Dieta e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Agir antes de pensar, ter hiperfoco para algumas coisas e foco nenhum para outras, apresentar dificuldades de aprendizado ou memória, ser super desorganizado ou irritado. Estas são características que qualquer pessoa pode apresentar. Mas o conjunto é extremamente comum no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), uma desordem neuropsiquiátrica que tende a se manifestar entre o 6o e o 12o ano de vida. Alguns ou muitos dos sintomas diminuem ou desaparecem com o avançar da idade e, na vida adulta, o transtorno costuma ser muito mais brando, especialmente se tiver sido identificado e tratado precocemente.

Características principais

Pessoas com TDAH parecem ter alterações na região pré-frontal do cérebro, o que dificulta a produção de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina. A região pré-frontal é responsável pelo autocontrole, pela capacidade de atenção e foco, memória, regulação das emoções, organização, planejamento e pela flexibilidade mental.

Aspectos positivos comuns: expansividade, criatividade, independência, rapidez e agilidade mental, criatividade, jovialidade, interatividade social

Aspectos positivos comuns: expansividade, criatividade, independência, rapidez e agilidade mental, criatividade, jovialidade, interatividade social

Causas e diagnóstico

Acredita-se que o transtorno seja derivado de uma combinação entre causas genéticas (um ou ambos os pais também podem apresentar traços), congênitas (exposição a álcool, cigarro, medicamentos, agrotóxicos e outras toxinas durante a gestação), ou ambientais (contato com pesticidas, metais pesados, alimentos alergênicos, açúcar, carências nutricionais, poluição etc).

O diagnóstico do TDAH é complexo pois os sintomas e comportamentos podem se sobrepor e conviver junto com outras desordens nervosas. Além disso, o TDAH é um espectro, um continuum. Existe o estereótipo da criança muito levada e hiperativa, mas existem outras que são calmas, mas viajandonas, pouco concentradas. Existem aquelas também com um TDAH mais brando, enquanto outras vão estar no final do espectro necessitando de maior apoio e acomodações ou um maior conjunto de medicações para controle adequado.

Para o diagnóstico a equipe multidisciplinar (educadores, psicólogos, pediatras, neurologistas, nutricionistas) avaliarão questões relacionadas à primeira infância, marcos de desenvolvimento infantil, alergias, apetite, padrões de sono, altura e peso, hospitalizações prévias, problemas médicos, comportamentos diferentes do padrão. Instrumentos, como o questionário SNAP-IV podem ser utilizados também para auxiliar o diagnóstico. Além disso, neurologistas podem solicitar exames de imagem e outros para melhor compreensão do cérebro de cada paciente.

Tratamento tradicional e complementar

A medicina tradicional baseia o tratamento do TDAH na prescrição de medicamentos:

  • Drogas estimulantes, como metilfenidato (ritalina) e lisdexanfetamina - primeira opção para início do tratamento.

  • Drogas antipsicóticas: tioridazina ou risperidona - quando existem condições comportamentais específicas e atraso do desenvolvimento cognitivo.

  • Antidepressivos: imipramina, nortriptilina, atomoxetina, desipramina, bupropiona.

A terapia medicamentosa deve ser associada à psicoterapia, para acompanhamento dos aspectos comportamentais. Na terapia cognitivo-comportamental são reforçados comportamentos positivos e estimulados hábitos saudáveis para que o paciente encontre formas de lidar com situações de forma mais produtiva e aceitável no ambiente familiar, escolar e profissional.

A atividade física também é essencial para pessoas com TDAH (Hillman et al., 2014; Lambez et al., 2019). Meia hora ao dia de exercício de moderado a vigoroso tem um impacto positivo e mensurável na capacidade de foco e concentração, no humor, contribuindo para maior bem estar e melhor funcionamento geral.

Não fique sem tratamento. Nossa equipe de nutricionista e psicóloga podem lhe ajudar com muitas estratégias para que consiga navegar melhor pela vida. Agende sua consulta.

Yoga e meditação para redução da hiperatividade

Estudos recentes mostram que o treinamento da atenção pode ajudar crianças, adolescentes e adultos com déficit de atenção e hiperatividade. Yoga e meditação (ou práticas de atenção plena) contribuem ainda para a regulação hormonal, complementando a retirada de açúcar e outros tratamentos (como uso de medicamentos ou suplementos). Ninguém com déficit de atenção e hiperatividade vai conseguir entrar em uma sala e meditar por 1 hora, mas pode começar com 1 minuto, 2, 3 e ir progredindo até pelo menos 20 minutos diários.

Muitos profissionais de saúde e professores têm indicado a prática de yoga e meditação para toda a família. Isso mesmo, é uma jornada familiar. Pais que meditam e praticam yoga em casa estimulam os próprios filhos pelo exemplo. Mães que fazem o treinamento vêem o comportamento dos filhos melhorarem ao longo do tempo, resultando em uma melhor relação com os mesmos, o que por sua vez ajuda na melhoria dos sintomas de TDAH e também de autismo.

Alimentação adequada

A alimentação variada e saudável também é muito importante. Embora não exista a dieta do déficit de atenção e hiperatividade, vários alimentos podem afetar os níveis de energia e concentração das pessoas. Tudo em nosso corpo acontece pois existem nutrientes (aminoácidos, ácidos graxos, glicose, vitaminas e minerais), que proporcionam um funcionamento adequado das células, inclusive dos neurônios. Certas escolhas podem, portanto, parecem ser mais apropriadas para pessoas com TDAH:

  • Boas fontes proteicas. A proteína é essencial para a saúde do cérebro e desempenha um papel fundamental na produção de substâncias químicas cerebrais chamadas neurotransmissores, especialmente dopamina e noradrenalina. A inclusão de proteínas em uma refeição também evita picos nos níveis de glicose no sangue. Algumas pesquisas sugerem que esses picos aumentam a hiperatividade. Os alimentos ricos em proteínas incluem: carnes, aves, peixes, frutos do mar, soja, grão de bico, tofu, lentilha, ervilha, feijões de todos os tipos, nozes, castanhas e ovos.

  • Carboidratos complexos. A substituição de carboidratos simples (farinha branca, arroz branco, açúcar) por carboidratos complexos (massas integrais, arroz integral, aveia) reduz o risco de picos de açúcar no sangue. Esses tipos de carboidratos também suprem o corpo com energia de forma mais constante, contribuindo para o bom funcionamento do cérebro. Carboidratos complexos também estão presentes em frutas e verduras. Por exemplo, o consumo de banana antes de dormir pode ajudar em um sono mais reparador.

  • Vitaminas e minerais. Vários micronutrientes são fundamentais para o bom funcionamento nervoso, como ferro, magnésio, zinco, vitamina B-6 e vitamina D. Carências nutricionais podem piorar os sintomas do TDAH. A dieta variada é fundamental, já que não existe nenhum alimento completo. Boas fontes de ferro incluem carne bovina, feijão e tofu. O zinco está presente em frutos do mar e nozes. Folhosos verde escuros, sementes de abóbora, amêndoas e amendoim são boas fontes de magnésio. Ovos, batata, banana, salmão, frango, ameixa e avelã são fontes de vitamina B6. Tomar sol ou consumir alimentos fortificados é importante para garantir níveis adequados de vitamina D.

  • Ácidos graxos do tipo ômega-3. O cérebro é muito rico em gordura e requer ácidos graxos do tipo ômega-3 para um bom desenvolvimento, comunicação, regulação e redução da inflamação. Chia, linhaça, salmão e outros peixes gordurosos são boas fontes de ômega-3. Crianças com TDAH apresentam sintomas que muitas vezes sugerem níveis reduzidos deste tipo de nutriente. Estudos mostram que a suplementação contribui para uma melhora modesta desta sintomatologia, principalmente da capacidade de foco, atenção e memória.

Evitando a neuroinflamação

Adultos e crianças com TDAH podem se sentir melhor se limitarem ou evitarem alimentos que contribuem para a neuroinflamação gera alterações nervosas em várias áreas do cérebro e prejudica a produção de neurotransmissores (Dunn, Nigg & Sullivan, 2019).

A disbiose intestinal é um dos fatores a contribuírem para a neuroinflamação. Pedaços de bactérias ou de suas toxinas podem cair na corrente sanguínea, navegar até o cérebro gerando inflamação. Por isso, o tratamento da disbiose é fundamental, inclusive em mulheres que pretendem engravidar e em mulheres grávidas. Existem já muitas evidências de que um intestino inflamado contribui para um cérebro inflamado.

Alimentos a evitar

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  • Açúcar - o consumo de alimentos açucarados pode causar picos de glicose no sangue, o que pode afetar os níveis de energia. Alguns pais relatam uma ligação entre consumo de açúcar e a hiperatividade de crianças com TDAH. Lembre-se que o açúcar esconde-se em muitos outros alimentos e não só nos doces e refrigerantes. Observe seus filhos e observe-se também pois tudo na dieta é individual. É por isto que nem todas as pesquisas encontram esta conexão. De qualquer forma, mesmo que não melhore os sintomas do TDAH, limitar a ingestão de açúcar é uma opção saudável para todos, pois pode reduzir o risco de diabetes, obesidade e cáries.

  • Como vimos, outros carboidratos simples também devem ser evitados pois também promovem inflamação e picos de glicemia. O açúcar é um carboidrato simples - ou refinado. Outros carboidratos simples também podem contribuir para mudanças rápidas nos níveis de açúcar no sangue e as pessoas devem consumi-los apenas com moderação. Estes alimentos são fontes de carboidratos simples: pão branco, arroz branco massa branca, batatas sem casca, salgadinhos, refrigerantes, sucos, bebidas esportivas.

  • Cafeína - este é um assunto polêmico já que pequenas quantidades de cafeína podem beneficiar algumas pessoas com TDAH e seus níveis de concentração. No entanto, algumas pessoas metabolizam a cafeína lentamente, tornando-se mais agitadas e irritáveis. Além disso, a cafeína pode intensificar os efeitos de certos medicamentos para o TDAH, gerando mais reações adversas. Assim, contra-indica-se o consumo de café, chá preto, chá mate e refrigerantes a base de cola quando o tratamento envolver uso de medicamentos.

  • A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que as crianças evitem alimentos contendo aditivos químicos, principalmente corantes alimentares, pois podem piorar os sintomas do TDAH. Corantes são adicionados à gelatinas, doces, sucos, refrigerantes, iogurtes, salgadinhos, biscoitos. O ideal é uma dieta bastante natural, com o mínimo possível de alimentos ultraprocessados.

  • Alérgenos - Alguns pesquisadores afirmam que a remoção de alérgenos em potencial - como glúten, trigo, leite e soja - pode melhorar o foco e reduzir a hiperatividade. No entanto, a eliminação desses alérgenos provavelmente só beneficia aqueles que realmente têm alergia ou intolerância.

  • Suplementação mínima: associar Ômega-3 com TDAH Control all in one. Fazer modulação intestinal, sempre que necessário. Para individualização marque aqui sua consulta.

  • O ideal é agendar uma consultoria para avaliação pormenorizada da dieta. Até porque a exclusão desnecessária de alimentos pode contribuir para carências nutricionais. Assim, modificações devem ser acompanhadas por nutricionista, que indicará substituições apropriadas e suplemementação adequada, individualizada para cada caso.

Ainda não havia para mim ritalina - Gregório Duvivier

A primeira vez que tomei Ritalina eu entendi como é que as pessoas veem o mundo. Entendi que nem todo mundo vai buscar um copo d´água na cozinha e esquece o que foi fazer lá. Entendi que nem todo mundo tem dificuldade de se comunicar por telefone porque tudo o que os olhos veem chama a atenção e fica difícil prestar atenção só no ouvido quando um monte de coisa está acontecendo em frente aos olhos e a ligação termina sem que se tenha a menor ideia do que foi dito. Entendi que as pessoas normais olham pra tela de um computador e tudo o que elas veem é a tela de um computador, e não um portal pra procurar qualquer coisa no Google de dez em dez segundos. Aliás, quem inventou o segundo? Caramba, os sumérios usavam o sistema duodecimal porque contavam cada falange do dedo, excluindo o dedão. E eis que acabo de perder duas horas no fantástico mundo dos sumérios, que inventaram a escrita, as cidades e a cerveja. Benditos sejam os sumérios. Onde é que eu estava?

Confesso que nunca consegui estudar. Ao mesmo tempo sempre gostei de ler. No entanto, só consigo ler aquilo que não deveria estar lendo, como os sumérios, a pronúncia correta de Roraima (ambas são corretas, mas em Roraima se fala Roráima) e qual o analgésico que tem menos efeitos colaterais (dipirona - injustamente proibida fora do Brasil por motivos obscuros que cheiram a boicote da indústria farmacêutica, pronto: mais duas horas perdidas no vale da dipirona). Em toda a minha vida, acho que nunca estudei uma matéria da escola, nem sei ao certo como faz. Nunca consegui abrir um caderno e reler minhas anotações, e um dos motivos pra isso é que nunca fiz anotações, e nem sequer me lembro de ter tido um caderno. Passava as aulas muito ocupado: quando não estava tentando impedir o professor de dar aula, estava olhando pela janela, pensando em outra coisa.

A primeira vez que tomei Ritalina entendi o pessoal que sentava na primeira fila e grudava os olhos no quadro-negro, e assim permanecia até tocar o sino. Esse pessoal excêntrico que não ouvia o cachorro latir na casa ao lado da escola que o lembraria de um cachorro que morreu afogado uns anos antes, logo não sentia uma súbita vontade de chorar sabe-se lá por quê, e não precisaria começar a batucar pra pensar em outra coisa, esse pessoal que não era expulso de sala por estar batucando.

A última vez que tomei Ritalina foi quando percebi que já não consegui mais pensar em nada que eu não quisesse pensar. Foi quando percebi que minha cabeça tinha sido domesticada, e percebi que domar a cabeça é gostoso, mas não domar a cabeça é melhor.

Quando deixei de tomar Ritalina, voltei a pensar nos sumérios, e nos fenícios, no Fluminense, em tudo o que não importa e faz a vida valer a pena. Resumindo: em tudo o que é assunto de crônica. A Ritalina é a morte do cronista, esse diletante profissional.

Do livro Crônicas para ler em qualquer lugar. Ed. Todavia, 2019.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/