diferenciação de células T CD4 +. Se a microbiota é saudável, as CD4+ se diferenciarão em subtipos capazes de suprimir a inflamação do SNC.

Ligação intestino - cérebro

O conceito de um 'eixo intestinal-SNS' foi apresentado há mais de 200 anos, quando médicos reconheceram que o estado gastrointestinal e mental estavam de alguma forma conectados. Contudo, apenas recentemente o avanço científico possibilitou a melhor compreensão destes mecanismos.

A disbiose intestinal tem mostrado-se frequente em pacientes com distúrbios neurológicos e psiquiátricos. E o pior, como muitos medicamentos pioram a microbiota e função intestinal, o paciente pode sofrer uma piora do quadro quando não é feita a modulação intestinal concomitante.

Em pacientes com EM é possível identificar a circulação maior de compostos neurotóxicos, oriundos de uma microbiota desequilibrada, incluindo p-cresol-sulfato, indoxil-sulfato e N-fenilacetilglutamina. A exposição crônica de neurônios a esses metabólitos prejudicou sua taxa de disparo e induziu dano axonal, independente da disfunção mitocondrial e do estresse oxidativo (Ntranos et al., 2021).

A disbiose intestinal também associa-se à desregulação do humor, redução da motivação e maior risco de autismo, depressão, ataxia, sintomas do autismo e esquizofrenia (Dalile et al., 2019)

Potenciais terapias direcionadas ao eixo intestino-SNC

  1. Redução da inflamação intestinal com dieta adequada livre de alimentos ultraprocessados e alergênicos, Um teste genético pode ajudar a definir melhor a melhor conduta.

  2. Modulação intestinal - intervenções voltadas ao reequilíbrio da microbiota são fundamentais e envolvem o uso de pré e próbióticos.

  3. Transplante fecal ou transplante da microbiota fecal - descrita pela primeira vez como "sopa amarela" este líquido diluído, derivado de fezes humanas era utilizado na China do século 4 para tratar intoxicações alimentares e diarréia. Em 1958, investigadores em Denver relataram pela primeira vez a administração bem-sucedida de fezes por enema para tratar enterocolite pseudomembranosa fulminante, doença infecciosa causada por Clostridium difficile

  4. Uso de antibióticos orais com o intuito de modular a microbiota intestinal. Contudo, estudos ainda são necessários para aprimorar a indicação sem causar disbiose.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/