DNA E RISCO PARA OBESIDADE NA SÍNDROME DE DOWN

Você sabia que alguns genes podem favorecer o quadro de obesidade? Na síndrome de Down o excesso de peso é ainda mais comum que no restante da população (Bertapelli et al., 2017). Além do ambiente contribui para este risco a herança poligênica que influencia a adiposidade corporal durante toda a vida (Khera et al., 2019).

O escore genético pode explicar a diferença de peso de até 13 kg entre uma pessoa e outra. Todos nós possuímos genes para a obesidade já que historicamente sobreviveu na história humana quem conseguiu reservar energia para uso em momentos de escassez de alimentos. Minha análise genética, por exemplo, mostra um risco relativamente alto de desenvolvimento de obesidade:

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Por exemplo, variantes de risco localizadas no FTO, um gene reconhecido por seu envolvimento no controle do apetite e no comportamento alimentar, parecem conferir risco de obesidade em crianças e adultos por meio de sua associação com maior frequência de ingestão de alimentos e maior preferência por alimentos com alto teor de gordura e energia .

Foi demonstrado que os polimorfismos no PPARɣ, um regulador da adiposidade e da homeostase da glicose, modulam as associações entre a ingestão total e total de gordura saturada, a circunferência da cintura mais alta e o acúmulo de gordura visceral, podendo, portanto, influenciar o risco de desenvolver síndrome metabólica.

Variantes no gene MC4R, um regulador chave do peso corporal, têm sido associadas a um risco aumentado de diabetes em indivíduos que com dieta inflamatória e síndrome metabólica naqueles que seguem uma dieta ocidentalizada rica em gorduras saturadas.

Mas seria possível modular nossa genética para redução do risco de sobrepeso e obesidade?  Em mim, em você e em pessoas com síndrome de Down? Sim, além da genética contribuem para o risco de obesidade aspectos como sedentarismo, alimentação hipercalórica, carga glicêmica da dieta, desequilíbrios hormonais, disbiose intestinal, inflamação, glico e lipotoxicidade etc.

Os avanços no perfil metabolômico promoveram uma nova onda de exploração científica para descobrir biomarcadores nutricionais que podem servir como alvos para prevenção e tratamento de doenças. Entre vários metabólitos, açúcares e acilcarnitinas têm sido implicados no metabolismo da glicose e na resistência à insulina. Acúmulo de acilcarnitina também é um reflexo do aumento do estresse oxidativo e da inflamação e tem sido consistentemente associado positivamente à obesidade e inversamente associado à ingestão de grãos integrais. Por outro lado, existem muitas evidências de que a dieta antiinflamatória, contendo açafrão da terra, gengibre, chá verde, pimenta vermelha, peixes ricos em ômega-3, alho, entre outros, devem compor a dieta dos pacientes que apresentam risco para desenvolver o sobrepeso.

Tratar a disbiose é muito importante já que há uma interação complexa entre a composição da dieta, nossos genes e o microbioma intestinal. Quanto mais desfavorável está a microbiota (ou flora intestinal) maior o risco de inflamação e acúmulo de peso. É observada maior diversidade microbiana entre indivíduos que consomem maiores quantidades de fibras de frutas, legumes e vegetais, seguindo um padrão alimentar mediterrâneo ou ocidental saudável.

A expressão gênica também é influenciada pela metilação do DNA, principalmente nos primeiros 1.000 dias de vida. A metilação é um potente mecanismo regulador epigenético e de fundamental importância para o controle da expressão genética, para a prevenção de doenças e boa qualidade de vida.

A metilação depende de nutrientes como folato, metionina, betaína e colina. Dietas ricas em ácidos graxos saturados e gorduras hidrogenadas induzem hipometilação de TNF e hipermetilação de PPARG, associados à inflamação e adiposidade. Fitoquímicos podem contrabalançar este efeito. Por isto a dieta deve conter uma variedade de alimentos de origem vegetal, ricos em catequinas, curcumina, quercetina, genisteína, resveratrol e sulforafano (Samblas, Milagro e Martínez, 2019).

Isto vale para todos mas é ainda mais importante na síndrome de Down uma vez que observam-se modificações no processo de metilação na trissomia do cromossomo 21 (Jones et al., 2013; Lim et al., 2019; Muthuswamy & Agarwal, 2016; Laan et al., 2020).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/